Os pacientes assistidos pelo CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, comemoraram o Natal dia 14. Foi realmente uma manhã de festa com direito a presentes, bolo, músicas natalinas e recreação na sede da Associação Atlética Banco do Brasil – AABB, tudo isso graças ao apoio de voluntários, liderados por Linda Bonatti Crema.
Todos ganharam, inclusive, a camiseta personalizada, estampada com um desenho de Fernandinho Bonatti, que de acordo com a psicóloga, Ana Carolina Silva Loyola, adorava estar no CAPS. “Ele vinha diariamente, era nosso maior companheiro. Estou no CAPs há três anos e nesse período ele vinha todos os dias, até mais de uma vez por dia. Aqui ele conversava com as outras pessoas, fazia trabalhos manuais na oficina de artesanato, como esse desenho que estampa a camiseta. Ele confeccionava o trabalho e doava, como esse desenho, foi o último que me deu. Ele escreveu um texto atrás do desenho e terminou com a frase, “Eu amo o CAPS”. Fernandinho foi um paciente inesquecível”, lembra.
De acordo com a psicóloga, são cerca de 120 pacientes inscritos hoje no CAPS. Os pacientes são classificados como intensivo, semi-intensivo e não intensivo. “Pacientes intensivos são aqueles que precisam de atenção frequente; os semi-intensivos, precisam também de acompanhamento, mas não com tanta freqüência e os não-intensivos, precisam de vínculo com o CAPS, mas que podem viver sem a freqüência diária. A dedicação e apoio da equipe, o acompanhamento médico e psiquiátrico são suficientes”, explica.
Para o atendimento de todas essas pessoas, o CAPS conta com os serviços de Rejane, na oficina terapêutica, três psicólogos (Ana Carolina, Vanessa Almeida Bernardes e Valéria Borges), os psiquiatras, Daniel Figueiredo e Fauze Saladah Fakhouri, que fazem atendimento todas as quartas e quintas-feiras; uma assistente social, outra de enfermagem e o enfermeiro Laygner Rocha Arantes, coordenador do CAPS.
O CAPS de Sacramento, é o do tipo 1, que fecha nos finais de semana, mas mantendo o plantão. “Existem CAPS que funcionam 24 horas, os pacientes têm atendimento em tempo integral. O nosso é o CAPS para cidade do porte de Sacramento, mas mantendo sempre o plantão, para desenvolver os procedimentos necessários”, explica a psicóloga Ana Carolina, informando que além dos pacientes freqüentes, o Centro presta também serviço ambulatorial, recebendo pacientes encaminhados dos PSFs da cidade.
Pacientes recebem assistência completa
O enfermeiro Laygner Rocha Arantes, natural de Capetinga (SP), veio a convite para Sacramento e a há três anos trabalha como coordenador do Centro de Atenção Psicossocial. E é ele quem define as funções e objetivos do Centro.
De acordo com Laygner, o Centro de Atenção Psicossocial é diferente de um ambulatório de saúde mental e de um manicômio. “Primeiro, manicômios praticamente não existem mais. São proibidos no país. Embora existam alguns poucos, a tendência é que eles fechem ou sejam transformados em outro tipo de instituição”, destaca o coordenador, explicando as funções de um ambulatório.
“- Já o ambulatório é o lugar onde as pessoas fazem consultas e recebem medicamentos, que é o que existia aqui antes, nessa unidade, até 2008. O ambulatório não tem vínculo com o paciente. Ele vem, consulta, às vezes é encaminhado para a psicotrerapia e vai embora”, explica.
Segundo Layner, os pacientes recebem atenção completa no CAPS. “Aqueles com uma deficiência maior são buscados em casa, passam o dia todo aqui e retornam à tarde, recebendo todo acompanhamento e assistência necessária: café da manhã, almoço, café da tarde, terapias de grupo. Além disso, há as visitas domiciliares, que são feitas nas casas desses pacientes, junto às famílias. Temos ainda reuniões de equipes para determinar como será direcionado o tratamento desse ou daquele paciente, porque cada caso é um caso”, diz.
Afirma o coordenador que o convívio entre paciente e profissionais é muito grande. “Somos capazes de perceber qualquer alteração de comportamento de cada um, pelas informações que temos sobre eles. Esse conhecimento do paciente é até para prevenir o agravamento da doença, precisamos dessa proximidade, desse conhecimento. Se há a convivência diária e ele apresentou qualquer mudança de comportamento, sabemos que aquilo não é normal. Portanto, se não há convivência diária, não dá pra saber o que é o normal esperado para ele”, informa.
O perfil dos pacientes
Os serviços do CAPS são direcionados para pacientes com transtornos mentais leves ou de moderado a grave. “O transtorno mental leve é aquele que apresenta alteração do humor, que fica agressivo em casa, consegue aprender na escola e que a APAE não consegue fazer um trabalho de aprendizado com eles. O transtorno mental médio é aquele que tem tratamento, mas não tem cura’’, explicou o enfermeiro Laygner Rocha Arantes
A função do CAPS, com relação a esses pacientes é garantir-lhes a convivência com o transtorno mental, de modo que eles não precisem se excluir da sociedade.
São atendidos no CAPS, portadores de esquizofrenia, depressivos graves, transtorno afetivo bipolar, transtorno de conduta, além de dependentes químicos, de várias faixas etárias.
“- A doença não escolhe faixa etária ou condição social, nem escolhe idade para manifestar a doença, mas geralmente, os transtornos mentais graves começam a aparecer na adolescência, uma fase de turbulência, de auto- afirmação, essa é uma idade propicia para a doença se manifestar, mas há os casos que fogem a essa regra, aparecendo também em crianças e idosos”, disse mais Layner.
