Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A história da Paróquia do Santíssimo Sacramento

Edição n° 1312 - 01 Junho 2012

 

Diz a historiador Amir Salomão Jacob que a origem da cidade de Sacramento vem de 1812, quando o desbravador do sertão, Major Antonio Eustáquio de Oliveira Souza, organizou no antigo Julgado do Desemboque uma “entrada” para explorar o Sertão do Novo Sul, depois chamado Sertão da Farinha Podre, hoje Triângulo Mineiro. Dessa empreitada, participava também o pároco de Desemboque, Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick. Após um dia e meio de caminhada, se abeiraram do ribeirão Borá onde encontraram alguns faiscadores à cata de metais e pedras preciosas. Eram pessoas conhecidas dos entrantes. Segundo consta, essa entrada teria se dado no mês de junho daquele distante ano de 1812.

Na margem esquerda do Ribeirão Borá,o pároco do Desemboque, Cônego Hermógenes, com a ajuda de garimpeiros e aventureiros, levantou um cruzeiro e rezou ali a primeira missa naquelas paragens.  A Cruz plantada no meio do sertão ficava no descampado defronte a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento. Naquele local permaneceu até o ano de 1925, segundo relato antigo. Dali foi removida para dar lugar a uma praça construída naquele ano e inaugurada em 1926”, destaca. 

Diz mais o historiador, que“uma provisão  datada de 04/07/1819 do primeiro bispo de Goiás, Dom Francisco Ferreira de Azevedo, autorizou Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, a erguer nas margens esquerda do Ribeirão Borá um Oratório com o orago do “Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria”. Esse Oratório, que se traduz como uma pequena capela, foi construído junto ao Cruzeiro plantado pelo mesmo cônego em 1812. 

Para justificar e erguer o Oratório, o vigário do Desemboque disse que ali seria o lugar do “Pasto Espiritual em bem das almas”. O bispo consentiu ao que foi pretendido. Nascia assim, com a edificação daquele Oratório, um movimento de fé e de adoração ao Santíssimo Sacramento, em pleno sertão brasileiro

De acordo com as pesquisas de Salomão, aquela pequenina capela era diferente de todas as demais existentes. “Enquanto que cidades, vilas e povoados dedicavam seus oratórios e capelas a santos ou a Virgem Maria, o Oratório das margens do Ribeirão Borá buscava honrar e adorar o mistério maior da fé - a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada: o Santíssimo Sacramento. E, até nessa dedicação, foi diferente de todas as demais igrejas, catedrais, basílicas que possam existir dedicadas ao Santíssimo Sacramento”, frisa em suas pesquisas.

“Nas margens do Ribeirão Borá – prossegue o historiador - o pequeno Oratório foi dedicado ao Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria. Estavam unidos pela história e pelos laços eternos, na invocação daquele pobre Oratório, os dois seres mais santos que a terra possuiu: Jesus Cristo e Sua Santa Mãe. Ali o Santíssimo Sacramento seria, para o povo do sertão e posteridade, apresentado pelo zelo maternal de Maria” .

Amir Salomão narra ainda na sua história a doação das terras do 'Sacramento'. “As terras, de propriedade de uma tal Maria, que se encontrava desaparecida, por isso chamada na documentação de 'Maria Ausente' foram levadas à praça no pretório daquele Julgado do Desemboque. Consistiam em 214 alqueires de terras de campo e cultura que foram arrematadas pelo Capitão Manuel Ferreira de Araújo e Souza e sua mulher, dona Joaquina Rosa de Sant´Anna, pais do vigário Cgo. Hermógenes. 

De imediato à compra, os adquirentes doaram aquela vasta fazenda ao seu filho, Vigário, para a formação do 'patrimônio do Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria'. Com essa doação, tornando públicas as terras, pôde o Cônego Hermógenes pedir ao bispo de Goiás, autorização para “fundar” naquele local uma capela curada cujo orago seria o 'Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria', nas margens do ribeirão Borá.  

Por provisão do bispo de Goiás, Dom Francisco Ferreira de Azevedo, e autorização expressa do Rei Dom João VI, em 24 de agosto de 1820, uma quinta-feira, dia dedicado ao Santíssimo Sacramento, o Oratório tornou-se 'Capela Curada do Santíssimo Sacramento apresentado pelo Patrocínio de Maria', mantendo assim o mesmo orago e ocupando o mesmo espaço físico do Oratório, como consta da documentação original”.

Amir cita ainda que, “consta da ata de fundação da Capela a sua vocação de ser o lugar“Pasto Espiritual em bem das almas”, onde seriam distribuídos os “enefáveis sacramentos da Igreja”, o que marca sua predestinação de profunda evangelização e de adoração ao Senhor Sacramentado”.

 Destaca em sua história, relatada a partir de aprofundada pesquisa, a Indulgência da Porciúncula, concedida pelo Papa Pio IX, em 28/02/1848, sobre a qual,  Cônego Julião Nunes, teria  feito registro em 1º/12/1937:  “Não deixarei de consignar neste relatório o grande privilégio conseguido pelo Padre Hermógenes a saber: A grande indulgência da Porciúncula conseguida por intermédio de Dom Francisco Ferreira de Azevedo para esta igreja do Santíssimo Sacramento, a vinte e oito (28) de Fevereiro de mil oitocentos e quarenta e oito (1848)”. 

Prossegue a sua pesquisa, informando sobre a elevação do Oratório à Capela Curada (24.8.1820), data que marca a fundação da cidade; elevação à “freguezia” ou paróquia, o curato do Sacramento (Lei 804, de 3.7.1857); elevação à categoria de Vila a povoação do Santíssimo Sacramento (Lei 1637, de 13.9.1870); e elevação à cidade pela Lei 2.216, de 3.6.1876.

Concluindo sua pesquisa, o escritor Amir Salomão Jacób registra através de farta documentação que, desde o princípio do marco inicial da cidade, a paróquia mãe da cidade foi criada com o título de 'Paróquia do Santíssimo Sacramento apresentado pelo patrocínio de Maria'. “Esse título veio da fundação da cidade, em 1820, e referendada em 1857. E não, 'Paróquia Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento'”, como hoje é conhecida.