Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Um pouco de duas irmãs Zezé e Terezinha, que é do Menino Jesus

Edição nº 1698 - 25 de Outubro de 2019

Quem tem irmãos sabe como é dividir todos os momentos e ter com quem compartilhar lembranças incríveis da infância. E foi exatamente isso, que o ET presenciou esta semana num bate papo com duas belas irmãs que, juntas, somam 176 anos:  Maria José Alves Magnabosco (Zezé) 86, e Terezinha do Menino Jesus Vieira, 90. Zezé e Terezinha são as duas únicas filhas dos saudosos Olívio Alves Figueiredo e Maria Madalena Ferreira. Ambas sacramentanas, aqui nasceram, cresceram, estudaram, se casaram e constituíram famílias. Dona Zezé ficou por aqui e Terezinha, há 73 anos, deixou Sacramento, primeiro para Barretos, onde residiu durante 63 anos e, os últimos dez, após a morte do marido, está com os filhos, em Campo Grande (MS). “Criei, eduquei e amei os dois, agora que eles façam o mesmo comigo”. Mas o vínculo fraternal nunca se perdeu. Da varanda da casa da av. Capitão Borges, onde Da. Zezé nasceu (Terezinha, um pouco mais acima, do outro lado da rua) passam a tarde, as duas trocando lembranças e amenidades... 

 

Minha primeira professora...

quem é que não se lembra de sua primeira professora. E quem é que não tem só palavras e lembranças boas dela. Vale dedicar essa entrevista em homenagem a todas as professoras pelo seu dia, no último 15 de Outubro. Dona Zezé tem na cidade uma grande história como professora por 40 anos, na EE Afonso Pena Júnior, onde se aposentou, depois de alfabetizar e ensinar milhares de estudantes. Ali, também construiu grandes amizades que, com a evolução natural da vida vão  partindo para os braços do Pai, mas todos estão na memória, que não anda lá essas coisas, com todo o direito de esquecer alguns detalhes... Mas vem logo à mente: Dona Corália, a primeira diretora com que trabalhou, Marileia Maluf, Leda Borges e as colegas de Magistério, Doralice, Aparecida Miranda, Maria do Carmo e a vizinha Agnes.

Mas dona Zezé...

não foi apenas professora, foi esposa de Sílvio Magnabosco (in memorian) que juntos criaram três filhos, Madalena, Silvinho (falecido), Renata e Viviane, filhos que lhes deram cinco netos e dois bisnetos. E hoje curte, diariamente, a vida ao lado das filhas e netos, na mesma casa onde nasceu. Mas confessa que dias como esses que está vivendo com a visita da irmã, Terezinha, não tem coisa melhor. Zezé já esteve em Campo Grande. Foi de avião, para encurtar o tempo da longa viagem, pilotado pelo sobrinho Roberto (filho de Terezinha). Mas não gostou.  

“Quase morri de medo, tanto pra ir como para voltar. Acho que não voltarei lá...”, revela entre risos da irmã, que vem sempre de avião trazida pelo filho. “Meu filho me traz, aterrissa em Jaguara e as sobrinhas vão me buscar. Fico um tempo por aqui e quando quero retornar, Robertinho vem me buscar. Mas a Zezé, apesar dos convites, se recusa a ir”. 

Com incrível lucidez...

a irmã foi logo revelando como ganhou um nome tão abençoado, 'Terezinha do Menino Jesus Vieira'. “Mamãe, muito devota de Santa Terezinha do Menino Jesus, me batizou com o nome da santa. O Vieira é do meu marido, Vicente Vieira, irmão do João, do Alberto...” Terezinha casou-se aos 22 anos e durante algum tempo residiu em Sacramento, morando também na Capitão Borges, onde é hoje a Chinelaria da Bela Cosméticos, vizinha do prédio ao lado, onde o marido Vicente tinha um comércio de bebidas. Primogênito, Waltinho, atleta brilhante de basquete, nos anos 60, quando integrava a equipe d'Os Corujas e ODUS, nasceu ali. Já Roberto, nasceu onde mora hoje Dona Zezé,  ambos pelas mãos da parteira, Idalides Milan de Rezende e Dr. Valadares. 

E se lembra com carinho...

dos vizinhos da época: Elza Crema, dona Ariovalda, Oscar Dentista, João Vieira, Juquinha Vigilato, a marcenaria do Américo Bonatti... “Tanta gente que já se foi, tudo vai acabando, mas o prédio do comercio está lá, hoje um pet-shop. Tenho muita saudade daquele tempo que não volta mais. Os meninos eram pequenos, quando nos mudamos para Barretos a convite do tio do Vicente, o Antenor Duarte. Vicente foi cuidar das fazendas do tio, um trabalho que durou 63 anos... durante todo o tempo que vivemos lá. Um pouco depois, Vicente abriu também um comércio em Barretos e eu tomava conta quando ele não estava”, revela, ressaltando que os filhos sempre passavam as férias na casa da tia Zezé. 

Nada como estar com a irmã...

Zezé! E assim, se Maomé não vai a montanha, a montanha vem a Maomé. Para Terezinha, vir a Sacramento é uma alegria muito grande. “Só nós duas de irmãs, então a gente tem que cuidar, zelar, ficar sempre perto, enquanto Deus permite. Sempre fomos unidas, estive sempre presente em todos os momentos de sua vida, nos bons e tristes momentos. Então, se ela não vai, eu venho. 'Se Maomé não vai a montanhaj...' Não é o que dizem?

