Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Delegado prossegue investigações sobre morte de Ana Lúcia

Edição nº 1172 - 25 Setembro 2009

A polícia civil, através do delegado Cézar Felipe Colombari está fazendo um minucioso trabalho de investigação para desvendar a morte da jovem mãe, Ana Lúcia Lino dos Santos, 21, encontrada morta em sua cama, virada de costas, vítima de um golpe de faca, na altura da clavícula direita, levando a crer que o autor seria destro. “Estamos na fase de oitiva das testemunhas, mas estamos esgotando todas as possibilidades de investigação, correndo atrás de todos os indícios que possam nos auxiliar”, disse.

Segundo o delegado, a Polícia trabalha com indícios e, para isso, há até uma certa facilidade no trabalho, mas havendo qualquer dúvida, afirmou, prevalece o interesse da sociedade. “Na dúvida, podemos indiciar ou imputar algum fato àquele que melhor se apresentar como suspeito. É diferente do Juiz que, na hora de dar a sentença, deve observar se há provas consistentes, para só assim poder condenar”, explicou.

 

Triângulo amoroso

De acordo com o delegado, no dia do crime, o marido, Aparecido dos Reis Oliveira, 33, teria descoberto o nome do amante de sua esposa, Ana Lúcia, que estava com as malas prontas dentro de casa, com certeza, para abandonar Aparecido. “Ela teria dito naquela noite que sairia de casa, por isso brigaram. As próprias crianças confirmaram essa discussão entre os dois, na noite anterior”, informou, com base no relato das testemunhas.

“Uma relação meio patológica que o marido, supostamente, teria pela mulher, a ponto de aceitar traições durante cinco anos. E o dia em que ela chegou e disse que iria embora, ele não suportou. Temos elementos nos dados que dizem que ele chegou ao ponto de aceitar que ela fosse morar com outro e, se não desse certo, que ela retornasse e que ele a aceitaria de volta”, informou mais.

Foram encontradas na casa de Aparecido, cartas de Ana Lúcia dizendo que queria sair dessa vida, chegando a pedir que Deus a levasse. “Por conta dessas cartas, se a faca estivesse no local do crime, a hipótese de suicídio não seria descartada”, ponderou o delegado. 

 

Arma do crime desapareceu

Segundo Colombari, o autor do crime teria tido relação sexual com a vítima e de forma apressada.  “Quem a matou teve relação sexual com ela e de forma apressada, porque percebemos que a roupa foi arrancada de forma violenta. E, no momento em que a matou, o autor teria usado a faca de cozinha da casa, a única que desapareceu da cena. Ele a golpeou no pescoço e a sufocou pela boca e nariz. O sangue vazou o colchão e fez uma poça debaixo da cama. Não há vestígios de luta e a faca não foi encontrada”, informou.  

No seu depoimento, o próprio marido, narra que naquele dia fez amor com a mulher duas vezes sem usar preservativo. “Ele afirma que quando saiu duas crianças estavam dormindo, a de quatro e de dez meses e a de dois anos estava com febre forte, mas já estava no berço. Ele conta ainda que saiu atrasado para o serviço naquela noite e que, ao sair, a mulher pediu que ele deixasse a porta da casa e o portão abertos, justificando que ela iria dar uma volta, mas pelos relatos até agora, ninguém viu Ana Lúcia depois das 9h30 da noite”, informou mais o delegado.  

Colombari disse ainda que, na oitiva das testemunhas pôde levantar que em todas as brigas do casal, o marido fazia referência ao pescoço. “Duas testemunhas declararam que, semanas atrás, ele teria colocado a faca no pescoço da mulher. As crianças, que foram encaminhadas à psicóloga, enquanto brincavam, iam conversando e também fizeram menção sobre as brigas dos pais. 'Papai e mamãe brigaram”; 'eles (as crianças) iriam morar com mamãe'; 'ninguém foi em casa'”, contou.

 

Vizinhos ouvem choro

Uma cena triste presenciada pelas crianças foi narrada pela filha mais velha de quatro anos, que acordou no meio da noite com o choro do irmão bebê de dez meses, possivelmente com fome. “Ela disse que passou a mão na mãe e tinha sangue, ela limpou a mão na cama, a marca de fato ficou ali. Ela acordou o irmão para ver. O menino de dois anos é uma criança muito ativa. Ele contou que passou a mão na mãe pra ver se estava viva...”, narrou o delegado.

