Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Irmãs de Cluny celebram cinquentenário na cidade

Edição nº 1345 - 18 Janeiro 2013

Uma missa em ação de graças, celebrada na noite do dia 13 último, na Matriz do Santíssimo Sacramento, pelo vigário paroquial, Pe. Paulo Henrique Martins, abriu as festividades de comemoração do cinquentenário da presença das irmãs da Congregação de São José de Cluny, em Sacramento. 

A celebração contou com a presença de Ir. Erminía Maria Genaro, 51, superiora da congregação no Brasil; Ir. Mafalda do Menino Jesus, 93, que viveu 12 anos na cidade;  Ir. Juliana Ferreira, 86, que trabalhou também na cidade durante 34 anos e irmã Florência da Silva, 63, com 19 anos em nosso meio. Além da presença das irmãs Cecília Horikoshi e Maria Rosa dos Santos, atuais coordenadoras da Ciju São Vicente de Paulo, obra assistencial administrada pela congregação. 

“- Esse dia 13 será um dia de ação de graças e não há melhor ação de graças que a eucaristia. Vamos dar graças a Deus por esses 50 anos de presença em Sacramento com toda a comunidade”, disse a superiora ao final da celebração, agradecendo à cidade pelo apoio dado à Congregação nesses 50 anos. 

Para Ir. Hermínia, a comemoração do cinquentenário será também uma oportunidade de trabalhar as vocações. “Essa comemoração será também um chamado, porque vamos tornar mais conhecidos o carisma e a espiritualidade, a grande mulher que foi Ana Maria Javouhey. Vamos, sim, tornar conhecida essa grande riqueza que é o carisma dado para o bem do mundo, para o bem das pessoas”. 

A Congregação das Irmãs de São José de Cluny, fundada em 12 de maio de 1807, por Ana Maria Javouhey, chegou ao Brasil em 1960. Três anos depois, no dia 02 de janeiro de 1963, atendendo a um pedido do arcebispo de Uberaba, Dom Alexandre Gonçalves Amaral, quatro irmãs da Congregação, Madre Antônia Fernandes, Ir. Maria Benigna de Jesus Martins, Mafalda do Menino Jesus, Izabel Vieira e Tereza Vaz chegam a Sacramento para administrar a Santa Casa de Misericórdia. 

E pensar que por pouco as irmãs não desistiram da cidade. Mais uma comprovação de que Sacramento é de fato uma terra abençoada. De acordo com irmã Benigna, em uma de suas entrevistas ao ET, a escolha estava entre duas Santas Casas, a de Uberaba e a de Sacramento. Em uma visita prévia para conhecer a cidade, a superiora, Me. Antônia, não gostou do que viu. As péssimas condições do hospital e a falta de acomodação para as irmãs pesavam na opção. A fixação em Uberaba estava decidida, quando a imagem de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, muda os acontecimentos. Veja o fato contado por Ir. Benigna:

“- Descíamos da Santa Casa pela av. Vigário Paixão, Me. Antônia e eu, em direção à casa de Da. Carmelita Bernardes Borges, que nos hospedou a pedido de Dom Alexandre, quando divisei no alto da Igreja Matriz, a imagem de Nossa Senhora, a padroeira da cidade, e lhe pedi que nos iluminasse um pouco mais naquela decisão. Lembro-me de que as luzes da cidade eram uns 'tomatinhos' no alto de postes de ferro. As duas caladas, até que, em determinado momento, Me. Antônia disse: 

“- Isto aqui é um canto!” (cidade distante, abandonada, desajeitada... – grifo nosso). Olhei para Nossa Senhora no alto da Igreja e respondi-lhe:

'-Nosso Senhor Jesus Cristo esteve em todos os cantos, minha Madre'.  Essas palavras  parecem ter comovido Me. Antônia, e ficamos”.

Na tarde do domingo, as quatro irmãs visitantes e as duas de Sacramento, estiveram reunidas para elaborar uma programação para um ano de comemorações na cidade,  a partir deste  dia 13. A programação será apresentada na assembleia geral da Congregação entre os dias 22 a 26 de janeiro e logo será colocada em prática. 

