Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Centenas de devotos pegam a estrada rumo ao Santuário de Na. Sra. d´Abadia

Edição nº 1635 - 10 de Agosto de 2018

Anualmente, centenas de sacramentanos devotos de Nossa Senhora da Abadia pegam a estrada rumo ao seu Santuário na cidade de Romaria, antiga Água Suja. Os peregrinos sabem a que vão e caminham em média três dias, levando na pouca bagagem a grandeza de sua devoção, os agradecimentos e os pedidos a Nossa Senhora. E não são poucos os grupos de caminheiros. Na manhã destes sábado e domingo, vários grupos estarão chegando àquela histórica cidade peregrina. No Santuário de Maria, o primeiro ato é seguir direto para os pés da Mãe d´Abadia através de um íngreme escadaria que muitos romeiros enfrentam de joelho até chegar à milagrosa imagem. Em seguida, descem para o interior do santuário para santa Missa. 

O ET conversou com alguns grupos na saída de Sacramento e participou do terço do Grupo dos 13, que saiu às 15h da Igreja de Na. Sra. da Abadia, no bairro Chafariz.

Sandoval Rodrigues de Oliveira, romeiro há 11, um dos coordenadores  da Romaria dos 13, ao lado de Davi Cintra, falou sobre o difícil sacrifício. “Na verdade, não sou eu quem começou a Romaria dos 13. Iniciei caminhando com a Arlete, do Sr. Candinho, do Santo Antônio. Logo que ela parou, o Davi do João Moicana e eu assumimos a romaria e seguimos firmes até hoje”, explicou, justificando a estafante caminhada de quase 150 quilômetros. 

“- Vamos, primeiramente, para agradecer por tudo o que Nossa Senhora nos ajuda como intercessora, no nosso dia a dia, especialmente pelas coisas boas que nos acontecem e, também levamos nossos pedidos”, destaca, ao lado do pai Idelfonso, romeiro antigo, que por problemas de saúde não pôde ir. Muito emocionado, acompanhou o terço e a saída do filho, “Papai passou por momentos difíceis, mas com a  fé que tem em Nossa Senhora d´Abadia está conseguindo superar, e diz que vai a pé no ano que vem”. 

Davi Natal Cintra completa 20 anos de caminhada e tem muito a gradecer. “Este ano não vou caminhando, estou no apoio, a gratidão é muito grande pra gente parar”, afirma e se emociona ao lembrar da mãe, dona Mindinha, antiga romeira, falecida recentemente.  “Comecei nas romarias com papai e mamãe, eu era menino e essa é uma das cosias boas que a gente guarda deles e é nessa caminhada de fé que encontramos Deus”.


Romaria do Romildo, 24 anos de peregrinação

Outro coordenador de romaria é Romildo Leal Rodrigues, que vai a Água Suja, este ano com 19 pessoas, um carro de apoio e dois caminhões para o pessoal dormir. “Estamos completando 24 anos de peregrinação, de muita fé, muitas alegrias e tudo que eu sou e tenho devo a Nossa Senhora que aqui na nossa região, recebe esse bonito título de Na. Sra. da Abadia da Água Suja, hoje Romaria. Não tenho escrúpulo em revelar: 'Foi Nossa Senhora da Abadia quem me tirou do terrível vício do álcool”, revela, narrando como tudo começou.  

“- Fui algumas vezes sem compromisso. Eu já havia deixado a bebida, mas estava lutando muito... O último gole de pinga que bebi foi no dia 14/7/1997. Naquele ano fui ao Santuário para cumprir uma promessa que fiz para minha irmã que teve um problema na gravidez. Chegando lá, subi de joelhos a escadaria que nos leva à Santa e, nos seus pés, pedi também para me livrar do álcool. Um ano depois, no dia 6.6.98, fiz os votos no Cerea. E sou cereano até hoje e continuo na peregrinação para agradecer por me ver livre do alcoolismo, um vício que acaba com a pessoa. A pessoa alcóolatra  sofre muito mais do que os outros, porque ela é vítima  de uma doença, que devasta a vida da pessoa e da família”, justifica, relatando dois acontecimentos.

“- Nesses 24 anos de romaria, tenho duas passagens que me comoveram. Meu pai e eu, devido ao alcoolismo, paramos de conversar, ficamos seis anos sem nenhum contato pessoal. Numa dessas romarias anuais, senti muita saudade dele. Pedi a Nossa Senhora e fui pensando muito nele. Chegamos lá no dia 14 e estávamos aguardando o dia seguinte, porque era comum esperar a festa no dia 15. Eu me sentei na escadaria da igreja, quando, de repente, alguém me bateu nas costas. Olhei, era meu pai, que no meio daquela multidão me encontrou e reatamos uma longa amizade de pai e filho”.

E outro fato que aconteceu com Romildo, conta mais, foi na reta dos 18 (trecho dos bambus até o trevo de Nova Ponte). Enquanto caminhávamos, sem perceber, eu passei bem em cima de uma cobra cascavel. Por um milagre, ela não me pegou. Nossa Senhora da Abadia protegeu o seu romeiro”, reconhece.

Várias mulheres acompanham também a Romaria dos 13. E não ficam devendo nada aos homens, em relação ao ritmo da caminhada. Pelo contrário, na expressão dos romeiros, “é difícil uma mulher ficar na 'ribada' ”. 

Experiente romeira, Gisele fala pelo grupo feminino. “A peregrinação das mulheres começou bem depois, já fomos pesquisar e até 20 anos atrás não há relatos de mulheres na romaria, mas hoje aumentou muito a participação feminina, mas sempre acompanhadas pelos homens.  E nós andamos em pé de igualdade com eles”, afirma, destacando que o principal objetivo e agradecer. “Uma vez por ano reunimos o grupo e vamos agradecer a Nossa Senhora. E temos muito o que agradecer”, afirma.

 Ilke Prado, romeira iniciante, botava toda fé na caminhada de 140 quilômetros até Romaria. “Estou indo pela primeira vez, o principal motivo é para agradecer muitas graças recebidas. Tenho um pequeno problema no joelho, compensado com um condicionamento físico muito bom e com a proteção de Nossa Senhora vou conseguir chegar”, diz, otimista.  

A jovem Stela Gomides Almeida fez a terceira peregrinação, ao lado do namorado Neto, que este ano vai no apoio. “Minha primeira romaria, há três anos, teve como objetivo o  cumprimento de uma promessa. Já no passado voltei para agradecer a Nossa Senhora e este ano retorno para cumprir mais uma promessa”, revela, com um sorriso nos olhos. 

 

 

Ritinha leva romeiros há 37 anos 

Luiz Antônio Silva, o Ritinha, romeiro há 37 anos, faz a peregrinação com um grupo pequeno de amigos, que formam o 'Grupo Ritinha', hoje reunidos nos amigo: Betão (11 anos de romaria), Amarildo (7 anos), Claudionor (13 anos) e Pretão (12 anos). O grupo saiu na tarde do dia 8, da praça da Igreja do Rosário e espera chegar ao Santuário, no sábado de manhã. 

Todos eles têm um motivo mais íntimo para fazer a longa peregrinação, que se resume no agradecimento e em pedidos a Nossa Senhora. “Eu vou para agradecer a Deus, por intermédio da Mae, por tudo de bom na minha vida”, afirma Betão e, Ritinha completa: “Vou ao Santuário há 37 anos  também em agradecimento por tudo na minha vida, na vida da minha família”. E assim, um a um leva no íntimo o se pedido de graça e seu agradecimento à Mãe de Deus..