Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

500 devotos louvam Sra. do Rosário e São Benedito

Edição nº 1541 - 21 de Outubro de 2016

No amanhecer do domingo, a cidade foi acordada com uma alvorada de fogos. Eram os festeiros da Festa do Congado nos preparativos para receberem os convidados dos 14 ternos inscritos. Foram recepcionados no Ginásio de Esportes Joélcio  Rogério de Oliveira pelos reis perpétuos da cidade,  Lucimar dos Reis e Everton Inácio, ambos netos do Rei Divino Inácio e Rainha Antonia Maria de Jesus, que por muitos anos conduziram a festa na cidade. Outra recepção foi feita durante o almoço no Clube Operário abrilhantada pela Orquestra de Viola de Sacramento, regida pelo maestro Cleomar Furtado. “Nós nos sentimos muito honrados com o convite para a festa e os brindamos com um repertório mais de cunho religioso. Fiquei maravilhado e quero parabenizar os festeiros, os organizadores, porque isso é cultura e não podemos deixar acabar, tem que valorizar essa arte e divulgar. Para nós da orquestra foi um prazer poder darmos nossa contribuição”, elogiou o maestro. 


“Só queríamos saudar nossa padroeira...”

Eram 15h, debaixo de um forte calor, quando os ternos se reuniram no alto do Chafariz e desceram até a Igreja de Na. Sra. do Rosário, passando pela porta da Basílica do Santíssimo Sacramento, onde receberiam uma bênção.
Um misto de decepção e tristeza tomou conta dos organizadores e dos devotos ao se depararem com a Basílica fechada. Mesmo assim, obedeceram ao ritual que anualmente fazem, de subirem a escadaria, saudarem a Padroeira da Cidade e se afastarem não dando as costas para a Igreja.
Seu Manuel, do terno de Guaxupé,  ao descer a escadaria afirmou: “Domingo é o dia do Senhor, igreja não podia ficar fechada”.
De acordo com Delcides Tiago Filho, como a Igreja celebra o Ano da Misericórdia, era um motivo a mais dos fiéis serem recebidos ali com uma bênção. A presidente Maria de Fátima completa: “Conversamos com o padre e ficou acertado que teríamos a bênção na porta da Basílica. Estivemos na rádio duas vezes, uma delas com o padre, acertando tudo. Se nos tivessem avisado com antecedência, teríamos corrido atrás de alguém para abrir”, afirma.
O devoto José Marques 42, diante da justificativa de que os padres não estavam na cidade, alguém deveria abrir a Igreja: “Se os padres estão ausentes, pelo menos a porta tinha de estar aberta. Eu vi muita gente ajoelhando diante da porta fechada. Vejo isso como um desrespeito à nossa tradição. Não culpo os padres, porque eles são poucos e pode ser que tenham até esquecido, o que é lamentável, mas alguém deveria estar lá para abrir. Como fazemos todos os anos, não entramos, só queríamos  saudar a nossa padroeira. E  que ela nos visse passando com os nossos santos. Eu acho que os padres deveriam ter outras pessoas responsáveis para isso”.
Na chegada à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o rei Francisco, de 89 anos, da cidade de Ibiá, que, como outras pessoas mais idosas, desceu de ônibus, comemorou ao ver abrirem a porta da Igreja do Rosário, já com os ternos chegando à praça: “Louvado seja Deus! Abriram a Igreja”.
Seu Francisco tem uma bonita tradição. É congadeiro desde criança. “Comecei menino ainda, uns oito ou nove anos, com meus avós, meus pais e nunca mais parei. Eles já morreram e até eu sigo firme aguardando a minha hora. Hoje sou rei perpétuo, e graças a Deus este ano pude vir participar aqui pela primeira vez com muita alegria”, declara e relata que a Associação dos Congados e Moçambique de Ibiá tem a sua paróquia, depois de 25 anos.
O fato de a Basílica estar fechada rendeu também muitos comentários nas redes sociais.
Pároco - Respondendo a emeio do ET, o pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira, justificou:
‘‘O que ocorreu foi apenas uma falta de comunicação entre os encarregados de abrir a igreja. Vocês sabem da importância que a paróquia dá a esse tipo de manifestação religiosa cultural. De Trindade, por telefone, consegui resolver o mal entendido e tudo acabou dando certo...’’