Prosseguindo, contou que a filha pegou sua mamadeira e deu para o bebê parar de chorar. “Eu creio que as crianças choraram até dormir. A menina disse ainda à psicóloga que não conseguiu dormir, até escutar o galo cantar, quando lembrou que o pai sempre chegava em casa quando o galo cantava. Só aí conseguiu domir” – disse o delegado César Colombari.

De acordo ainda com o delegado, uma das testemunhas narrou que, por volta da 1h30 da madrugada, ouviu as crianças chorando e gritando: 'Não, mãe! Não, mãe!' “Com base nessa testemunha e no que as crianças disseram, tudo pode ter acontecido entre 21h00 a 1h30 da manhã. O laudo pericial vai dizer o horário da morte”, disse. 

Diz mais o delegado que não encontrou nenhuma testemunha que afirmasse que teria visto Ana Lúcia na rua, após as 21h20. “Sabemos que Aparecido saiu atrasado aquele dia para o serviço. Trabalhamos com a hipótese de que Ana Lúcia tenha sido morta por volta das 21h00. No depoimento, o marido afirma que quando saiu de casa duas crianças estavam dormindo e uma estava com febre forte”, afirmou. 


Ligações do celular

Outro fato que pesa contra Aparecido é que todas as ligações telefônicas do celular, realizadas no dia do crime, foram apagadas. “Não há nenhuma chamada realizada e nem recebida. Todas foram apagadas e ele alega que tem por hábito fazer isso. São vários indícios que levam a Aparecido, entretanto, não descartamos a presença de uma terceira pessoa na cena do crime. Por isso, até fazemos um apelo aos moradores do bairro: se alguém viu Ana Lúcia depois das 21h20, que se apresente para auxiliar nas investigações”, ressalvou. 

 

Confidente da esposa

Nos depoimentos narrados na Delegacia, Cézar Colombari soube de uma filha adolescente do amante, confidente de Ana Lúcia, que está com medo de alguma reação de Aparecido, porque a esposa lhe confiava tudo. “Segundo a menina, Aparecido ficou sabendo do nome do amante no dia do crime, fato que foi revelado pela própria esposa. Já Aparecido contou que sabia do amante há dois meses. Mas, segundo o delegado, as relações entre a esposa e o amante só se iniciaram há duas semanas.

Outro fato narrado pela adolescente ao delegado, diz respeito à uma separação consensual entre o casal. “No dia 2 de outubro, o marido iria fazer um acerto com a mulher. Ela ficaria com 25% da casa e iriam se separar. Este fato foi confirmando pelo próprio Aparecido. Ou seja, tudo que a adolescente falou foi verdade, o que prova que Ana Lúcia lhe contava tudo. Agora ela está com medo, alguma coisa há”, revelou o delegado. 

 

Em defesa de Aparecido

Em defesa de Aparecido dos Reis Oliveira está o fato, conforme argumentou, de ter trabalhado durante toda a noite na empresa onde foi contratado há um ano. Aparecido não fugiu e quer ver o crime desvendado. “Não quero falar, não. Já falei tudo a Polícia. Só quero saber quem fez isso. Espero que a Polícia descubra quem fez isso. É só isso que eu quero”, disse ao ET, em rápida entrevista, na porta de sua casa. 

No seu depoimento, Aparecido conta que esteve trabalhando durante toda a noite. Deixou a mulher viva em casa, que estava ciente do amante da mulher e que tinha aceitado que ela saísse de casa. Que estava tudo bem, que amava tanto a esposa, que preferia vê-la feliz com outro do que com ele, chegando a imputar ao amante a autoria do crime. Mas segundo o delegado, já ficou comprovado que o amante não estava na cidade desde sexta-feira.

Sobre o suposto fato de terem encontrado uma calça de Aparecido, suja de sangue, dentro da mochila que levou para o serviço, o delegado César Colombari explicou: “A roupa que dizem ter mancha de sangue é uma calça dele que estava em cima da cama junto com a roupa dela. No seu depoimento, Aparecido narra também que não é uma pessoa agressiva e que nunca bateu na esposa. Disse que aceitava numa boa”, mas os depoimentos mostram o contrário”, contradiz o delegado com base no relato das testemunhas.