A tentativa de atropelamento de um sargento aposentado da PM, acabou matando a senhora Euripedina Maria da Silva, 81, na manhã da terça-feira, 11, na rua Joaquim Murtinho (rua da Estação). O fato ocorreu por volta das 7h30 da manhã, envolvendo o policial da reserva, Haroldo Antônio Rodrigues, 46, e o professor Genildo Batista Oliveira, 39.
De acordo com o BO, o sargento Haroldo caminhava no passeio e Genildo, que trafegava sentido bairro, no GM Corsa, placas JFL-7362/Sacramento, jogou o carro para cima dele. O policial caiu em cima do capô e foi ao solo. Genildo seguiu pela via até a rotatória da Joaquim Murtinho com a avenida Dr. Felipe e retornou em alta velocidade. Momento em que Haroldo, que caminhava com dificuldade, alertado por testemunhas, conseguiu se esquivar, porém o veículo atropelou dona Euripedina que fazia caminhada na calçada. Em seguida, o veículo chocou-se contra a casa nº 234, arrancando o portão e atingindo um veículo que estava na garagem e danificando a parede do abrigo.
No seu depoimento, o sargento Haroldo disse ao delegado que nunca chegou a registrar ocorrência contra Genildo e que “não acreditava que ele pudesse fazer isso”. Disse que foi pego de surpresa, pois estava caminhando e “quando vi, ele já estava em cima de mim” (...) “ele jogou o carro em cima de mim e daí eu pulei e pegou minha perna. Daí as testemunhas chegaram para me ajudar e falaram: “Corre que ele tá voltando”.
Segundo testemunhas – narra mais o B.O. - Genildo abandonou o veículo e tentou fugir, mas foi alcançado por C.H.S., momento em que disse que queria matar Haroldo. No seu depoimento, o sargento Haroldo conta que também ele “conseguiu correr atrás de Genildo e prendê-lo em flagrante”.
Os policiais que lavraram o B.O. afirmam também que, “em diálogo com o autor, ele nos narrou que o atropelamento era para matar o sargento Haroldo, uma vez que o militar tinha caso amoroso com sua esposa, R.M.S. e lamentava ter atropelado outra pessoa”.
Socorrida, Da. Euripedina foi encaminhada à Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos. Haroldo foi encaminhado ao pronto socorro, onde foi atendido e liberado. Genildo, que apresentava escoriações na face, permaneceu internado para observação sob escolta policial até receber alta, por volta das 22h00, quando foi encaminhado para o presídio local.
O fato mexeu com a cidade. Era o comentário geral nas esquinas pela conduta ilibada do Prof. Genildo, embora não fosse segredo para ninguém, um possível envolvimento amoroso entre o policial e a mulher do professor. Sobre esse fato, Haroldo afirmou ao delegado que, “... desde que o conduzido, Genildo, ficou sabendo que o declarante estava 'batendo papo' com sua esposa, este passou a perseguir o declarante; que pode citar, por exemplo, fato ocorrido no mês retrasado, onde o conduzido, em uma festa, teria se armado com uma faca para matar o declarante.
Segundo ainda Haroldo, quando Genildo retornava pela rua Joaquim Murtinho, dona Euripedina teria dito: “Levanta, Haroldo, esconde, esconde, que ele tá vindo” . Narrou ao delegado que saiu da calçada e entrou num alpendre, mas ela que estava na calçada, acabou sendo atingida.
Da. Euripedina foi atendida na Santa Casa e, constatado o óbito, o seu corpo foi trasladado para o IML de Araxá, para a perícia de praxe e, no início da noite, foi velada no Velório Município Maurício Bonatti, até às 21h00, quando foi sepultada no Cemitério S. Francisco de Assis, após as exéquias. Família tradicional, esposa do empresário Orlando Augusto da Silva, Orlando da Lojinha, de saudosa memória, os filhos e familiares receberam homenagens de autoridades e de um grande número de amigos.
Para delegado, Genildo cometeu dois homicídios dolosos
Ainda na terça-feira, 11, o delegado Cesar Felipe Colombari da Silva explicou, depois de ouvir o depoimento do policial Haroldo Rodrigues, que há alguns detalhes a serem analisados. De viagem marcada, o delegado disse que vai ouvir Genildo na próxima semana.
Na versão do policial, disse o Delegado, que “Genildo foi para cima do policial, atropelou-o e, quando ele viu que Haroldo se levantava, deu a volta na rotatória, voltou para consumar a execução do homicídio que ele havia começado. Haroldo conseguiu se safar, mas ele atingiu a senhora Euripedina, que caminhava no passeio e tentava ajudar o policial”.
“No nosso entender – prosseguiu - quando Genildo agiu dessa forma, vendo que havia outras pessoas no local, ele assumiu o risco de matá-las. Isto é, para culminar na morte de Haroldo, ele tinha o dolo (a consciência e vontade de praticar a conduta definida como crime pela lei; quando o agente deseja matar o ofendido, e direciona sua vontade) tanto em relação a Haroldo de forma direta, como em relação a outras pessoas, de forma indireta”, explicou.
