Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Sacramento ficou mais órfã este ano

O ano de 2006 está chegando ao fim. Foi um ano de muitas alegrias, muitas conquistas e muitas vitórias, mas foi também um ano de maledicências e de muitas perdas. Algumas e, para muitos, irreparáveis, principalmente para os familiares que enterraram seus, pais, filhos ou irmãos.

É o sentido da existência. Não somos eternos. Somos humanos e, por isso, sofremos com a morte, algumas trágicas, inesperadas, outras mais amenas.

Mas sempre perdas que fizeram sofrer alguém. Às vezes, pelos seus edificantes trabalhos toda a cidade sente. Deixam-na órfã.

Zé Vicente Gomes (25/01, aos 54 anos) líder nato, fez história nos seus 54 anos de vida. Atuou como líder sindical na Cemig, em todo o estado de Minas Gerais e, em Sacramento, foi presidente do Cerea - Centro de Recuperação do Alcoólatra, por quatro anos, líder comunitário no bairro de Lourdes, onde sempre residiu desde que veio para Sacramento em 1990. foi político militante do PT e do PAN – Partido dos Aposentados da Nação, que ele fundou na cidade. "Zé Vicente era uma pessoa de quem a gente não tem como falar. Lá no Cerea, ele não foi só presidente, ele foi um ídolo, porque quando ele assumiu a presidência o Cerea estava acabando, ele o entregou de pé e forte. Ele era dinâmico e querido por todos. A lacuna que vai ficar será grande”, disse à época, Maura Lúcio Rodrigues, Coordenadora Regional do Cerea.

Maria Crema Marzola (08/09, aos 94 anos), em Uberaba, onde residia há muitos anos. Mas como contribuição não tem idade e nem distância, Sacramento foi-lhe sempre grata por revolucionar a Educação na cidade na década de 30, através de grandes inovações na então Escola Normal de Sacramento, hoje a E.E Cel José Afonso de Almeida. A Escola rendeu-lhe uma última homenagem no cemitério de Uberaba. “Uma mulher que lutou para colocar uma escola reconhecida em Sacramento. Ela dizia que a Escola Normal não tinha dono, não era do prefeito, não era do governo, não era dela, era de todos. E ela, enquanto vida teve, permaneceu proporcionando à juventude um ensino de alta qualidade”, lembrou o professor Carlos Alberto Cerchi.

José Carlos de Carvalho (17/09, aos 51 anos), radicado em Sacramento há 15 anos, ocupava o cargo de Delegado de Polícia com grande atuação, testemunhada pelo Delegado Regional Rogicélio Gomes de Castro. Mas mais que isso, era atuante na comunidade como membro do Rotary Clube, onde ocupou a presidência, e da Loja Maçônica General Sodré. “José Carlos cumpriu a sua destinação terrena, o seu trabalho, a construção de sua família, enfim, cresceu e daqui sai melhor do que entrou. (...) Deixa a lembrança de um homem trabalhador, um homem público, aquele que enfrentou as dificuldades oriundas da sua profissão, do homem maçom, que buscou incessantemente aprimorar-se”, afirmou Luciano Siviere Varanda, ao final da ritualística maçônica.

Glória Gomide Almeida (26/09, aos 76 anos), aposentada como professora, dona Glorinha deixou sua marca em milhares de pessoas, através de suas lições nos livros acadêmicos, mas muito mais pelos ensinamentos. Durante mais de 30 ano, dedicou-se à Educação de forma exemplar, tanto na rede estadual entre 1951 a 1959 e na rede estadual, de 1960 a 1980, na Afonso Pena Junior e de 1981 a 1991 na Escola Coronel, onde se aposentou, após ocupou o cargo de professora e vice-diretora. Foram anos doados à educação, compartilhando ensinamentos com colegas e alunos. Com Glorinha, o segredo maior da vida ultrapassou qualquer regra do bom viver.

Conceição Altair Tavares (11/11, aos 58 anos), espírita atuante, mulher ´de fibra´ diriam muitos. Fundou e dirigiu com garra a Associação Fraterna Corina Novelino e a Escolinha Tia Nina. Mãe extremada de Samuel, filha devotada de Alzídio e sobrinha amiga de Íris. Viveu e sobreviveu aos revezes da vida e partiu para a casa do Pai, deixando um grande legado à cidade e a todos que a conheceram. “Parte para a eternidade a incansável guerreira profª Conceição Altair Tavares. Conceição partiu como viveu, incansável, esperançosa, serena e elegante. Idealista e visionária, religiosa e vocacionada. Dedicou toda uma vida a serviço de valores espirituais, culturais, educacionais e políticos, cujo mundo da existência se dá no rico fluxo da família, sobretudo, do amor maternos ao seu filho querido. (...) Enfim, exemplo vivo de mulher forte, batalhadora, corajosa e guerreira, que soube traduzir com maestria a difícil arte de viver”, disse a advogada Ivone Regina Silva.

José Mateus Gomes dos ReisZé Da Água (04/11, aos 74 anos). Exemplo de homem que admitiu sua doença, o alcoolismo, foi em frente e se recuperou dentro do Cerea, entidade que ajudou a fundar e foi seu presidente. A partir daí passou a ser o grande líder daqueles que necessitavam de seu apoio.
Zé da Água morreu como viveu, serenamente, após apenas dois dias doente. Após ser medicado na Santa Casa de Sacramento, na quinta-feira, 2, foi levado para Uberaba, onde se submeteu a uma cirurgia. Devido a complicações, morreu na madrugada do dia 4 de novembro, no Hospital Escola de Uberaba. Trasladado para Sacramento, Zé da Água foi velado por familiares, centenas de amigos e conhecidos.

Em 25 de dezembro de 1977, Zé da Água foi homenageado por este jornal, pelo brilhante trabalho realizado no Cerea – Centro de Recuperação do Alcoólatra, que atingiu em sua gestão o número de 500 recuperados. “À frente do Cerea, revelou-se um grande construtor de vidas humanas, pelo trabalho de líder, orientador e diretor do Centro de Recuperação, promovendo duas reuniões semanais, ali educa, assiste aquela gente humilde devolvendo-lhe a felicidade, o amor, a vida e o prazer pela existência, longe do mal que abominava. Pioneiro neste trabalho, Zé da Água ajudou a fundar o Cerea de Conquista, e hoje parte com a mesma missão para a vizinha cidade de Araxá. Sua intenção é de se formar entidades, que sejam reconhecidas publicamente, legalizadas, tanto assim, que o Cerea de Sacramento, com personalidade jurídica recebeu na sua gestão o título de Utilidade Pública”, publicou-se na época.

Além de cereano atuante, Zé da Água foi fiscal da prefeitura, comissário de menores e diretor do Esporte Clube Marianos. Sua morte repentina, passou despercebida para muitos, mas a sua história ficou e ficará para sempre registrada, não só nos familiares, mas em toda a sociedade sacramentana e cidades vizinhas.

Zé da Água era casado há 50 anos com Luzia Ranuzzi dos Reis e deixou dez filhos, 14 netos e 3 bisnetos.