Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Claret Zandonaide fala ao ET

Edição n° 1227 - 15 Outubro 2010

No dia 21 de outubro de 1960, o patriarca, Pedro Zandonaide, assinou o primeiro documento oficial de sua empresa, a Zandonaide Materiais para Construção Ltda. Nesta quinta-feira, portanto, a loja completa 50 anos de existência. No ponto de vista da Sociologia, são duas gerações. Prova é que os atuais administradores da loja são hoje os netos, Alexandre, Claretinho e Beatriz.

Mas o sucesso, a persistência, o tino para os negócios, a empatia com os clientes e o carisma de empresário que levaram a loja a esse cinqüentenário são do filho primogênito de Pedro e Olímpia Fornazier Zandonaide, Antônio Clarete Zandonaide, tendo ao seu lado o apoio de uma grande mulher, Teresa Gerolim Zandonaide, que ainda hoje, chega à loja às 7h00, ali 

permanecendo ao lado dos filhos durante todo o dia.

Técnico em Mestria Agrícola, formado em Muzambinho, Claret nunca exerceu a profissão, mas hoje dedica-se à sua paixão: cavalos da raça manga larga-marchador. Claret casou-se em 1963 com Terezinha Gerolim e criaram os filhos Claretinho (Lívian) Beatriz (Paulo) e Alexandre (Luciana), filhos que já lhes deram quatro netos, que estão herdando uma história rica de 

exemplos, de lutas, superação, honestidade, respeito pelo cliente e de sucesso. 

E quem conta a história dessa saga é o próprio Clarete Zandonaide, 70, hoje um dos mais importantes criadores de cavalo manga-larga marchador do país. 

 

ET - Vamos começar essa história do início, digamos, um pouquinho antes de 1960, lá no bairro do Rosário...

Clarete - Nasci ali no Rosário. Morávamos ao lado da Igreja, onde mora hoje a tia Adelina. Depois de um tempo, papai comprou uma casa do Bião, na rua Tiradentes, a segunda casa abaixo da casa da Oralda Manzan. Papai construiu ali uma casa e eu trabalhando como servente de pedreiro. Ajudei a desmanchar a casa velha, que estava caindo. Lembro que quando tiramos as telhas caiu tudo.  Ali mesmo nós começamos a vender telhas e tijolos. Comprávamos em Rifaina. Eu pegava o ônibus ali na Visconde do Rio Branco, onde era o ponto, ia pra estação do Cipó, pegava o trem, dormia na cerâmica Santo Antonio, em Rifaina e voltava no outro dia. Eram dois dias pra ir à Rifaina (risos). Hoje quantas viagens podermos fazer até Rifaina por dia? Naquela época era viagem mesmo. Começamos lá no Rosário a venda de materiais, em 1958.

 

ET - Mas além de vender materiais de construção seu pai era pedreiro também?

Clarete – Sim, mas foi pedreiro antes. Em 1955 e 1956... ele construiu várias casas em Sacramento: a casa da Ismalita Miranda, a sede paroquial, o predinho ao lado da Câmara, a do Joaquim Martins Borges (Joaquim Coelho), na Clemente Araújo, a casa do Dr. Benedito, onde é o consultório do Dr. Romim. Essa foi a última casa que construímos. 

 

ET – Você já trabalhava?

Clarete – Sim, eu era ainda moleque quando comecei a ajudar papai nas construções. Ele era o pedreiro e eu o servente. Quando construímos a casa do Almir Afonso (Neném do Alaor), eu ia fazendo a massa e pajeando o Teco no monte de areia. A fazenda que é minha hoje, na Cachoeira, era da Dunga do Euclides Amâncio, a sede foi construída por nós. A gente ia a pé da cidade até lá. Ajudei o carpinteiro a colocar todos os caibros e ripas na casa e na cocheira. A fazenda do José Borges, que era do espólio do papai, na última reforma daquela sede, eu trabalhei de servente de pedreiro. A dona Jupira ficava me pajeando, porque eu carregava a lata de reboco, andando na segunda telha. Ela tinha medo que eu caísse. Depois papai passou a fazer uma coisa interessante, ele começou a vender telhas e tijolos e começou a construir as casas e entregava com as chaves nas portas. Era tudo por nossa conta. 

