Crônica - Bereta agradece e cobra ações integradas para a criança

Fazemos do discurso do médico Francisco Olívio Bereta, pela importância de seu conteúdo, a crônica da semana.

 “A minha história aqui é longa, afinal foram 30 anos e pudemos acompanhar a evolução da Santa Casa em si como a evolução da saúde pública no país. Quando cheguei aqui era o INPS e  a saúde pública não tinha o que tem hoje. Para agravar o problema, a população da  zona rural era muito grande, não havia estradas e eram pessoas praticamente desassistidas”, lembrou.

Segundo o médico chegavam crianças com casos gravíssimos na Santa Casa, doenças que não existem mais, por estarem sob controle. “Nessa época, era só eu no atendimento. Com isso o  desgaste foi muito grande e houve uma grande soma de investimentos em paciência, dedicação e sacrifício de parte a parte, tanto minha como do hospital, que tentou amenizar.  Os outros médicos tinham os pacientes deles e quem atendia os pacientes da saúde pública era apenas eu, isso durante 25 anos. Se eu fizer um balanço hoje,  acredito que posso deitar e dormir com a consciência do dever cumprido, dentro das possibilidades da minha parte dei o máximo”, disse. 

Sobre a inauguração da nova pediatria afirma com satisfação. “Isso faz parte do contínuo crescimento, é um avanço, porque a saúde é um contínuo. É humanização para o atendimento das crianças, diminuindo o estresse que o hospital não deixa de impingir a um ser em desenvolvimento e frágil. Drª Daniela teve a ideia de criar a brinquedoteca e que foi muito feliz. Parabenizo-a e fico feliz por ser substituído não à altura, mas de maneira superior. E agora chega também, o pediatra Adriano, que vai somar em prol das crianças da cidade”, disse mais.

No seu discurso, Bereta cobrou ações conjuntas voltadas para a criança. “Estou muito feliz porque essa sala servirá de alívio ao sofrimento das crianças, porque é na infância que a pessoa mais precisa de carinho. A criança que não receber toda a dedicação material e afetiva,  proteção, no futuro ela será problema para a sociedade. Este recinto vai humanizar tratamento, amenizar sofrimento, diminuindo o estresse que um hospital dá aos pequenos. Mas espero que, cada vez menos crianças venham ao hospital”, afirmou.

Encerrando, fez um apelo: “Pediatra é advogado das crianças, por isso faço um apelo. Na presença do prefeito, vice-prefeito e outros profissionais, não poderia deixar de exercer a função de ser advogado da criança, razão de tudo isso que está acontecendo aqui hoje. É preciso que haja ações conjuntas voltadas para a criança. Faltam na cidade  projetos integrados para a criança. A saúde da criança não é só ela estar alimentada, higienizada e fisicamente bem. Ela precisa de mais, precisa  de bem-estar social, mental e ambiental”, afirmou mais.

Para o médico Francisco Bereta a realidade de muitas famílias nos bairros ou no centro, o problema das drogas, do alcoolismo, da delinqüência, da insegurança noturna, da violência, se fizermos uma análise fria, honesta e franca é gravíssima.

 A violência e as drogas estão imperando no meio onde vivem as crianças. A realidade de muitas famílias é gravíssima. Assistência na saúde há muita, ninguém pode reclamar, há um número de médicos nunca antes visto. Mas e para a criança? Há tudo para ela se desenvolver saudavelmente? Se elas continuarem crescendo como estão crescendo sem as atenções voltadas para elas, qual será o futuro delas?”, perguntou.

Segundo Dr. Bereta, o maior problema nas escolas de modo geral é a indisciplina, estamos num país indisciplinado. É preciso intervir de forma mais eficiente com grupos de educação em saúde,  com as crianças com as famílias. Se transmitir informações, conhecimentos, confiança isso vai gerar mudança de cultura, responsabilidade e uma melhor atenção à criança”, alertou, ressaltando que não falta material humano na cidade para essa tarefa. “O poder público não vai gastar nada além do que já está gastando, porque temos talentos sobrando. A saúde integral da criança pode ser conseguido com um trabalho integrado, um trabalho intersetorial: saúde, esportes, educação, assistência social e não como está sendo feito, cada um fazendo alguma coisa isoladamente. Investindo em ações integradas, o resultado será crianças mais felizes, mais saudáveis e uma Sacramento  muito melhor, com pessoas melhores”.

 “Despedida não é muito bom, é obvio que gera um tom nostálgico de tristeza, mas parra que essa nostalgia não prevaleça, transformo essa solenidade em boas vindas a Dra. Daniela, a responsável pela inauguração desse espaço, pessoa que nos inspira confiança, com uma ambição acadêmica acima de tudo. E o  médico que tem essa ambição vai ser um sacerdote. E a Dr. Adriano. Juntos, vocês farão um trabalho profícuo. A vocês deixo os mais sinceros cumprimentos e as boas vindas”. 

E, finalmente, Bereta encerrou dizendo as palavras de um dito aborígine australiano: ‘Todos estamos de visita nesse momento e lugar, só estamos de passagem. Viemos observar, aprender, crescer e amar e voltar para casa’.