No dia 29 de junho, Dom José Luiz Majella Delgado esteve em Roma para receber a imposição do Pálio do Papa Francisco. O Pálio é uma insígnia exclusiva dos arcebispos e do patriarca de Jerusalém do rito latino. Na oportunidade, se encontrou com padre Michael Brehl, Superior Geral dos Redentoristas e recebeu o Scala News para uma entrevista, quando falou dos quatro anos de trabalho episcopal na diocese de Jataí. Confira alguns trechos da entrevista:
O trabalho na diocese de Jataí
Nomeado bispo em 2009 para a diocese de Jataí (GO), Dom Majella encontrou grandes desafios na diocese que estava há 30 anos nas mãos de dom Benedito Coscia. “Ao chegar na diocese, eu comecei um trabalho de organização da parte contábil e financeira de modo que eu pudesse vislumbrar melhor esse aspecto da vida diocesana. Centralizei na Cúria Diocesana a economia das 29 paróquias e a partir dai nós organizamos um trabalho com três pontos fundamentais: departamento contábil financeiro, o departamento patrimonial e o departamento de Relações Humanas, o RH. A partir disso, conseguimos realizar uma caminhada de muita transparência e adquirimos uma confiança do clero e do povo. Anualmente, eu prestei contas dos gastos para o clero e para as lideranças leigas, sobretudo aquelas que fazem dos conselhos paroquiais e administrativos”.
No campo da pastoral
“No aspecto pastoral, a diocese é organizada em quatro distritos, onde prosseguimos o trabalho de evangelização enfocando a caminhada de cada distrito. A diocese não é muito grande, são 63 mil quilômetros quadrados, e a sede está localizada exatamente no centro da diocese. O primeiro passo foi criar um conselho diocesano de pastoral, composto por 25 pessoas representando os distritos e os movimentos presentes, com o qual eu me reunia de dois em dois meses. E, com isso, fomos criando projetos pastorais. Em 2012, criamos um Plano Diocesano de Pastoral; em 2013, as paróquias realizaram as assembleias paroquiais, com objetivo de olhar o Plano Diocesano e fazer com que o Plano chegasse à paróquia. Neste ano de 2014, o Plano está em andamento e pretendemos realizar assembleias nos distritos pastorais e criar um projeto pastoral para cada distrito. E, 2015, conforme era o nosso projeto, iríamos realizar uma assembleia diocesana. Desse modo, nós percorremos um caminho pastoral e foi muito bom.
Durante esse tempo, eu visitei todas as paróquias várias vezes, mas há dois anos, passei a fazer a visita de modo mais organizado. Eu passava uma semana em cada paróquia visitando as lideranças, as famílias, as escolas e isso também foi muito importante, porém, eu não consegui realizar, naturalmente, o projeto todo”.
Relação com a família redentorista
“Minha relação com a família Redentorista se deu, em primeiro lugar, pelo lado afetivo. Nas viagens que eu fazia a Goiânia, eu sempre passava na casa do Noviciado que fica na entrada da cidade, na rodovia que liga a capital do estado a Jataí, onde eu residia. Anualmente, ia a Trindade, inclusive levei todo o clero. Nós fizemos uma peregrinação a Trindade, ao Santuário do Divino Pai Eterno e celebramos uma missa lá. Eu percebia que minha presença na festa era importante porque os fieis da minha diocese lá estavam.
E foi, justamente, durante uma dessas festas do Divino Pai Eterno que eu falei com o provincial dos Redentoristas, padre Fábio Bento da Costa, sobre o que ele achava da Congregação realizar a fundação de uma comunidade na diocese de Jataí. Eles acolheram a proposta de fazer uma fundação na cidade de Rio Verde, na diocese de Jataí. Para mim, foi muito importante porque eu ofereci à Congregação Redentorista uma parte de uma paróquia de 60 mil habitantes na qual eu pretendia dividir o território para formar uma nova paróquia deixando a periferia da paróquia para os Redentoristas. Os Redentoristas estão nessa paróquia há seis meses e, com a graça de Deus, eles estão revolucionando a paróquia tanto em nível pastoral, como estrutural. Já estive com eles algumas vezes, já nos confraternizamos e eles se manifestam dispostos diante dos desafios”.