 

ET – Onde compravam o material?

Clarete – Naquele tempo já havia em Sacramento três comerciantes de material de construção, Gil e Toniquinho Jerônimo e o Jaccomo Pavanelli. Depois veio o Vandinho, de Uberaba, e abriu com o Eurípedes Ferreira a loja Laterza  & Fantato. Papai começou com tijolos e telhas, em 1958, e foi aumentando: madeira, manilha.  Havia um casarão do José Sebastião de Almeida, onde é hoje o Supermercado Magnabosco, que alugamos pra guardar madeira. Perto da praça do Rosário e do Posto do Tunim havia um terreno com muro de pedra, ali era o nosso depósito de telhas e tijolos. Em 1960, o papai comprou o bar do Langerton Feliciano de Deus, ali mesmo onde moram os seus filhos.

 

ET – Já nessa época começaram a diversificar a atividade?

Clarete - Não, o negócio foi o seguinte... Eu fui o primeiro empregado que o Langerton teve na vida. A primeira vez que eu calcei uma botina, tinha sete anos. Ia para o grupo descalço. Com sete anos comprei a primeira botina após trabalhar para o Langerton, 30 dias. Eu ia trabalhar descalço. Langerton via futuro em mim, eu fazia de tudo: batia sorvete, entregava pão, diariamente, na av. Benedito Valadares e na  Visconde do Rio Branco. Ao mesmo tempo servia também de pajem para os seus dois filhos, a Leise e o Laércio. Um dia puxava um no carrinho e, no seguinte, o outro.

 

ET – Puxar o Laércio num carrinho não é mole não, heim? (risos)

Clarete – Eram criancinhas! Mas bem rechonchudos! Eles sentavam no carrinho e eu amarrava os sacos de pão atrás do carrinho, eles entravam no carrinho e eu ia puxando.  O Quinto Cerchi fornecia uma parte de pão e a outra vinha de Conquista, na jardineira do Armenzindo, que fazia a rota, Sacramento – Conquista – Delta – Uberaba. Naquela época, a fama de Brasília estava correndo, era um alvoroço! Aí o Lelé (Sílvio Crema) chamou o Langerton pra montar uma cerâmica em Brasília. Ele aceitou, mas disse que antes precisava vender o bar e que só venderia para mim. Eu tinha 18 anos, como comprar? Papai então vendeu a casa do Rosário, deu de entrada no bar e lá ficamos um ano e seis meses. Langerton não deu certo em Brasília e voltou. Nisso, meu pai e Arnaldo, meu irmão, Nonô, estavam doidos pra vender o bar, eles não agüentavam o bar, e o contrato era pra cinco anos. O Langerton chegou lá e com papai e Arnaldo foram lá pro fundo, eu fiquei matutando. Quando eles voltaram, o Langerton falou: 'Claret, você pode chorar, mas estou de volta pro bar. Acabei de negociar com seu pai e o Arnaldo'. Eu até chorei...

 

ET – Vamos fazer um parênteses aqui e falar de sua ida para Muzambinho, estudar na Escola Agrícola. Quando foi isso e quando retornou? Chegou a se formar?

Clarete – Foi de 1955 a 1959. Eu me formei em Mestria Agrícola e retornei para Sacramento no final do curso.


ET – Recorda aquela história interessante que você nos contou, de como o seu pai se virava para mantê-lo estudando em Muzambinho...

Clarete – Com muita dificuldade. A vida não era fácil para papai. Ele me concedia uma única mesada de Cr$ 600 cruzeiros. Eu pagava Cr$ 220,00 prá viagem de ida e mais Cr$ 220,00 prá volta, me sobravam Cr$ 160,00 para   as despesas do Colégio, durante seis meses. Eu arrumava uns ‘bicos’ em Muzambinho, vendendo rapadura e pera. 

 

ET – Voltando à história da loja, Seu Pedro continuava vendendo material de construção?

