Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Irmã Célia comemora Jubileu de Prata

Edição n° 1328 - 21 Setembro 2012

Irmã Célia Tomoko Saito, diretora da Casa Infanto Juvenil São Vicente de Paulo  (CIJU), vive as alegrias da comemoração dos 25 anos de profissão dos votos perpétuos. A data, na verdade, foi 7 de dezembro de 2011, 

mas a comemoração só se deu agora, no 

último dia 8. A cerimônia aconteceu em Lucélia (SP), quando a Congregação das Irmãs de São José de Cluny se reuniu na casa mãe, para celebrar o jubileu de ouro de profissão religiosa de irmã Isabel, que no ano passado deixou a cidade para residir em Lucélia, por problemas de saúde. As duas somam 75 anos de vidas a serviço da Igreja, à Congregação e às suas obras sociais.


Um pouco da história de vida de Ir.  Célia

 

Filha de japoneses que, já casados, vieram para o Brasil, na segunda leva de imigrantes, no início do século passado, Ir. Célia e os nove irmãos nasceram no Brasil, em uma colônia nipônica na cidade de Pompéia (SP). “Até os sete anos não tive contato com outras etnias, nem mesmo falava português. Morávamos na colônia com outras famílias japonesas”, conta.

Filha de família budista, Ir. Célia só teve conhecimento da religião católica quando entrou na escola, a partir dos sete anos. “Aí conheci pessoas de outras raças, aprendi o português. E conheci a igreja católica com uma vizinha brasileira que foi morar na colônia. Eu era criança e a acompanhava com os filhos onde quer que fossem, inclusive à igreja. Depois estudei  um ano na cidade, no colégio das irmãs Cabrini e aí fui me aprofundando na religião”, recorda. 

Ir. Célia tinha 13 anos, quando a família se mudou para São Paulo e lá fez vários cursos, inclusive o de cabeleireira. “Em São Paulo, conheci minha madrinha, D. Marina, muito católica e missionária. Minha irmã mais velha queria abrir um salão de cabeleireira e fomos estudar pra aprender e depois trabalhar no salão, minhas duas irmãs, eu e minha mãe, que também ajudava. É claro que eu não queria ser cabeleireira, mas hoje eu agradeço por ter aprendido a profissão, porque é um trabalho que faz muita falta na nossa congregação”, conta mais.

Logo que suas irmãs se casaram, Ir. Célia também abandonou o salão, que ficava na praça da Árvore. “Como havia feito nesse tempo publicidade gráfica e desenho, preferi trabalhar com fotografias para outdoors e fiquei nessa área um bom tempo”. 

 

A vocação chegou aos 27 anos

 

Sensível desde criança ao trabalho social, Ir. Célia conta que a vocação só se consolidou quando ela tinha 27 anos. “Foi um chamado de Deus, aliás, desde criança eu era sensível a este tipo de trabalho, gostava de ajudar as pessoas, fazia doações, ajudava em campanhas. Eu me sentia bem por estar com as famílias católicas que tinham também uma missão na comunidade. Vocação é um chamado, seja para a vida religiosa, seja para o matrimônio. E  aí conheci a Congregação em São Paulo, irmã Mafalda foi minha catequista, irmã Celeste minha madrinha de Crisma. Passei a ter contato com a Congregação e  decidi fazer a experiência. 

A experiência começou na Creche Juventude Católia, em Marília (SP) onde realizou o primeiro estágio, morando e trabalhando na obra da congregação. “No ano seguinte fui para Lucélia onde fiz o aspirantado, postulantado, noviciado e professei os votos. A preparação para os votos perpétuos foi na França e  me consagrei à vida religiosa, há 25 anos”, relata.

 

O apoio da família...  

 

A família, embora budista, nunca se opôs à vocação de Ir. Célia. Sua primeira preocupação, ao contar aos pais o seu desejo, foi saber se o seu salário não faria falta em casa, porque queria ingressar na vida religiosa. “Na nossa cultura, a gente trabalha e o dinheiro é entregue para a mãe que o administra, tudo é partilhado. É como na vida religiosa. Não se opuseram, mas quiseram saber tudo, para onde eu iria, quanto tempo, essa preocupação natural dos pais”, lembra mais, ressaltando o apoio recebido. “- Eles me deram muito apoio e isso me marcou muito. Apesar de eles não terem a vivência na religião católica, eles estiveram presentes em todos os momentos importantes da minha vida na congregação até falecerem”. 

Da família, da formação e da língua nipônica,  além dos traços físicos, Ir. Célia guarda as grandes lembranças. “Tenho muita gratidão a Deus pela família que ele escolheu para que eu pudesse nascer e receber a formação e o amor dessa família. Eles, mesmo não sendo católicos, não impuseram nada, pelo contrário, respeitaram e me apoiaram, participaram, estiveram presentes em todas as etapas de minha formação. Escreviam cartas dando notícias e eu via que eles estavam felizes e tranquilos com minha escolha”, diz, agradecida.


Um chamado de Deus...

 

Hoje, diz Ir. Célia, agradecida, que Deus lhe reservou essa vocação. “Agradeço a Deus por tudo isso e depois de tantos anos como religiosa, sinto concretamente e tenho a certeza de que Deus me chamou para isso. Apesar da minha pequenez, das minhas limitações, sinto que realmente Deus queria isso para mim, do contrário não teria suportado as situações difíceis, que são comuns a todo tipo de serviço ou obra a que nos propomos e que temos que enfrentar e superar sem dar contra testemunho”, destaca. 

