Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Romeiros dão testemunho de fé e perseverança

Edição nº 1427 - 15 Agosto 2014

Nesta semana da 137ª festa de Na. Sra. d´Abadia, na cidade, o ET entrevistou alguns dos líderes que coordenam romarias até o seu Santuário, na cidade de Água Suja, hoje Romaria. Veja algumas histórias.


Vicente Torquato

Iniciamos com o belo testemunho de, talvez, o mais longevo de todos os romeiros, Vicente de Paula Melo (Vicente Torquato), hoje aos 84 anos, fala ainda com emoção das caminhadas que fez até os 79 anos, durante 19 anos de romaria ao Santuário da Santinha d'Abadia. Ele parou, mas anualmente, visita o santuário no dia 15 de agosto, levado de carro pelos filhos. 

Tudo começou com uma promessa feita para a filha, Angelita, que tem hoje 37 anos. “A primeira vez,  fui eu, Deus e Nossa Senhora d'Abadia”, afirma  e relata como tudo começou, em São Paulo.  “Minha filha caçula nasceu com síndrome de Down, com um grave problema da mistura do sangue venoso com o arterial, que afeta os pulmões e, consequentemente, a respiração. Nós a levávamos para tratamento no Hospital Sírio Libanês, onde foi obrigada a se submeter a uma cirurgia de altíssimo risco. 

Estivemos, minha esposa Adália, Angelita e eu durante um mês em Sã Paulo aguardando ela melhorar de uma crise de brônquios. Marcada a cirurgia, minha esposa acompanhou 'ela' até a sala, enquanto eu aguardava na sala de espera. Nessa  hora eu disse que se ela saísse da cirurgia com vida,  eu iria até Água Suja a pé, agradecer. Nisso, um médico saiu do elevador, procurando pelo pai da Angelita, o meu coração disparou. Ele disse: 'Não deu para fazer a cirurgia, porque ela entrou em crise de brônquios'. Na hora eu lhe disse: 'Me devolve minha filha agora'. Só que não podia, porque ela estava anestesiada. Agradeci a Deus por ela não ter feito a cirurgia tão arriscada. Retornamos a Sacramento logo que recebeu alta e, assim que chegamos,  guardei o carro na garagem, botei  uma mochila    nas costas e saí sozinho e  Deus até o Santuário de Água Suja”, recorda emocionado.

 

* Baltazar de Oliveira, o Tio Bata ou Estilingue,  74, com 25 anos de romeiro, lidera o grupo com João Virgílio e faz isso com gosto. “Fui uma vez pra ver como era e não parei mais. A gente não agüenta ficar sem ir. Vai chegando o meio do ano, as canelas começam a coçar. Tem que começar a preparar pra pegar a estrada e, graças a Deus e Nossa Senhora, foi mais um ano cumprido.  Agora estou planejando ir na semana da festa, porque  dia 15 de agosto será no sábado, e como a gente sempre sai na quinta-feira e chega lá no sábado, vai dar certinho”. 

 

* José Eriberto de Oliveira, Zezé Pintor, 44, é romeiro há 21 anos por gosto. “Todo ano gosto de ir ver a santinha. É uma viagem cansativa, mas chega lá, passa nos pés dela que sara tudo. E pretendo ir enquanto a santinha der forças”. O Grupo do Zezé já teve 12 pessoas, atualmente são seis, o que facilita inclusive no apoio. Este ano o grupo foi composto por Serginho Santana, Baltazar Funileiro, Baltazar Eletricista e o Claudinho Funileiro. No apoio foi o Pretinho, filho de Baltazar Eletricista e o Serginho já está treinando o menino dele. O Parado faz parte do grupo também, mas esse ano ele não pôde ir conosco”. 

 

 * Hélio Antônio de Santana Paim (Parado), 58 anos, há 12 anos faz a trajetória, na turma do Zezé Pintor. “Eu ia pagar uma  promessa e pela nossa amizade me juntei com o grupo do Zezé e  nunca mais parei. Este ano, não pude ir com o grupo na primeira semana, mas irei  ao santuário,  ainda este ano, a pé. Quero manter a tradição, porque a sensação de bem estar ao chegar lá é muito grande e, ao chegar aos pés de Nossa Senhora, a gente já chega pensando no ano seguinte”.  

   

* Evaldo Martins Ranuzzi, 45, desde os 17 anos é romeiro de Maria e tudo começou com uma  promessa que estabelecia a caminhada a pé ao santuário até os 25 anos, isto é, deveria durar oito anos. “Cumpri a promessa e decidi continuar. A primeira vez éramos um grupo com 23 pessoas, o Dadinho, José Renato Massa, Celião, Zé Batista e muitos outros. Muitos  foram parando e o grupo foi  diminuindo,  fomos este ano com nove pessoas. É uma viagem puxada, mas quando a gente chega aos pés de Nossa Senhora é uma emoção muito boa, saber que temos saúde para isso. Se eu tivesse que fazer a mesma promessa novamente faria tudo de novo  e enquanto  eu puder vou fazer a romaria”. 

 

* Geralcino Silveira Borges (Sibirica), 64,  é romeiro há 15 anos, mas não é por promessa, mas pela fé. “Enquanto eu tiver forças vou visitar Nossa Senhora”, explica destacando que a turma não é dele. “Ela é nossa e cada um tem a sua responsabilidade”. Feliz com mais uma viagem bem sucedida, agradece: “Vale a pena, muito a pena. Na hora que chega lá é só alegria.  Há 12 anos subo a escada ajoelhado, só que este ano deu câimbra. Levantei, subi um degrau a câimbra foi embora, bati o joelho de novo e fui parar no altar, graças a Ela”.  

