Às 15h30, na Basílica do Santíssimo Sacramento, um grande número de paroquianos, sobretudo aqueles que conheceram e conviveram com Pe. Magalhães, se uniram à comunidade redentorista de Aparecida para concelebrar a missa de corpo presente do missionário Pe. Magalhães, presidida pelo pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira, que começou com um minuto de silêncio em sua memória.
Na homilia, refletindo as leituras do dia, Livro da Sabedoria (3,1-9) e o Evangelho de João, 14, o pároco lembrou a vida do missionário. “Somos iluminados neste momento de oração pela palavra de Deus, palavra essa tantas vezes proclamada e refletida por padre Magalhães. O Livro da Sabedoria diz que 'a vida dos justos está nas mãos de Deus'. Quem são os justos? Creio que é aquele que se coloca totalmente disponível às vontades de Deus, dizendo sim ao chamado que ele faz a todos. Por isso, podemos enquadrar nessa leitura, como justo, Pe. Magalhães, que sempre teve a sua vida nas mãos de Deus, de uma forma, eu diria até especial, porque Deus o escolheu, o consagrou e o enviou para ser anunciador da Palavra”.
Prosseguindo, afirmou Pe. Sérgio que “essa vida agora plenifica e atinge seu último estágio. Venceu a vida do ventre materno, venceu a vida terrestre e agora a vida definitiva ao lado de Deus. A esse momento, gosto de chamar de o momento da colheita de uma vida toda de semeadura do justo. No Evangelho, Jesus nos conforta como sempre fez com as suas palavras, dizendo que vai preparar a nossa morada. Uma palavra confortadora (...).
E padre Magalhães vive esse momento completo de toda a sua vida sacerdotal, vislumbrando aquele de quem aqui na terra ele celebrou todos os mistérios. Para Pe. Magalhães, hoje, a promessa de Jesus se cumpre, porque, não o conheci, mas pelos inúmeros depoimentos que ouvi, ele viveu plenamente para servir. Foi misericordioso como o Pai é misericordioso”.
No final da celebração, para dirimir quais duvidas, padre Sérgio explicou que a missa de corpo presente é celebrada antes do sepultamento e por isso pode ser celebrada em qualquer parte do mundo, sem necessariamente ter a presença do corpo, e agradeceu a participação dos fieis.
“- Fico comovido com a participação. Confesso que não esperava esse tanto de gente, devido ao horário, mas isso é prova de que de fato as sementes que Pe. Magalhães aqui lançou, produziram e estão produzindo muitos frutos. Que ele possa acolher esse nosso gesto de carinho e agradecimento por tudo que realizou enquanto aqui trabalhou”.
Quem foi Pe. Magalhães ...
Mineiro de Pratápolis, Nazareth Magalhaes, nasceu em 29 de agosto de 1925, filho de Horácio Carlos de Magalhães e Maria Conceição Magalhães, o 12º filho de uma família de 15 irmãos. Lá mesmo em Pratápolis foi batizado e lá viveu até ingressar no
Seminário Santo Afonso, em Aparecida, aos 13 anos. No Santo Afonso concluiu seus estudos em dezembro de 1945. Durante o ano de 1946, fez o Noviciado em Pindamonhangaba (SP), e professou os votos na Congregação em fevereiro de 1947.
Os estudos de Filosofia e Teologia foram realizados no Seminário Maior Santa Teresinha, em Tietê. Durante três anos esteve fazendo estágio fora do Seminário e isso provocou um atraso em sua Ordenação Sacerdotal. Seus companheiros de curso foram ordenados em 1951 e Pe. Magalhães só foi ordenado sacerdote três anos depois, em 27 de dezembro de 1954, em Tietê, e celebrou a primeira missa em Passos (MG) no dia 1º de janeiro de 1955.
Pe. Magalhães começou seu apostolado como vigário paroquial, em 1955, na Paróquia da Imaculada Conceição, em Campinas (GO) e, nos 62 anos de vida sacerdotal, muito evangelizou. Depois de trabalhar em algumas cidades, em 1968 mudou-se para Sacramento, assumindo a reitoria do Seminário do Santíssimo Redentor, quando o pároco ainda era monsenhor Saul Amaral (1949/1971). No ano seguinte, 1969, chegava também padre Gil, primeiro pároco redentorista a assumir a então Paróquia de Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, em 6.6.71, tendo como vigário paroquial, Pe. Magalhães.