Clarete – Sim, papai continuou no ramo, vendendo telha, tijolos, manilha e madeira.  Isso foi no ano de 1960. Então, papai vendeu o bar pro Langerton e comprou o sobradinho do Clanter Scalon, aqui onde é a loja hoje. Aqui morava o Vicente, engarrafador de pinga. O Clanter comprou o prédio do Vicente e papai comprou do Clanter.  Até então, a loja era do papai, aí nós fizemos uma sociedade, Pedro Zandonaide e Claret, e mudamos pra cá. Havia duas portinhas na frente, onde é nossa garagem, hoje. Começamos aqui com os materiais de construção que já trabalhávamos, mais uns galõezinhos de tinta na prateleira e, na porta da loja, tínhamos uma charrete velha para entrega. 

 

ET – Mas de quem foi essa decisão de abrir mesmo a loja, ampliar e iniciar enfrentando os concorrentes já estabelecidos?

Clarete – Foi minha. Papai não queria montar casa de material de construção, eu é que tomei a iniciativa. Ele vendeu o bar pro Langerton e foi fazer uma viagem levando um caminhão de café para o Rio de Janeiro. Eu fui a São Paulo e ele ia passar lá pra me pegar. Em São Paulo, encontrei o Jair, um vendedor que havia acabado de sair da Deca e ingressado na Vulcania.  Eu lhe pedi que me apresentasse em algumas firmas. Ele foi o primeiro a tirar um pedido de torneira pra nós e foi me apresentar pra outras casas. Papai chegou do Rio e eu mostrei o que havia comprado e disse: 'Temos que pagar'. Afinal, o dinheiro era meu também, meu e dele, porque eu trabalhava com ele lá no Rosário.  Aí fizemos a sociedade.

 

ET – Era o início dos incríveis Anos 60, o rock-in-roll estava no auge...

Clarete –  Com Roberto Carlos  'bombando': 'Calhambeque', 'Quero que vá tudo pro inferno', o 'iê, iê, iê' (risos). Em 1961, os meus irmãos entraram na sociedade e a loja passa a chamar-se Pedro Zandonaide & Cia Ltda. Eu ia a São Paulo quatro, cinco vezes por mês. Saia daqui às 7h00 da noite, ia pra Ribeirão Preto, onde tomava o último ônibus da Cometa pra São Paulo, chegando no dia seguinte, às 5h30 da manhã. Eu ia primeiro nos lugares mais longe, pra encontrar os escritórios das firmas abertos, já cedinho. Depois eu ia voltando para o centro e fazendo compras, ia a todos os lugares. Havia a loja AWCalfman, que vendia azulejos. O dono da loja me deu um crédito muito grande, foi uma coisa louca. Ele me arrumava até telefones pra eu fazer as compras e não precisar ficar andando. Eu fazia tudo o que tinha que fazer em São Paulo, num dia. Pegava o último ônibus pra Ribeirão Preto, chegava às 5h00 da manhã e esperava o Auto Aparecida, do Ambleto, e chegava a Sacramento por volta das 10h30, sem dormir. A mercadoria vinha para Sacramento através do Real Expresso, uma firma de transporte de carga, do Aldary Pavanelli. Ele buscava as mercadorias em São Paulo, passando por Delta, tudo estrada de terra. Foi muito difícil no começo. O nosso depósito de telha e tijolos era no terreno onde é hoje a Casa da Cultura. 

 

ET – Você falou de uma 'Charrete de Entrega'. Era charrete ou carroça, quem era o carroceiro e quando a loja comprou o primeiro caminhão?

Clarete -  Era uma charrete velha que não funcionava (risos). E o caminhão veio com a venda do Bar do Langerton.

 

ET – Vocês têm o registro do primeiro funcionário e o primeiro cliente da loja, a primeira nota fiscal emitida?

Clarete – O primeiro funcionário no Livro de Registros foi o Augusto Fornazier. E a primeira nota fiscal, infelizmente, não encontramos.

 

ET – Quando você assumiu a administração da loja sozinho? 