Como acolheu a nomeação de Arcebispo
“Para mim foi outra grande surpresa receber esse pedido do Santo Padre. Eu acolhi. Quando eu conversava com o senhor Núncio Apostólico, no meu coração vinha aquela experiência do profeta Isaías quando a brasa quente foi passada nos seus lábios e o profeta disse: “Eis-me aqui. Envia-me! A minha disponibilidade é fruto da minha personalidade, eu reconheço, mas é um legado da minha formação redentorista. Meus formadores me ensinaram e deram testemunho. Meu tempo de formação redentorista deixou uma marca muito grande e convivi com muitos confrades que, posteriormente, eu fui vendo como eram homens desapegados, disponíveis para a missão. Então, foi desse modo que eu atendi esse pedido do Papa. Assumi surpreso, com o coração inquieto, mas confiante na misericórdia de Deus. Eu deixo uma diocese em construção nos seus vários aspectos. E vou assumir uma outra diocese que confesso não ter nenhum conhecimento. Andei tendo alguma informação, mas claro, primeiro vou chegar lá para ver como é que é. Essa é a minha apreensão”.
A nova diocese e os redentoristas
“Eu estou assumindo uma diocese que tem uma história muito bela no sentido de que ela tem sido o berço de muitos confrades Redentoristas. Pouso Alegre está localizada num região do sul de Minas Gerais que faz limite com o estado de São Paulo, principalmente com a região de Aparecida. Hoje o Senhor me coloca ali. Para mim, é estar na fronteira com Aparecida. É o grande conforto do meu coração depois que eu fui meditando, sobre a minha presença em Pouso Alegre é que tenho a sensação de que eu estou na janela olhando a Mãe Aparecida do outro lado (Dom Majella se emociona e fica em silêncio). E da janela poder contemplar Nossa Senhora é sentir que a Mãe que me ampara, que me protege, a Mãe que olha para o filho com todos os seus limites e seus pecados, ela está sempre pronta para acolher. Inicialmente, quando eu fui para Jataí, confesso que fiquei muito distante dos Redentoristas e por isso era o meu sonho ter uma comunidade Redentorista em Jataí porque eu estaria mais próximo da família Redentorista. E agora, lá em Pouso Alegre, eu posso vislumbrar um pouco mais a família Redentorista. Depois, a diocese de Pouso Alegre é um berço missionário para a família Redentorista, não somente pelo fato de muitos Redentoristas terem nascido lá, mas pela tradição de que na Semana Santa, os Redentoristas sempre vão evangelizar naquela região”.
O significado de ter recebido o Pálio do papa Francisco
“O Pálio é a comunhão que o arcebispo sela com o Sucessor de Pedro. Tanto que depois de confeccionado o Pálio ele fica sobre o túmulo de Pedro e é de lá que ele retirado para ser imposto sobre os nossos ombros. Ele significa a ovelha desgarrada que o pastor traz nos ombros e a introduz ao redil. Na minha meditação sobre esse significado, eu comecei a aprofundar e me fazer a pergunta: quais são as fronteiras da arquidiocese de Pouso Alegre? Este Pálio tem de me levar lá nessas fronteiras da arquidiocese. É esse o compromisso que eu tenho. Um compromisso. Eu preciso ir às fronteiras. O Papa Francisco vem insistindo conosco em termo das 'periferias'. Ele fala da periferia não apenas geográfica, mas da periferia existencial. É a mesma coisa. Eu fiz a reflexão com o termo 'fronteira'. E é lá que eu preciso chegar. Esse Pálio está sendo para mim, uma missão, além do compromisso com o Santo Padre, é o compromisso que eu tenho com esse povo. Só que não é somente na arquidiocese”.
Dioceses sufragâneas
“O Pálio confere ao arcebispo de usá-lo na diocese e nas dioceses sufragâneas. A Arquidiocese de Pouso Alegre tem duas dioceses sufragâneas. A primeira delas é a de Campanha, que teve como bispo, dom Ariovaldo Amaral, Superior Geral Emérito Redentorista, e que também foi um dos meus mestres de noviços por três meses antes dele ser nomeado bispo. Quando eu fiz noviciado, dom Amaral fazia parte da equipe de mestres. Padre Matias, o mestre, dom Amaral e padre Barbosa. Eram três mestres. Padre Barbosa era mestre dos irmãos, dom Amaral era responsável pelos coristas, assim se falava, na época. Mas depois de três meses, ele foi nomeado bispo e no lugar dele entrou o Pe. Vieira. E a outra diocese sufragânea é de Guaxupé. Então, o Pálio concede a mim, como metropolita, acompanhar a caminhada pastoral intensificar a comunhão com essas outras duas dioceses. Eu acolho o Pálio nesse sentido: é a busca da ovelha desgarrada, mas é a missão, a missão que me leva às fronteiras da diocese e das outras dioceses”.