Realizada em sua vocação, a irmanzinha, que se diz uma das filhas de Ana Maria Javouhey, irmã francesa fundadora da Congregação de S. José de Cluny, diz que foi muito feliz na escolha feita. “Repito sempre  comigo as palavras da minha madrinha Ir. Celeste: 'O quanto a gente é feliz, seguindo os passos de Jesus na doação a Deus e aos irmãos, por causa Dele'. E peço sempre proteção e forças para seguir na minha missão para que eu possa fazer aquilo que Ele quer que eu faça e continuar aquilo que Ana Maria iniciou, em 1807”. 

A Congregação se estabeleceu no Brasil em 1960. Em 1963, as irmãs chegaram a Sacramento para trabalhar na Santa casa. Em 1972, assumiram a Creche São Vicente de Paulo, hoje CIJU.  

 

A profissionalização das creches

 

Nas suas lições de vida, Ir. Célia diz que aprendeu muito. “O servir a Deus é fácil, o que complica é servir ao outro, ainda mais nos dias de hoje. Falando da obra em si, Ir. Célia conta das dificuldades impostas, sobretudo pela exigência da legislação e a falta de recursos. “As obras filantrópicas dependem de verba, de campanhas e de pessoas envolvidas, isto é, voluntários para conseguir trazer para a entidade o necessário para suprir suas necessidades, sejam materiais ou financeiras. Sem o financeiro é impossível melhorarmos os recursos humanos dentro das exigências de hoje”, afirma. 

Ressalta a religiosa que no Brasil as obrigações governamentais em relação às instituições filantrópicas são muito sérias e exigentes, mas que muito contribuem para o desempenho da entidade. “Por exemplo, hoje, exigem uma equipe técnica, profissionais especializados em cada área, projetos educacionais. Antes, uma irmã e a ajuda de alguns funcionários coordenava tudo. Hoje, não. Os funcionários têm que ter formação para trabalhar com as crianças, e tudo é informatizado. Sem essa equipe, a coordenadora fica como o beija-flor, bica aqui, bica ali, além disso como religiosa ela tem ainda o seu trabalho espiritual”, explica. 

 

25 anos de serviços a Deus e aos irmãos

 

Nestes 25 anos de vida religiosa, irmã Célia passou por vários lugares. Iniciou os serviços na casa em São Paulo, depois Rio Preto, de onde veio para Sacramento. Retornou para trabalhos na casa de formação em  Lucélia, trabalhou no Paraná, novamente em Lucélia, depois Marília, retorna a Sacramento, para trabalhar no Educandário Ssmo. Redentor, daqui foi para o Piauí e há quatro anos reassumiu a CIJU em Sacramento. Em  cada uma das casas, Ir. Célia deixou a sua marca. “Segundo Ana Maria Javohey, as Irmãs de S. J. de Cluny devem ser como os pássaros nos galhos. Devem estar prontas para voar ao menor sopro de obediência, por isso mandou pra lá eu vou, chamou pra cá,  eu venho. Mas sempre trabalhei no Brasil, só estive na casa mãe na França e em Portugal quando me preparei para os votos perpétuos”. 

 

Faltam ainda profissionais...

 

Formada em Pedagogia, Ir. Célia explica que o coração de uma entidade está no tripé:  assistente social, psicólogo e pedagogo. Sem contar a parte administrativa, que é muito complexa”, explica mais,  ressaltando que a Ciju de Sacramento ainda não tem psicólogo, nem assistente social’. 

O trabalho das creches está, na verdade, se profissionalizando. Comenta Ir. Célia que se antes era tudo feito graças às irmãs e ao corpo de voluntários, hoje não é possível mais trabalhar assim. Por outro lado, também o número de religiosas diminuiu, sem falar do preparo acadêmico hoje exigido. “Por estas e outras  dificuldades, várias entidades filantrópicas no país fecharam as portas, inclusive da Congregação que fechou creches em Marília, São Paulo, Rio Preto e Pindorama”, informa, ressaltando que o gasto com esses profissionais aumentou muito o orçamento das instituições. 

De acordo com Ir. Célia, hoje, a Congregação já está recebendo jovens com cursos de Marketing, Administração, Assistente Social e Pedagogia.


Avós, pais e netos estudaram aqui...

 

A CIJU tem como meta atender 80 crianças do berçário ao ensino fundamental. “Temos na creche crianças que são netas de adultos que estiveram aqui na sua infância, ou seja, os seus avós cresceram aqui, os seus cresceram aqui e agora é a vez delas”, afirma, reconhecendo que o trabalho com as crianças é maravilhoso.

Para uma criança ser aceita na creche, os pais assinam um termo de compromisso com os direitos e deveres dos progenitores. “Em primeiro lugar, os pais devem entender que os educadores não são babás de seus filhos, todos merecem respeito, assim como os educadores devolvem esse respeito com carinho e amor para com as crianças. Tudo tem funcionado a contento no que se refere à educação das crianças, graças a Deus”, afirma.

 

Recepção calorosa

 

Ao retornar de Lucélia, onde esteve com Irmã Idalina, para celebrar seu jubileu, Ir. Célia foi recepcionada com a alegria das crianças e funcionários. “Como ela saiu caladinha, só soubemos no dia de seu retorno, e aí foi aquela correria para preparar alguma coisa par recebê-las. Ensaiamos as crianças, preparamos um café da manhã especial e foi uma acolhida de muita alegria. As crianças apresentaram alguns números. Foi uma recepção bonita, apesar do pouco tempo para preparar, porque elas merecem”, conta a secretária Maria Cristina Vieira.