Clarete - Tereza e eu assumimos a administração da loja em 1984. Até essa data, a empresa era sociedade. Em 1972, abrimos a Zandonaide Materiais pra Construção, em Uberaba, idéia do Arnaldo, o José Luiz e eu fizemos sociedade com ele e abrimos a loja, lá. Em 1984, o Arnaldo faleceu e nesse mesmo ano aconteceu a separação da loja de Sacramento. Teresa e eu compramos a parte de todos, do papai e dos irmãos. Foi quando assumimos a loja. Continuei sócio da loja em Uberaba, que depois ficou com o José Luiz, o Pedrinho e a minha cunhada Lílian, depois ela saiu e entrou o meu cunhado, José Orígenes como sócio. Mas a Zandonaide de Uberaba não existe mais.  Quando comprei a loja de Sacramento, papai já era aposentado e continuou com as fazendas, realizando seu antigo sonho de ter as suas vaquinhas. Depois da morte do Arnaldo, é que separamos tudo. Até que, alguns anos depois, eu fui mexer com cavalos da raça manga-larga marchador e os meninos assumiram a loja como funcionários. 

 

ET – Quanto tempo a loja funcionou no sobradinho que seu pai comprou do Clanter?

Clarete - Durante 25 anos, de 1961 a 1986, ano em que inauguramos o prédio atual, a loja funcionou no sobradinho.  Ele foi também nossa residência. Depois, eu me casei e fui morar na rua Joaquim Murtinho. Papai e eu construímos minha casa. Papai não gostava de aluguel.  E papai, mamãe, os irmãos ficaram morando no sobradinho. Quando Juscelino Kubistchek, que era muito amigo de Arnaldo, esteve em Sacramento, ele almoçou e se hospedou no sobradinho. Logo que adquiri a loja, comprei também o espólio da dona Judith e outros terrenos próximos e construímos o atual prédio, de 5 mil metros quadrados, a loja e o depósito, inaugurados em 1986. Em 1993, a loja passou a se chamar, Zandonaide Materiais para Construção Ltda, e os meninos passaram a fazer parte do quadro funcional, como registrados. No ano seguinte, 1994, por questões administrativas, a Zandonaide de Sacramento deixa de fazer parte da Zandonaide de Uberaba.

 

ET – A partir da inauguração do novo prédio, Claretinho, Alexandre e Beatriz, passaram a trabalhar na loja...

Claretinho - Mais diretamente, sim. Mas o Claretinho foi criado dentro da loja, ele cresceu ali. Ele nunca foi empregado, mas nunca saiu da loja, tanto que quando eu  saí da loja, ele assumiu e só me perguntou quatro coisas que ele não sabia calcular: o cálculo de madeira; de ripa; e vigota 6/12, 6/16. Enfim, ele não sabia calcular a quantidade madeira para se construir um telhado. Eu fazia isso em dois minutos. A pessoa chegava, falava a metragem e eu dizia quantas telhas, quantas ripas, quantos caibros, vigotas. Eu fazia isso sem usar calculadora. Depois disso, Claretinho nunca mais me perguntou mais nada. Embora eu esteja ausente da loja, cuidando da Agropecuária Zandonaide, Teresa e eu continuamos proprietários da loja. Somos aposentados, mas em breve os meninos serão proprietários. Eu já não vou lá há anos, mas está na hora também de a Teresa descansar. 

 

ET – Nesses 50 anos, muitas outras empresas desse ramo fecharam as portas, em Sacramento e na região. Como você conseguiu sobreviver às crises, aos planos econômicos. Quais foram, enfim, as principais dificuldades encontradas nesse meio século de Zadonaide  Materiais para Construção Ltda?

