Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dom Paulo Mendes Peixoto fala ao ET

Edição n° 1314 - 15 Junho 2012

Dom Paulo Mendes Peixoto, há pouco mais de um mês à frente da Arquidiocese de Uberaba, encontra-se na fase de conhecer a realidade das paróquias, as igrejas, os movimentos, pastorais e, em cada reunião ou visita, leva a sua mensagem de paz, esperança e fé. No dia 31 de maio, presidindo a concelebração eucarística que marcou o encerramento da Festa da Padroeira, dom Paulo encantou pela sua simplicidade e oratória e, com humildade agradeceu as homenagens recebidas de Sacramento, através de autoridades e leigos. 

Dom Paulo, natural de Imbé de Minas, nasceu em 25 de fevereiro de 1951, estudou, em Caratinga, MG, cidade onde estudou  até concluir os  cursos de Filosofia e de Teologia no Seminário Diocesano. Ordenou-se sacerdote em 8 de dezembro de 1979, em Caratinga.  Especializou-se em Direito Canônico pelo Instituto de Direito Canônico do Rio de Janeiro, além de muitos cursos  nessa área e na área de comunicação. 

Dentre as inúmeras atividades  desenvolvidas, dom Paulo, foi ecônomo, diretor espiritual do Seminário, professor, administrador paroquial em onze paróquias, comunicador em rádios e colunista em revista especializada, e, apresentador semanal de um programa na Rede Vida. 

Em 7 de dezembro de 2005, foi nomeado Bispo da cidade de São José do Rio Preto, SP, onde permaneceu até a nomeação como Arcebispo de Uberaba, em 7 de março de 2012, como sucessor de Dom Aloísio Roque Oppermann, sendo  recebido de braços abertos e a certeza  de que o trabalho na nossa Igreja será profícuo, dentro do seu lema Episcopal: "Ad Vitae Ministérium" (Para o Serviço à Vida). 

Simpaticamente, Dom Paulo recebeu o ET e a Rádio Sacramento, através do jovem Silas Bonetti para uma entrevista relativamente rápida dada à grandeza de seu trabalho nesses 33 anos de vida consagrada. 

 

ET - Qual a mensagem que o Sr. traz para essa nova etapa da Arquidiocese, depois de 16 anos com Dom Roque; e para Sacramento, nesta primeira visita à Igreja-mãe?

Dom Paulo - Minha mensagem é de esperança. Nestes primeiros tempos estou conhecendo as realidades das pessoas e das paróquias e em cada visita levo uma mensagem de esperança, de vida. Pelas normas diretórias, o bispo é aquele que traz palavras de esperança, que é passada através dos  contatos das celebrações,  através dos jornais, da imprensa de modo geral e de todas as alternativas  e canais possíveis para se levar a esperança.

Para Sacramento e os sacramentanos, quero primeiro agradecer e parabenizar os  órgãos de comunicação que levam notícias, informações  e formação;  parabenizar a paróquia  pelas celebrações, pela unidade, pela festa que marca também o encerramento do mês de Maria. São momentos importantes para o povo expressar a sua alegria em torno de sua fé, em torno da sua  comunidade. Para aqueles de outras igrejas desejo que realizem um fecundo trabalho na vivência de sua fé, na sua coerência de vida. E, sobretudo, desejar a todos que haja esperança nos corações, a presença de Deus na vida de cada pessoa, através de Sua Palavra, uma presença transformadora, que leve à esperança de uma vida melhor, com dignidade, com autenticidade de vida cristã. 

 

ET - Há um mês na Arquidiocese, muitas reuniões com o clero, movimentos, pastorais, visitas a paró-quias... Já dá pra fazer uma avaliação e falar em mudanças? 

Dom Paulo - Estou numa arquidiocese centenária, que tem uma riqueza histórica e humana muito grande. Uma liderança forte, presbitérios comprometidos. Nesses primeiros contatos já pude ver um compromisso com a prática cristã. Mas vejo que algumas coisas precisam ser encaminhadas, sobretudo na parte da comunicação da diocese. A arquidiocese tem rádio, jornal, um site, mas que precisam ser articulados para melhor levar a mensagem. Mas, neste primeiro momento, é descobrir as pessoas certas para fazer isto, para estar à frente dessas ferramentas que temos  e que precisam ser melhor aproveitadas. Na minha avaliação, vejo toda uma riqueza pela frente, que vai propiciar um trabalho relevante.  

 

ET – Mudanças...

Dom Paulo - Sobre  mudanças, digo que a vinda  do bispo não implica necessariamente em mudanças nem para mudar pessoas, nem mudar as pessoas. As mudanças vêm das  necessidades. Hoje há uma tendência de mudança de padres e isso renova  as paróquias, dinamiza as pastorais. Hoje temos feito um esforço pra não ficarmos eternamente num só lugar, isso empobrece, cai na mesmice. Já pensou um padre 30 anos na mesma paróquia. Vejo como uma sabedoria da Igreja, quando colocam seis anos. Isso não significa que o padre necessariamente só possa ficar seis anos, mas pelo menos é uma possibilidade de mudança na igreja.   Mas, de qualquer forma, é cedo pra falar em mudanças, elas virão naturalmente das necessidades.

 

ET- Como o senhor define o papel do leigo, da família e dos jovens enquanto Igreja?