 

* Idelfonso Rodrigues de Oliveira, 68, faz parte do Grupo dos 13, mas em 1964, aos 18 anos fez a primeira caminhada a Água Suja com os companheiros da fazenda Mateira onde residia, o Osmar Zago, Zé Rolinha e Toim Fernandes. “Eles iam lá pagar uma promessa e decidi ir junto pra conhecer. Uma viagem muito difícil, não havia nem estrada, era um serradão doido até lá. Ali na Nova Ponte, o rio ficava lá em baixo, era uma pirambeira pra chegar na ponte de madeira. Levamos umas capangas,  embornais de pano com a matula, uns pano pra dormir, cabaças d´água e só. Não existiam mochilas. E foi uma viagem muito puxada, porque fomos em dois dias. Mas paramos aí”, recorda.

Anos depois, já casado, morando na cidade ia com a família a Água Suja de ônibus. “Tínhamos os dois meninos, o Sandoval e o Marcelo, a Neusa e eu pegávamos os dois e  íamos de ônibus. O pessoal  fazia romaria na época da festa. Depois, comprei uma Kombi e a gente ia e levava outras pessoas. Foram muitas viagens por aquelas estradas. Parei uns tempos e resolvi ir a pé, passei a  fazer parte do grupo da Arlete do Santo Antônio. Fomos três anos juntos. No quarto ano,  ela adoeceu e não haveria a romaria. Mas parecia que havia um vazio, estava  faltando alguma coisa e decidimos  ir sem ela e não paramos mais. Hoje somos o Grupo dos 13.  Davi Cintra, Sandoval, Lano Loyola, Walter Bonetti, Dudu Rezende, José Francisco, Adriana, Márcio,  Sílvia, Gisele, Djé, Leila e Marinho. Este ano juntou mais o Nelson Zago”.

 

* José Batista Honório, (Zé Batista), 61, foi peregrino de Nossa Senhora D´Abadia, por 30 anos, dos 27 aos 57 anos. Há quatro anos decidiu parar a caminhada, mas a esposa Iracy Abadia dos Santos Honório, que já fazia a trajetória da fé há alguns anos decidiu que a família não deveria parar. “Ele parou, mas senti que alguém deveria continuar liderando o grupo e aí,  segui na caminhada, o  nosso filho Leandro, mas o Zé ajuda na organização. O Romildo que já caminhava com ele, continua no grupo e  ajuda muito na organização. Este ano,  completei a  décima caminhada, num grupo com 14 pessoas. Saímos na quarta-feira, às 3h30 e chegamos no sábado”, relata, recordando emocionada o que é chegar aos pés da imagem todo ano.  “É muita emoção. Só que vai sabe o que é, só que a gente vai pela fé, não é por  esporte, é muito diferente, vamos pela fé, é uma caminhada diferente. Todo ano sinto que é preciso dar uma parada no dia a dia para essa penitência”, afirma.

De acordo com Iracy, quando Zé Batista começou o grupo era formado pelo Cinzano, Vilmar do Laticínio, os irmãos Berto e Leo Cerchi e o engenheiro Ronaldo de Oliveira. Este ano, o grupo foi com Iracy,  Leandro, Romildo, Orley, Walkíria da Jaguarinha, Kênia e a nora Lislene, Irany Bizão e o filho Dimas, Antônio, Alessandro, Romário e Roberto no apoio.  

 

* Walmor Júlio, 66, é também romeiro antigo, mas parou uns anos. “Não me lembro o ano que comecei, sei que foi no finalzinho dos anos 80... Me lembro dos fatos, uma grande turma na Romaria do Cinzano, éramos mais de 30 romeiros, com um grande caminhão de apoio. Foram vários anos, até que, por problemas de saúde, o grande Cinzano deixou a caminhada... Continuamos com um grupo menor até 2009, quando o João Lopes, que estava conosco havia vários anos assumiu a Romaria e continua até hoje, com quem me aventurei mais uma peregrinação este ano, depois de cinco ausente. Quando me perguntam por que enfrento essa dura caminhada de quase 150 quilômetros, respondo sempre que 'vou para agradecer, para pedir, para rezar...' Aprendi desde cedo que Nossa Senhora é medianeira de todas as graças junto a seu Filho. Essa fé herdada do berço me motiva chegar ao Santuário da Mãe. Fiz este ano um grande passeio na Romaria do João, com Marinho, Marino e Toinzinho, de apoio.

De alimento, Vicente não levava nada, só água. “Peguei com Deus e Nossa Senhora e segui. De hora em hora eu rezava um terço. Fui parar e comer às 11 horas da manhã,  em Almeida Campos. Dei uma descansada.  Meus pés incharam demais, eu nunca havia andado tanto, mas eu pensei: vou chegar. Pousei na estrada de novo.  Foram dias e noites. No terceiro dia,  cheguei aos pés de Nossa Senhora para agradecer, depois de ter rezado mais de 50 terços. Nesse dia, o Movimento Mariápolis fazia um encontro no Santuário”, recorda mais. 

A partir de então, Vicente continuou com a  caminhada anual. “Fui mais umas duas vezes sozinho, depois aparecia um, outro. Minha nora Bete foi duas vezes. Uma vez o Berto Cerchi e o meu sogro Torquato me alcançaram em Nova Ponte  e assim se passaram 19 anos e sempre rezando o terço de hora em hora.   Por problemas  no  joelho,  não consegui mais fazer a caminhada, mas no dia da festa, 15 de agosto, lá estou para agradecer, porque a Angelita  tem 37 anos,  é sadia, nunca mais teve problemas. Sou um  vitorioso e ela também”, afirma.

Vicente é viúvo há seis meses de Adália, pais de sete filhos Lúcia Rita (falecida), Maria Cristina, Lucília, Luciano, Adriano, Larissa e Angelita.