Clarete – Com relação às dificuldades e crises enfrentadas, sem dúvida, os vários planos econômicos, isso acabava com a gente, com qualquer empresário. Vou contar uma coisa pra vocês. No plano Collor, quando ele confiscou toda a poupança, eu tinha o piso Florença, um dos melhores pisos do momento. Eu comprei 2.800 m² e vendi 400 m² para o Sr. Ivomir Cunha a R$ 140,00. Quando o caminhão chegou com o piso, eu chamei o Seu Ivomir e mostrei a nota. Ele mesmo calculou, o piso teria que ser vendido a R$ 420,00 o m². Quando ele viu isso, disse: “Vocês quebraram...”. Eu fiquei louco. Entrei em depressão.  A Teresa, papai, os meninos me levaram pra Santos. Eu não conformava em perder tudo, de julho a dezembro, tudo o que havia na loja. As firmas pararam de entregar. Muita gente quebrou naquela época. Eu fiquei obcecado. 

 

ET – Foi com a Zélia, a ministra de Collor, que nasceu aquela expressão, 'Tá nervoso, vai pescar'. Você foi prá praia (risos).

Clarete – Estamos rindo, mas eu fiquei mal. A família tomou essa decisão de me tirar daqui, pra ver se curava minha depressão. Eu nem sabia calcular as coisas, fiquei mal. Um dia, lotei a caminhonete cabina dupla que eu tinha e fui pra fazenda com os meus filhos. Quando chegamos, o empregado, doido pra dar uma volta, mandou o Claretinho me falar, que havia um leilão no Haras Cruzeiro, em Araxá. Já estava escurecendo. O Claretinho me falou e todo mundo fez coro: 'Vamos, vamos!!' Peguei os meninos e os empregados e fomos pra Araxá. Lá encontrei o Asdrúbal Ladeira, que logo me chamou pra mostrar um cavalinho. O peão tocava esse cavalo prá lá, pra cá e o Asdrúbal:  'Você tem que comprar'. Ele se chama Bacarart do Patrocínio, um tordilho muito bonito'.

 

ET – A cura através de um cavalo...

Clarete – Exatamente. Acabei comprando e esse cavalo me tirou do cemitério. Arrumei uma baia e fiquei lá cuidando dele, por isso dou um valor muito grande em cavalos. 

 

ET – A concorrência foi uma das dificuldades?

Clarete – A concorrência é sempre uma dificuldade. Por isso, você tem que ser dinâmico, atuante, inovador, conquistar os seus clientes e mostrar qualidade. Nesse tempo, claro, competimos com vários concorrentes que fecharam, em Ribeirão Preto, Uberlândia, Uberaba... Um amigo meu, da Comercial Silveira, tinha sete lojas e fechou todas. Em síntese, uma das maiores dificuldades foi a sobrevivência mercadológica. Houve também outros, como o pouco investimento na construção civil, até dois anos atrás. Outro desafio nosso foi a conscientização dos construtores para uso correto de materiais de boa qualidade. Deu trabalho nesse aspecto.  E hoje, o principal problema é a carga tributária, extremamente pesada, isso inibe o reinvestimento.  Não fosse o volume de vendas, não suportaríamos os encargos sociais. As vendas aumentaram muito, mas o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. 

 

ET – Falamos dos problemas, dificuldades... E para enfrentá-los, você se pautou em quê, qual o segredo da estabilidade da loja nesses 50 anos?

Clarete – Foram a persistência e a coragem, sobretudo. Mas a diversificação de nossas atividades também ajudou. Já que vocês perguntam por segredo, vou revelar um. Como eu estava inconformado, muito depressivo, porque a loja não tinha quase nada, as coisas foram acabando, ninguém entregava nada... Um dia papai chamou a Teresa, o Claretinho, a Beatriz e Alexandre e disse: 'Seu pai não pode ficar sabendo disso, mas vamos vender sete caminhões de boi e o Claret investe na loja'. E assim fizeram, ele vendeu e chegou pra mim: 'O dinheiro está aqui pra você  restabelecer os negócios'. E aí retomamos. Fomos persistentes, senão hoje não estaríamos fazendo 50 anos. Persistimos, fomos comprando aos poucos, com dificuldade, sempre mantendo os pés no chão e arribamos. Paguei depois a parte dos bois que era do papai, porque éramos sócios, e nos restabelecemos. Eles venderam sem minha autorização, mas foi a salvação. 