 

Presidenta pede mais apoio para manterem a tradição

Incansáveis, a presidente da Guarda de São Benedito e Na. Sra. do Rosário, Maria Aparecida de Fátima Moreira e os demais membros da diretoria, Cleverton Inácio, José Augusto da Silva, Delcides Tiago e um grande número de apoiadores, mais uma vez podem dar vivas pelo sucesso da festa.
“- Graças a Deus, a Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito conseguimos a união de todos os ternos da cidade, porque é uma festa da cidade. É uma cultura para a qual  a gente luta, batalha para que ela seja respeitada, valorizada, assim como o Grupo da Raça Negra que sempre nos está ajudando. Precisamos de muito ainda para melhorar, principalmente de mais apoio, de mais  ajuda. Por isso faço desde já um apelo ao prefeito eleito e aos vereadores: precisamos de suporte para continuarmos mantendo viva a nossa história, a nossa cultura”, conclamou.
 Depois da saudação à corte, os visitantes seguiram para três pontos de encontro para o almoço,  oferecido pela Guarda de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário e pessoas com promessas a cumprir; festeiros da Família Ferreira (Bigico) e festeiros da  família Caiana.

 

“Preparamos a festa o ano todo...

Para a rainha Lucimar, filha da saudosa Terezinha Reis (Everton Inácio - Tom, do saudoso rei Sebastião),   a cada ano é uma emoção ver a festa acontecer. “Preparamos a festa o ano todo, participando dos eventos em outras cidades, para que possamos tê-los na nossa festa. Fazemos tudo para sair da melhor forma possível, mas às vezes encontramos alguns obstáculos, porém nossa fé é tão ardente, e os nossos santos nos confortam de uma maneira tão graciosa que conseguimos superar os desafios e realizamos a festa reunindo esses ternos que nos vêm prestigiar e conosco professar a nossa fé e devoção a Nossa senhora do Rosário e São Benedito”, ressalta, empenhada em legalizar os papéis do terno, que ainda não tem o reconhecimento do Estado e da União.
Para Cláudio Inácio dos Santos, presidente do terno de Moçambique Nossa Senhora do Rosário, de Sacramento, o encontro além de festejar os santos de sua devoção mantém a tradição.
“- Moçambique, Congado, somos todos uma família só, todos juntos cantando para nossos padroeiros. É uma alegria participar”, diz o presidente, informando que o Terno de Moçambique realizou no mês de agosto sua primeira festa independente, que espera repetir nos próximos anos.

 

Se Rita e Idalides não vão ao Encontro, os congadeiros vão ao encontro delas

As irmãs Rita Felício e Idalides, ambas sem condições de participar dos festejos desse ano por problemas de saúde, viveram uma grande emoção ao receberem em sua casa a visita de um dos ternos da cidade de Uberlândia e por poderem assistir a todo o cortejo que passou na porta da casa, na rua Tia Joana.
Para Hanilton Sérgio 48, capitão dos congadeiros uberlandenses há 19 anos é uma alegria poder fazer a alegria daqueles que não podem mais participar. “É uma tradição que corre nas veias e não morre nunca, vai passando de geração em geração”, afirma e fala da importância de Encontros como este.
“- Encontro de Congado, Moçambique e outros é uma oportunidade de conhecer novos ternos, trocar experiências, ideias, fazer novas amizades e como diz o nome, é um encontro, porque a gente só se encontra nas festas, mas o mais importante de tudo é que mantemos viva a tradição de nossos antepassados. Essas festas, encontros fazem com que a tradição vá passando para as novas gerações”.
Na passagem pela praça do Chafariz, quem pôde se encontrar  com o cortejo foram os moradores do bairro, dentre eles, alguns idosos do Lar São Vicente de Paulo: Ivo, Áurea, Sebastião, Maria do Rosário e outros, acompanhados pela técnica de enfermagem Maria Terezinha Damaso e a cuidadora Elaine Ribeiro da Silva.  E, logo à frente, já na av. Cônego Julião Nunes, a famosa costureira Antonina dos Santos (Purunga), rodeada de sobrinhos, aplaudiam o cortejo.
“- Isso está no sangue. Nossos antepassados participavam do Congado, lembro bem do meu tio Galdino o tanto que ele gostava. Todos nós que temos o pé na senzala (referência a antepassados escravos, grifo nosso) temos que aplaudir essa festa”, afirma.