Terezinha vai passar uns bons dias com Zezé, e daqui vai para Barretos, onde tem muitos amigos conquistados ao longo de 63 anos de convivência e vizinhança. Lá mantém ainda a casa. Dentre os amigos, está a Drª Scylla Duarte Prata, filha de Antenor Duarte e prima de Vicente, seu marido. E seu filho, Henrique Prata, diretor presidente do Hospital de Amor.  

Perto do Pantanal...

Terezinha não curte apenas aquela beleza exuberante do Pantanal mato-grossense, ali também estão os dois filhos amados, o engenheiro Walter (Tânia) e o advogado Roberto (Maria Eugênia) que lhe deram quatro netos e já seis bisnetos. 

Questionada sobre o segredo da lucides e jovialidade aos 90 anos, Terezinha tem a receita: “Tranquilidade, aconchego, cuidado e amor dos filhos. Quero ir ali, eles ou minhas noras me levam, quero vir pra cá, Roberto, com quem moro, pega o avião e me traz. Walter também mora próximo. Os dois são muito unidos e sempre cuidando de mim. Sou feliz, muito feliz”.

Naqueles tempos...
ET - O que era gostoso fazer em Sacramento?
Terezinha - Eu gostava de passear e conversar com os amigos, eu não estudava igual a Zezé, parei no 1º ano do 'Adaptação' pra ficar em casa cuidando da mamãe. E eu já namorava o Vicente.
Zezé - Eu estudava em Franca, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde me formei como Normalista, professora do curso primário.
ET - Quem detinha os poderes constituídos da cidade?
Terezinha - O prefeito era o Dr. Juca (José Ribeiro de Oliveira – grifo nosso) O presidente da Câmara, Dr. Paulo da Graça Lima. Não me lembro do juiz... o juiz de Direito era...;  o vigário era o  Cônego Julião Nunes, e tinha também o padre Alaor e padre Pedro. A loja do papai era em frente à casa do Cônego Julião Nunes.  
Zezé - Nos meus 18 anos, já era o Dr. João Cordeiro, o presidente da Câmara era também Dr. Paulo; o juiz de Direito.... e o vigário era o Pe. Saul Amaral, que chegou no lugar do Monsenhor  Fleury, em 1949.
 
ET - E os médicos e parteiras da época?
Terezinha - O médico lá de casa, que era vizinho de fundo, era o Dr. Valadares, que ajudou a dona Idalides no nascimento dos meus filhos. Mas havia outras parteiras, uma delas, a Dona Rita Fonseca. 
Zezé - Dr. Valadares era de dentro de nossa casa. Morávamos em frente. Era escutar um choro que corria lá pra ver o que era. Ele era muito dedicado. Mas o Dr. João Cordeiro já estava também com consultório...
 
ET - Tinha cinema, clube de dança  na cidade nessa época?. 
Terezinha - Sim, os dois. O Cine Capitólio era ali ao lado do jardim e o Clube era ali no mesmo lugar, só que era menor. 
Zezé -  No clube, faziam brincadeiras, festas, tinha também a 'Catação', mas lá nossos pais não nos deixavam ir... 
ET - Lembram de algum grande filme de sucesso na época?
Terezinha e Zezé - (Respondendo ao mesmo tempo) 'E o vento levou'!! 
Zezé - Foi um sucesso! Era o filme mais comentado. A moçada, todos reuníamos e comentávamos do filme. Muita gente assistiu várias vezes. Era emocionante...
ET - Cantor e músicas marcantes da época?
Terezinha. - Vicente Celestino, com Porta Aberta e  Ébrio, que virou filme. Tinha uns cantores estrangeiros, Frank Sinatra e um outros, só que a gente ouvia no rádio, a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, mas não entendíamos nada. 
Zezé - Eu estudava interna, não tinha muita música não, mas lembro da música  Beijinho Doce, que fez muito sucesso. E tinha o Tonico e Tinoco, Alvarenga e Ranchinho, papai gostava muito. Começava a tocar, ele corria a nos chamar para escutar. 
ET - E o carnaval?
Terezinha - Lembro da música, Chiquita Bacana. Em Sacramento já fazia carnaval mas bem familiar no clube. 
Zezé - Mas eu não ia... nossos pais não deixavam. Diziam que eu era muito nova. Ela entrava e eu não. 
ET - De família religiosa, o domingo era dia de missa...
Terezinha e Zezé -  Sagrado! Desde pequenas frequentamos igreja. Íamos à missa das 7h da manhã...
 
ET - 'Anos Dourados', assim passaram para a história os anos 50... Mudanças tecnológicas fantásticas começaram a ocorrer no mundo,  fim da 2ª Guerra Mundial, suicídio de Getúlio... Em Sacramento, que acontecimentos ficaram marcados? 
Terezinha - Foi, sem dúvida, o final da 2ª Guerra Mundial. Foi uma assunto muito falado na rádio.   E tinha 'pracinhas' de Sacramento na guerra. Eu estava no cinema, quando chegou a notícia do fim da guerra. 
Zezé - Aqui em Sacramento foi a morte do Cônego Julião, em 1947. Ele era muito querido aqui. 
ET - Nessa idade octogenária, a gente costuma não dizer, 'muitos anos de vida', mas 'muita vida nos anos que lhes restam'. Esse é nosso agradecimento. Um beijo no coração de cada uma e muito obrigado.