 

ET - Claret, viver o ontem, as idas e vinda a São Paulo, estradas de terra e o hoje, com as compras via internet, como é conviver com isso?

Clarete – De tudo o que eu calculava de cabeça, de todos os preços dos itens da loja, hoje eu não sei o preço de um saco de cimento, não sei preço de nada, não mexo em nada na loja. Não fiz informatização nenhuma na loja, isso é coisa da Teresa e dos meninos. Mas eu sei que a loja é totalmente informatizada e adaptada a essas tecnologias do momento. Minha vida hoje é a fazenda, cavalos... Agora, olhando prá trás eu recordo o quanto as coisas eram difíceis. Hoje, não tem vendedor, tudo é feito via internet. A evolução foi muito grande...

 

ET – Busca auxílio aí da Da. Teresa e responda o que é a Zandonaide Materiais para Construção hoje?

Clarete – Esse resumo foi ela mesma que preparou (risos). É uma loja com 5 mil metros quadrados para atendimento e depósitos. Mais de 6. 500 clientes cadastrados, mais de 6.000 itens no estoque e 1.000 fornecedores diretos de fábrica. Temos frota própria para entrega, atendemos a oito cidades da região e zona rural, 22 funcionários treinados e atualizados periodicamente. Além disso, a loja tem um alto padrão de qualidade e confiabilidade e preços excelentes. Por tudo isso, há 11 anos consecutivos a loja é eleita a melhor empresa do ramo em Sacramento. 

 

ET – Muitos agradecimentos?

Clarete – Muitos, muitos... Tudo isso devemos a Deus, à minha família, aos funcionários que passaram pela loja, à confiança de milhares de clientes. Tenho que agradecer demais a Deus e à minha família, Teresa, Claretinho, Alexandre, Beatriz, aos funcionários que fazem parte desses 50 anos. Ivan está na loja há 28 anos, depois vem o Paulinho. Mas o Zezão e o Osvaldo são os mais velhos, ambos aposentados. O Zezão era empregado do papai, começou com o papai. Um dia papai falou: 'Claret, você tem que assumir o Zezão, não o despreze'. Ele está conosco até hoje, varrendo depósito, fazendo uns servicinhos. O Osvaldo era nosso funcionário, aposentou-se e continua na loja. 

 

ET - Se você fosse definir a loja hoje, qual seria o perfil, o carisma da loja? 

Clarete - Tradição e honestidade. E acredito que seja mais pela honestidade, porque papai não vendia gato por lebre, só vendia qualidade e mantivemos essa herança. Temos que ser honestos, manter a honestidade com o cliente. Isso vem do meu pai, passou por mim e agora com os meninos. Às vezes a gente até perde venda por manter essa honestidade na qualidade dos produtos, mas essa é a nossa tradição. Não podemos vender um produto B como se fosse A. 

 

ET - Se estivéssemos hoje em 1960, começaria tudo outra vez, valeu a pena?

Clarete - Faria tudo outra vez. Tenho pique pra começar de novo. Estou completando 71 anos e nunca usei uma maquininha pra fazer contas e ainda faço contas assim. Vou vender boi, cavalo, faço as contas primeiro do que os compradores com maquininha.  Não confio nessas maquininhas. Fiz três cirurgias, tem hora que me dá uns brancos, mas logo vem tudo à tona e não levo prejuízo (risos). Então, só valeu. Foram muitos anos de trabalho, dedicação, persistência e trabalho até hoje. Graças a Deus, valeu a pena, sim.

 

ET – (Da. Tereza, que assistiu à entrevista do marido, responde à ultima pergunta). Da. Tereza, ainda hoje você vive e convive com os filhos na loja, fazendo parte dessa história há 48 anos. Que lição tira de tudo?

Teresa – A lição de uma grande vitória alcançada. Foi uma luta ombro a ombro, trabalhando, apoiando, criando os filhos, compartilhando a vida. Temos muito a agradecer, a Deus, aos meus filhos, aos nosso funcionários, que para mim, não são funcionários, eles fazem parte da família, da família Zandonaide Materiais para Construção. 

 

ET – Agradecemos a entrevista.