De acordo ainda com o delegado, o motivo que levou Genildo a cometer o homicídio contra o Haroldo foi de natureza fútil. “No entender da Policia Civil, o motivo foi fútil e a futilidade do homicídio que ele tentou cometer contra Haroldo, se transporta para dona Euripedina. O crime foi doloso em relação a Haroldo, que não tinha como se defender de um carro em alta velocidade e foi doloso em relação a dona Euripedina. Temos aqui dois homicídios, um tentado e outro consumado e os dois qualificados. A pena varia de 12 a 30 anos cada um. E, ainda, há o agravante pelo fato de dona Euripedina ser maior de 60 anos”, afirmou, ressaltando que pelos relatos das testemunhas, Euripedina foi uma heroína. “Ela alertou Haroldo de que o carro estava voltando. Ele conseguiu se esquivar, mas ela, talvez em razão da idade, não conseguiu se livrar do veículo”, afirmou.
O delegado Cezar Felipe esclareceu ainda que Genildo irá a júri popular. “Ainda que o Promotor de Justiça entenda que um dos delitos foi culposo, a tentativa contra o Haroldo foi crime doloso. Pelo menos por um desses crimes, ele vai responder no tribunal do júri. É uma pena isso. É um tipo de crime que choca a cidade. Mas infelizmente esse tipo de delito passa pela polícia. O que o levou a isso foram questões passionais, que estão no íntimo da pesssoa e não tem como a polícia monitorar”, disse.
O delegado lembrou que não existe mais a justificativa da 'legítima defesa da honra'. “Antigamente, havia a tal legítima defesa da honra, quando o homem, para manter a sua honra, tinha o direito de ceifar ou lesionar a vida de alguém, só que isso não existe mais. Caiu por terra essa tese. A honra que está ofendida na verdade é de quem traiu e não de quem foi traído. Ainda que tivesse havido a traição, isso não é motivo para tirar a vida de ninguém”, lembrou.
Questionado sobre os motivos que levariam uma pessoa de caráter tão ilibado como o do Prof.Genildo, uma pessoa bondosa, esposo dedicado, pai extremoso, professor de Ensino Religioso, ministro da Eucaristia, atuante nos grupos de teatro da cidade e junto aos jovens, a cometer um desatino como esse, o delegado disse que lamentava tudo o que aconteceu.
“- Lamentamos tudo, a gente fica infeliz por saber que era uma pessoa boa, mas que, infelizmente, cometeu um dos crimes mais graves previstos na legislação e ainda levou a vida de uma pessoa que nem envolvida na relação amorosa ou judicial estava. É triste isso... e chocou a sociedade”.
O delegado tem dez dias para concluir o inquérito.
O ET tentou também conversar com o Genildo, no presídio local, mas o diretor, Aparecido Alves Galdino não autorizou. Já a advogado do professor, Cláudia... conseguiu falar com ele na tarde dessa quinta-feira, mas revelou ao ET o teor da conversa que teve com seu cliente.
Advogada tem primeiro contato com Genildo
A advogada Cláudia Gonçalves dos Santos, do grupo Santos e Lima Paganini Advogados, de Ribeirão Preto, esteve na cidade entre os dias 12 a 14, para as primeiras providências em relação à defesa do Prof. Genildo Batista de Oliveira. A atuação da advogada Claúdia no caso deve-se à ação de amigos de Genildo que, sensibilizados com o caso, dada à sua reputação, e a repercursão do fato ocorrido .
De acordo com a advogada, o primeiro contato com seu cliente ocorreu na tarde de quinta-feira, no presídio local. “Tive uma primeira conversa com Genildo no tempo legal, foi uma conversa tranqüila, um primeiro contato, mas resguardo as primeiras declarações que ele deu. No momento oportuno, podemos divulger, por enquanto estou tomando ciência dos fatos, e há todo um procedimento e etapas a serem seguidos”, disse.
Genildo ainda não depôs à policia civil, o que ocorrerá na semana que vem para a conclusão do inquérito, em dez dias. Mas Cláudia informa que, paralelamente, vai estar trabalhando na sua defesa. “Agora vem a parte procedimental, existem prazos, juiz e promotor já tomaram ciência da prisão, tendo inclusive a juíza convertido a prisão em flagrante para prisão preventiva, fundamentada na comoção social que o crime causou, na gravidade e na pena do delito. Vamos trabalhar para impetrar um habeas corpus, concomitante ao trabalho que o delegado e o judiciário executam. É um processo longo, demorado e existem prazos a ser cumpridos e respeitados”, explicou.
Cláudia destaca a boa recepção que teve na Delegacia, no presídio de Sacramento e no fórum. “Fui muito bem recebida na penitenciária, no fórum, na delegacia, apesar da ausência do Delegado. Fiz a juntada do instrumento de procuração, tudo muito bem atendida por todos”, inclusive por colegas, o que dese já agradeço, reconheceu, fazendo uma última declaração: “Lamento profundamente a morte da Sra. Euripedina e solidarizo-me com o sofrimento da família, mas como profissional, assumi a defesa do Prof. Genildo, entendendo que estou exercendo meu direito de trabalho e, também, reconhecendo que todos têm direito à defesa, e à aplicação efeitva da lei.