Dom Paulo - Estamos este ano iniciando a celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, que tem como uma das tônicas fortes a participação do leigo, o Concílio vem mostrar que o povo de Deus não deve ser omisso. Todos  somos batizados e  como batizados devemos ser discípulos. Quando falamos  em discipulados , falamos de todas as pessoas que são batizadas e participam da vida de igreja. Os leigos são evangelizados e, ao mesmo tempo, evangelizadores. A igreja tem indicativos fortes de trabalhos leigos, nas entidades, nos conselhos, pastorais, movimentos, catequese. E quando falamos de leigos, envolvemos família, jovens, todos os que são batizados e podem se colocar a serviço, sobretudo a juventude que está necessitando de uma formação mais  aprimorada. As universidades, faculdades precisam formar pessoas. Hoje, vemos pessoas que passaram pelas nossas escolas, faculdades, envolvidas em escândalos públicos.  Aí pensamos, até que ponto nosso papel de leigos está atingindo. Sabemos que muitos jovens saem de famílias estruturadas, engajadas e chegam à faculdade e perdem os valores recebidos. É preciso que as faculdades, universidades invistam mais na formação dos jovens. Estamos na preparação da  Jornada  Mundial da Juventude, um momento forte, em que a igreja está mobilizando jovens para refletir sobre seu papel na sociedade, na família, na igreja.

 

ET - Sempre nos mantemos informados através de notícias no site da arquidiocese e uma delas é o apoio à Campanha + Saúde que vem coletando assinaturas por todo país. Essa sua postura vem comprovar o papel da Igreja de olhar para os mais necessitados? 

Dom Paulo - O tema da campanha da Fraternidade foi sobre saúde, Fraternidade e Saúde pública, com o lema, Que a saúde se difunda sobre a terra!, quando foram discutidos vários assuntos como a necessidade de as pessoas serem bem atendidas, a necessidade de melhorias, que os governos invistam mais em saúde. É o que os idealizadores dessa campanha, médicos e entidades estão propondo com a coleta de assinaturas, que haja um orçamento maior para a saúde e isso temos que apoiar. Por outro lado, sabemos,  principalmente pelos textos da Campanha da Fraternidade, que a saúde é um dos meios fáceis de desvios do dinheiro público. Assim,  ao mesmo tempo que a gente quer participar desse abaixo-assinado, para que venha dinheiro para a saúde, a gente fica  em dúvida. Será que este dinheiro tirado da saúde, não é justamente porque há tanto desvio. O Brasil precisa mudar, há um esforço para trazer uma certa ética, mas  de qualquer forma eu vejo que devemos participar dessa campanha.

 

ET - Seguindo nessa linha, a CNBB vem falando da necessidade de orientar, conscientizar os católicos sobre a postura a ser adotada nas eleições municipais com o enfoque de que a 'lição começa a ser feita em casa'. Como o Sr. pretende orientar as paróquias sobre essa postura?

Dom Paulo - A Igreja tem uma responsabilidade grande com a questão política. Não há como um país caminhar sem política, que é a arte do bem comum. Todos nós somos políticos por natureza. A política está presente na nossa casa, nas escolas, no trabalho... Ao dizer que é contra a política, a pessoa está fazendo política. Só que nós, enquanto Igreja, temos que conscientizar nosso povo a ter responsabilidade. Voto não tem preço, tem consequência. É importante as pessoas saberem discernir isso. Há quem diga: a Igreja não pode falar em política. Ela não só pode como deve, para orientar as pessoas. Não fazer politicagem, a igreja ser desse ou daquele partido, isso já é dividir e não é papel da igreja. É, sim, de orientar as pessoas a escolher com responsabilidade.

 

ET – No Congresso fala-se muito na 'bancada evangélica'. A Igreja preocupa-se em aumentar os parlamentares católicos?

Dom Paulo -  Há inclusive críticas a nós, dizendo que os evangélicos tomam partido por determinados candidatos, que está crescendo o número de políticos evangélicos... E essa pergunta me foi feita numa entrevista numa das rádios em Uberaba e eu respondi que não vemos assim, porque não  estamos preocupados com quantidade de candidatos, mas com qualidade. A Igreja católica tem a responsabilidade de orientar para termos qualidade após as eleições. Não é papel nosso fazer campanha pra este ou aquele candidato, isso desmoraliza, porém, nada impede de o padre ter a sua paixão pessoal, mas usar o púlpito ou a sua condição de padre  para fazer política, para eleger alguém, isso não.  

 

Teríamos muitos assuntos para falar... Mas finalizamos aqui com  um desafio para conhecer um pouco mais de dom Paulo, com este ping-pong:

 

Comida?

Como bom mineiro de Imbé, frango caipira com quiabo.

Doce? 

Há muitos doces gostosos, mas  escolho o doce de mamão seco.

Bebida?

Suco de laranja. 

Esporte? 

Pescaria. 

Time do coração?

Em Minas, o Atlético; em São Paulo, o Palmeiras.

Filme?

Romero, a história do arcebispo salvadorenho,  Dom Oscar Romero, interpretado no filme por Raúl Julia. 

Música?

Todas de Roberto Carlos. Eu devo ter uma 600 músicas dele no meu celular (risos).

Livro?

 As verdades roubadas (Las verdades robadas), de Miguel Angel Fuente, que li recentemente  e que trata da questão do jovem. 

Flor?

A rosa, claro.

Cor?

Verde, a cor da esperança.

Política?

A arte do bem comum.

O papa Bento XVI?

O centro de unidade da Igreja.

Local para lazer e descanso?

Um lugar como o  Barreiro, em Araxá, que conheci hoje.

Personalidade no mundo?

O Papa João Paulo II.

Personalidade no Brasil? 

Dom Luciano Mendes de Almeida.