Segundo o coordenador, um dos grandes trabalhos do CAPS é incentivar a socialização, como por exemplo, nas oficinas de trabalhos artesanais. “No entanto, nem todos conseguem ou podem participaremos, então é feita uma seleção. São encaminhados para outra terapia, mas nunca isoladamente, ou seja, a proposta do CAPS é socializar, por isso temos parceria com a Academia Atlântica e, duas vezes por semanas, eles têm hidromassagem. É muito importante a participação da sociedade”, ressalta.
Lygner fala da importância da família no acompanhamento em casa. “Precisamos muito do apoio da família. Trabalhamos com as famílias no sentido de despertar nelas esse comprometimento’, concluiu.
Do amor de Fernandinho, nasce o grupo de voluntários
A artista plástica, Linda Bonatti Crema, que teve a iniciativa do trabalho voluntário junto ao CAPS explica como nasceu a idéia. “Na verdade, essa iniciativa não nasceu de uma idéia, nasceu de um sentimento de amor ao Nando e foi interessante isso. Nando freqüentou muitos anos o CAPS e ele dizia que a salvação dele estava no CAPS”, diz.
Esse desenho que está na camiseta, que ele me deu. Ele desenhava pássaros, escrevia como um diário: “Hoje fui ao CAPS, mas aconteceram coisas que me aborreceram. Tem pessoas que não gostam de mim, mas não tem importância, porque eu 'amo eles' de qualquer jeito”. Nando tinha um amor pelo CAPS e isso fez um bem muito grande para ele”, diz emocionada.
Linda conta que inúmeras vezes Fernandinho a convidou para ir ao CAPS. “Nando me convidou várias vezes. Eu o levava lá, mas não dava importância. Ele dizia, ‘Linda, vai lá no CAPS’. Fui algumas vezes, mas hoje vejo que não fui as vezes que deveria ter ido. Ele me chamava para as festas, sempre me convidou e eu nunca fui. A última vez que estive no CAPS, foi um mês antes de sua morte, ele passou pelo psiquiatra e eu o acompanhei”.
A iniciativa nasceu a partir da morte de Fernandinho, conforme conta Linda. “Nando faleceu no sábado e na segunda-feira fui até lá, para agradecer. Nessa visita a conversa se estendeu, me emocionei muito. Senti que ali, repartir aquele momento foi muito importante e a partir daquele momento abracei o CAPS. Fui tocada agora e vou fazer a minha parte. O corpo de voluntariado está surgindo do amor pelo Nando”, reafirma.
A primeira ação foi a ajuda na organização da festa de Natal. “Não deu tempo ainda de oficializar o grupo, mas já tivemos uma primeira ação. Soubemos das dificuldades pra organizar a festa de Natal, logo nos prontificamos. Convidamos algumas pessoas fizemos uma listra e fomos atrás. Graças a Deus todos colaboraram, ninguém, absolutamente ninguém negou ajuda”, reconhece.
Os interessados em fazer parte do corpo de voluntários devem entrar em contato com Linda Bonatti Crema.
A alegria de receber um corpo de voluntários
O coordenador Laygner Rocha Arantes e a psicóloga Ana Carolina Loyola Santos fazem questão de destacar que a chegada de voluntários, através do trabalho que vem sendo liderado por Linda Bonatti é muito bem-vindo e será de grande ajuda. “Inclusive essa Festa de Natal, que estamos realizando hoje aqui na AABB, praticamente foi organizada pelos voluntários e também com a colaboração da Prefeitura”, reconhece Carolina.
Por outro lado, diz Laygner que o trabalho dos voluntários vai desmitificar muita coisa que se ouve sobre o CAPS . “Vemos que a população de modo geral na tem um esclarecimento sobre o que é CAPS, há muito preconceito. A população não sabe o que é esse serviço. O preconceito é grande, tanto que ali na porta colocamos uma plaquinha com os dizeres, “Aqui somos todos loucos uns pelos outros”, porque, infelizmente é assim que eles vêem o CAPS”, salienta.
Finalizando, Laygner informa que todo o tratamento dos paciente é gratuito. “Temos todo apoio da prefeitura, conseguimos, no final de 2008, nos credenciar como CAPS, porque até então éramos ambulatório de saúde mental. Somos credenciados juntos ao Ministério da Saúde e hoje temos uma verba especifica para o CAPS, que não é suficiente, mas dá pra fazer alguma coisa. Por exemplo, tínhamos um grande problema, que era a falta de um veiculo, mas que foi solucionado. Hoje temos uma Kombi especifica para o CAPS, adquirida com os recursos do CAPS, as outras necessidades prementes, a prefeitura cobre”, finaliza o coordenador.
As dificuldades encontradas pelo CAPS
A principal dificuldade do CAPS é com a família, na questão da rejeição e da falta de compromisso, assim como da sociedade de um modo geral. “Ainda há uma resistência grande das famílias e da sociedade em geral em relação a esses pacientes, que são tidos como loucos pela sociedade, por isso esse grupo de voluntários que está sendo formado será de primordial importância”, reconhece o enfermeiro Laygner, destacando outras necessidades:
- Ampliação do espaço físico para as oficinas terapêuticas;
- Área de lazer apropriada um lugar amplo, confortável, tranqüilo;
- Sala de TV e vídeo, assim como de um projetor,
- Espaço adequado para implantação da oficina de argila,
- Deficiência do quadro de pessoal, por exemplo, precisamos de uma terapeuta ocupacional.