A pioneira, irmã Mafalda do Menino Jesus
Irmã Mafalda do Menino Jesus, seria por assim dizer, a maior mensagem vocacional para Sacramento. Das cinco fundadoras, é a única viva. Risonha e alegre como sempre, ao perguntarmos a idade de irmã Herminia brincou: “Eu estava há dois anos já no Brasil, quando ela nasceu e agora manda em mim”, disse entre risos, e a superiora completa: “Eu estou servindo à Congregação, à senhora devo obediência”, isso em meio a muitos risos. 
Irmã Malfada  esteve na cidade há dois anos e se confessa extremamente feliz por poder voltar, principalmente para comemorar os 50 anos da sua chegada a Sacramento.   “Não pensei que voltasse a Sacramento. Poder voltar foi um presente de Deus para mim”, disse, acrescentando: “Fiquei muito feliz com o convite. Vi, depois que chegeui aqui há 50 anos,  um crescimento grande na cidade. Lembro da Santa Casa original, muito bonita, era aquela escadaria, uma entrada de pedra... Tenho uma foto. Bonita mas pobrinha. Conheci quase toda a criançada   da cidade no Ginásio Estadual, (Escola Coronel – grifo nosso), onde lecionava e estudava quase toda a sociedade de mais idade em Sacramento. Eram as minhas crianças e lá se vão 50 anos. Amo a cidade e toda gente que está aqui”, lembra, demonstrando saudade.  
Ir. Mafalda lembra das pobres acomodações das irmãs até ganharam uma clausura da família Bonatti. “Logo que nos acomodamos na Santa Casa, vieram os planos da capela e da clausura para as irmãs. Iniciamos a capela, mas o dinheiro acabou. Fizemos um apelo ao  senhor Ferrúcio  Bonatti, que acabou a obra. Custearam tudo ele e sua filha, dona Aparecida, com a ajuda de outras pessoas. Mudamos-nos para a clausura montadinha, mobiliário, louças, tudo”, recorda. Ir. Mafalda, com uma memória prodigiosa, no alto de seus 92 anos, lembra de um fato engraçado ocorrido ainda quando construiam a Capela, que coinscidiu com a construção da usina de Jaguara. “Me. Antônia e Ir. Tereza Vaz foram buscar tijolos descartados pela Cemig. O motorista, o Djalma, irmão da enfermeira Nininha, foi dirigindo um veículo velho até não poder mais. E logo que atravessaram a ponte foram presos, porque Djalma não tinha carteira, e levados para a Delegacia de Rifaina. Como o Sr prefeito não estava na cidade, elas ficaram o dia todo na delegacia. E nós aqui em Sacramento, muito preocupadas. Nem telefone tinha. Foram liberadas só depois da ordem do sr. Prefeito, que mandou trazê-las a Sacrmento. Irmã Antônia muito brava dizia: “A gente fazendo caridade e acaba presa”, recorda com uma boa risada. 
Sobre os 50 anos de presença na cidade, irmã Mafalda declara:“Somos gratas. É uma bênção de Deus poder vir  aqui e celebrar com o povo dessa cidade, que foram minhas criancinhas de todas as raças. 50 anos se passaram e Madre Javouhey continua sua presença. Para mim é a maior alegria chegar à terra do Santíssimo Sacramento”. 
"Gosto muito de Sacramento..."
Irmã Juliana Maria da Eucaristia Ferreira, natural de Leiria, Portugual, também uma das mais longevas da congregação, chegou a Sacramento na segunda leva de irmãs, em 1978, junto com irmã Filomena e, por 34 anos foi presença na Santa Casa e na comunidade sempre levando a palavra amiga e cristã, fazendo cumprir a máxima: "Estar em toda parte onde houver bem a fazer e sofrimento a aliviar". 
Recorda que quando chegou à cidade com Ir. Filomena formavam uma comunidade de cinco irmãs, todas morando na Santa Casa. “Quando chegamos ainda estavam construindo a clausura e nós morávamos num quartinho da Santa Casa. Trabalhei na santa casa esses anos todos, até me aposentar em 1981, porém continuem trabalhando até o ano passado, quando me mudei para Lucélia. Foi um tempo muito rico, de conhecer muita gente”, conta.  
Com 56 anos de vida religiosa, Sacramento é como sua pátria, afirma Ir. Juliana.  “Voltar a Sacramento  para celebrar os 50 anos, é uma grande honra e alegria, porque grande parte de minha vida religiosa foi aqui. Gosto muito de Sacramento, amo a cidade e foram tantos anos que aqui é quase a minha pátria. Sacramento sempre nos acolheu, nos respeitou, nos ajudou. Não fossem as pessoas tão amigas, não estaríamos aqui há tanto tempo ”, confessa. 
E, com uma memória prodigiosa, Ir. Juliana recorda uma a uma das irmãs que passaram pela cidade desde as pioneiras e as demais já citadas anteriormente, foi lembrando de outras: as irmãs Luiza de Cristo, Maria do Coração de Jesus, Celina, Maria dos Anjos,  Maria do Sameiro, Florência, Laura, Gracinda, Célia, Sinira, Rosali, Idalina.
Irmã Florência da Silva, com 39 anos de vida religiosa, que morou em Sacramento 19 anos, sempre trabalhando na Santa Casa, também demonstrou seu carinho pela cidade e pela honra de estar presente na abertura desse cinquentenário.