Depois de 11 anos, Pe. Magalhães foi trabalhar nas missões populares onde permaneceu até 1982, quando se transferiu para Angola (África), onde trabalhou durante longos 15 anos, inclusive, sofrendo muito por causa da guerra civil naquele país.
Retornando ao Brasil, passa a morar na comunidade do Jardim Paulistano (por pouco tempo), depois no Santuário, em Aparecida. Em 2009, transferiu-se para o Seminário Santo Afonso trabalhando no atendimento e aconselhamento de pessoas e como capelão na Santa Casa de Misericórdia.
Para a comunidade Redentorista, Pe. Magalhães foi um confrade de profunda espiritualidade e austeridade de vida. Sabia aproveitar o tempo na oração, nas leituras e estudos. Tinha especial carisma para o atendimento das pessoas, através do aconselhamento espiritual. Tendo grande apreço pelo hábito religioso; não deixou de usar a batina redentorista um dia sequer. Caridoso, sempre preocupado com o bem dos confrades, disposto a ajudá-los, relacionava-se bem com todos, sabia na hora certa contar alguma anedota para divertir a comunidade.
Depois de mais de dois meses hospitalizado em Guaratinguetá, morreu no dia 27 de julho último.
(Com informações de Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R, arquivista Provincial/Redação ET)
‘‘Pe. Magalhães passou a vida distribuindo caridade”
O ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges, filho da oblata redentorista dona Carmelita Bernardes Borges, de saudosa memória, sempre teve muita ligação com os missionários redentoristas. Foi ele que, como prefeito, teve a felicidade de condecorar Pe. Magalhães, com a mais alta honraria do poder Executivo, a Medalha da Ordem de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento.
José Alberto esteve em Aparecida há poucos dias, em visita a padre Magalhães, que estava internado na UTI do Hospital de Guartinguetá. Deixou com Pe. Alberto a bandeira de Sacramento, pedindo ao sacerdote que cobrisse o seu corpo com a bandeira e colocasse no seu peito a Comenda recebida em Sacramento.
Em entrevista ao ET, José Alberto lembrou do sacerdote com carinho. “Quantas vezes saindo de festas, em altas horas, me deparava com a igreja aberta, entrava para olhar e lá estava Pe. Magalhães, pacientemente, ouvindo as pessoas. Era o 'Padre Motoqueiro'. Tinha uma moto que lhe servia muito, pois podia ir a qualquer parte para atender um doente. Aquela moto foi-lhe dada de presente pela comunidade, através de uma campanha coordenada por Da. Cândida, da Administração Fazendária.
Lembro-me de um tombo que ele levou, próximo ao Posto do Rosário, ao escorregar no paralelepípedo molhado, mas não desistiu da moto. Um fato engraçado é que ele jogava futebol com os seminaristas usando a batina presa no cinto. Um grande homem, sempre muito disponível, não deixava de visitar um doente sequer. Era querido pelos líderes religiosos, pastores, espíritas, todos. Ele era um padre ecumênico. Deixou exemplos com a sua humildade, fez como Cristo, distribuiu palavras”.
Após a missa, José Alberto deixou a sua mensagem. “Padre Nazareth Magalhães, figura tão importante em nossa história. Homem de fé. Homem do confessionário. Homem dos doentes, dos pobres, dos humildes, como o seu patrono Santo Afonso Maria de Ligório.
Um homem que conviveu com as nossas misérias e as nossas alegrias. Padre Magalhães foi um homem que muito amou, por isso muito viveu. Seguiu rigorosamente as pegadas do Cristo. Teve muito amor aos penitentes. Um magnífico homem, um exemplo de cristão.
E busco nos salmos as palavras, “Cantai ó meu povo com alegria, porque o céu recebeu um grande homem”. Nós perdemos um amigo, mas temos lá em cima alguém, alguém que vai rogar ao Pai por nossas necessidades. Padre Magalhães passou por essa vida distribuindo caridade, seguindo as pegadas de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
O prefeito Bruno SCalon Cordeiro decretou luto oficial por três dias, com as bandeiras dos prédios públicos hasteadas a meio mastro. “Prestamos nossa homenagem a este grande sacerdote que por décadas dedicou seu trabalho religioso à nossa cidade, onde fez história e amigos”, destacou o prefeito.