Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Final da entrevista: Pe. Paulo deixa clero diocesamo pelos dominicanos

Edição nº 1412 - 02 Maio 2014

ET - Você celebra neste final de semana a última festa na zona rural, a 2ª Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros, no Desemboque, que foi na verdade um resgate histórico. Fale um pouquinho dessa festa.

Pe. Paulo - A Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Negros,no Desemboque, foi na verdade um resgate. O nosso intuito foi tirar Desemboque dos livros e fazê-lo entrar nos corações das pessoas, mostrar a sua riqueza histórica, o valor do lugar. E nósconseguimos a participação de nove cidades, um grande número de pessoas, muitas que inclusive voltaram às origens depois de muitos anos longe do povoado. Com isso percebi que aauto estima das pessoas da comunidade teve um salto qualitativo considerável. Nosso intuito, como já disse, foi recuperar esse valor e fazer as pessoas se sentirem felizes no lugar onde estão, que é possível fazer a festa lá, valorizá-las de tal forma que se torna gratificante ver o resultado. 

 

ET - Como está a segunda festa?

Pe. Paulo - Esta segunda festa não terá a grandiosidade da primeira, até porque está muito perto. Há uma participação menor de cidades, mas cinco cidades estão voltando. Para nós é sinal de que eles gostaram. Estou deixando o meu trabalho aqui, mas a semente foi plantada, a comunidade sabe como fazer e que é possível fazer. Estamos aí com padre Gil Araújo, que já vem tendocontato com as comunidades com muito gosto, está empolgado com o trabalho e tenho certeza de que elevai acolher bem o que o povo plantou e que  tudo terá continuidade e se por ventura, assim não for, vai continuar pelo povo, que foi preparado para isso e tem consciência de que podem fazer.

 

ET – Fica para trás outro grande projeto, a reforma das igrejas do Desemboque...

Pe. Paulo – Sim, é verdade.  Mas deixo muito bem encaminhado.É um grande projeto elaborado junto com a comunidade e governo municipal no sentido de restaurar aquelas igrejas que, mais que fazer parte da vida daquelas pessoas, é parte da história regional. Fizemos um abaixo assinado, que foi protocolado junto ao governador do Estado e pelo que sabemos, através do IEPHA. Segundo documentação que nos foi enviada,o processo de licitação para a Igreja de Nossa Senhora do Desterro acontece este ano. Porém, sabemos que tudo que se trata de governo é demorado, mas considero que estamos um passo adiante, pois conseguimos mobilizar e acordar acomunidade e chamar a atenção do Estado. A verba vai sair um dia, se Deus quiser. Entendo queo trabalho eesperança não  devem morrer e quero estar aqui para a reinauguração. 

 

ET - E como é que foi dar 'tchau' pra todo mundo da zona rural?

Pe. Paulo - Percebi um certo espanto e tristeza pela minha partida. Eu, particularmente, sinto-me balançado,porque sempre estive muito ligado a eles. A acolhida que tive nunca me fez arrepender de ir para as comunidades rurais, tanto que rodava mais de 1.500 km todo mês e algumas comunidades, os povoados, eu visitava mais de uma vez por mês. Vou com o coraçãocheio de saudades! Graças a Deus, o povo da zona rural foi muito importante para esse meu início de caminhada sacerdotal. Vou levar saudades e a certeza do dever cumprido e com a esperança de que existe muita coisa ainda pela frente. 

 

ET - Antes da sua mensagem final, qual é a sua formação e pretende especializar-se em alguma área?

Pe. Paulo - Padre Paulo cursou Filosofia na Faculdade Católica, atual PUC/MG em Uberlândia;Teologia, no Instituto de Teologia São José, em Uberaba. Fiz um trabalho monográfico abordando o perfil do bispo nos quatro primeiros séculos da Igreja,que foi publicado numa revista de Teologia  com circulação no Brasil, Argentina e Itália. Foi uma formação simples, porém profunda, pois sempre me dediquei muito e, pretendo me especializar em Patrologia que é o estudo dos padres nos primeiros séculos, aqueles que lançaram as bases da fé da doutrina católica, com enfoque na Eclesiologia e na Antropologia. 

 

ET - E Sacramento na sua vida? 

Pe. Paulo - Com certeza,Sacramento será sempre  uma das boas recordações que levarei e vou dizer uma coisa: todos deveriam começar o sacerdócio aqui em Sacramento, pela atmosfera de fé,   pelo respeito com  os sacerdotes, pelo engajamento na comunidade, que são marcas muito importantes que vão ficar em minha vida e que com certeza me farão voltar sempre  e com certeza vou encontrar um lugar para ficar. Como os frades não têm muita ligação com paróquia, vou ficar igual o padre Beltrame(risos). Mas sei que vou encontrar sempre os corações abertos. E só me resta dizer que me sinto feliz por, neste momento,ter mais motivos para agradecer a Deus que para pedir. Agradeço pela acolhida, o coração aberto de cada um, das casas que visitei, pelas amizades que fiz. Agradeço por tudo que recebi da Arquidiocese e todos estarãonas minhas orações de louvor nas missas que eu celebrar, seja onde for.