O corpo de Ana Lúcia Pires, desaparecida desde a segunda-feira, 14, por volta das 12h00, foi encontrado boiando no rio Grande, por volta das 11h00 da quinta-feira, 17. Após ser periciado no IML, de Araxá, o corpo foi liberado e trasladado para Sacramento.
Após as palavras proferidas pelo pastor Rafael, que pediu pela alma de Ana Lúcia e o conforto para os familiares e amigos, Ana Lúcia foi sepultada às 22h30, no Cemitério S. Francisco de Assis, na presença de familiares e amigos..
Não houve velório. Não houve palavras suficientes. Só o silêncio e a dor dos filhos Juliana e Bruno, familiares e amigos mais chegados, e da mãe Odécia Maria Pires, que quebrou o silêncio e pranteou a filha, na porta do cemitério, por alguns minutos , amparada pelo filho, Marcos dos Santos Pires, que também não se conteve, assim como todos os presentes.
E, silenciosamente, seguiu-se o cortejo até o túmulo, deixando para trás o triste lamento da mãe: “Vá com Deus, minha filha”. O tumulo ficou coberto de flores. E, como entraram, todos deixaram o cemitério, silenciosamente, talvez perscrutando, sondando uma resposta... mas com um desejo soando como uma prece: Vá com Deus, Ana Lúcia! Descanse em paz!
O desaparecimento de Ana Lúcia Pires foi registrado por volta das 19h59, quando I.F., amiga da família, procurou a PM informando sobre o seu desaparecimento. No B.O. consta que Ana Lúcia teria saído cedo de casa para prestar serviço como voluntária, na Escola Eurípedes Barsanulfo. Afirmara à mãe, com quem morava, de ficar na escola o dia todo, local onde poderia se sentir melhor, em face do tratamento que fazia por conta de uma depressão profunda. Porém a família foi informada de que por volta das 12h00, Ana Lúcia saiu da escola, justificando à diretora que iria em casa almoçar. Saiu em seu veículo Fiat Pálio Prata, 4 portas, sozinha e não deu mais notícias.
No mesmo dia, 14, às 23h40, outro B.O. foi lavrado, dando conta da localização do carro de Ana Lúcia, às margens do rio Grande, próximo a um tablado, na histórica estação de trem do Cipó. De acordo com o testemunho de dois sobrinhos de Ana Lúcia, o veículo estava fechado e, através do vidro viam-se roupas no banco traseiro e sandálias próximo aos pedais de controle. A chave de ignição foi encontrada perto do barranco do rio no pé de uma árvore, próxima ao tablado.
Ana Lúcia, que não sabia nadar, teria estado no local, por volta das 10h30 daquele mesmo dia, para retornar mais tarde, por volta das 13h00.
Imediatamente, os familiares e amigos, com os recursos disponíveis, lanternas holofote silibim, iniciaram um rastreamento junto à margem do rio à procura de vestígios. Diante do insucesso das buscas, o corpo de bombeiros foi acionado e iniciaram-se as buscas no rio.
Carinho a uma criança
De acordo com a professora do Educandário Eurípedes Barsanulfo, Lely Augusta, aquele era o primeiro dia de trabalho voluntário de Ana Lúcia na entidade. Disse ao ET que Ana Lúcia esteve em sua sala por volta das 12h10 e logo saiu com a presidente da entidade, Alzira Bessa França Amui.
“Se ela saiu entre 10 e 10h30 a gente não sabe, porque ela estava na creche. Após o almoço, as crianças são colocadas para dormir. Ela veio com a Francine passando pelas salas. Mas não conversou com ninguém. Na minha sala, as crianças puxaram papo, mas ela não disse nada, apenas respondeu seu nome a uma menina que perguntou. Depois ela fez carinho em duas crianças e como era hora de pôr as crianças para dormir, ela deitou com a M. e ficou uns dez minutos fazendo carinho. M. dormiu, ela levantou-se e me disse: 'Vou ao banheiro' e saiu da sala”, conta a professora.
A secretária Juliane confirma, afirmando que viu Ana Lúcia sair com a presidente da Fundação Lar de Eurípedes, Alzira Bessa França Amui, cada uma no seu veículo. “Dona Alzira saiu e logo retornou sentido centro. Mas não notei o de Ana Lúcia. Eu a vi saindo pelo portão, mas não a vi passar na pista sentido centro. Ela deve ter saído daqui e rumado para o Cipó”, conta.
Ana Lúcia foi antes ao local
Na quarta-feira, 16, em comunicado de serviço encaminhado ao delegado Cezar Felipe Colombari da Silva, o investigador Diego André Souza Lemos, informa que em depoimento, a testemunha E. M. S., relatou “ter visto o carro no dia 14, por volta de 10h30, na beira do rio, mas que logo saiu, retornando por volta das 13h30 e, desde então, o carro não mais saiu daquele local”.
Diz mais o comunicado que em entrevista com familiares, foi informado de que “Ana Lúcia fazia uso de medicamentos especiais, freqüentava terapia com psicólogo e psiquiatra e sofria de uma síndrome depressiva muito forte. Segundo os familiares, Ana Lúcia já chegara a falar que iria suicidar-se.
Amigos e conhecidos se mobilizam nas buscas
Além do corpo de bombeiros e policiais militares, moradores da comunidade estiveram auxiliando nas buscas com canoas e barcos. E foi justamente um desses volutnários, Reylire Henrique Peres, o China, 24, que avistou o corpo boiando, próximo ao Porto Felício, cerca de 25 km abaixo do tablado, onde o carro foi abandonado.
“Eu estava lá desde a segunda-feira, com o Darlan, sobrinho de Ana Lúcia. Estivemos de barco ajudando a procurar. Dormimos no rancho do prefeito Baguá que foi cedido para nós e os bombeiros pernoitarmos. Na manhã de hoje (quinta-feira) saímos com os bombeiros às 7h00, em três barcos, um em cada margem e o terceiro no meio do rio. Nós estávamos numa canoa emprestada pelo pescador Becão. Fazíamos o trajeto do tablado onde estava o carro até pra baixo de Conquista, subindo e descendo”, conta.
Prosseguindo, afirma China que, por volta das 11h00, o capitão do Corpo de Bombeiros, que comandava as buscas, deu ordens para retornarem ao rancho para o almoço. “Eram por volta das 11h00, quando o Capitão nos chamou para ao almoço. Eu estava de pé na canoa e de repente avistei o corpo, na barra dos Dourados, pouco pra baixo do Porto Felício. O corpo estava de bruços e bem no canto da mata. Ela estava de blusa colorida e uma calça preta”, conta mais.
De acordo com China, foram tomadas as providências para retirar o corpo. “Levaram o seu sobrinho Darlan de lá e ficamos o capitão e eu. Como o corpo estava muito inchado e assim foi trasladado, com muito cuidado, até o rancho, no Cipó. Achamos o corpo por volta das 11h00 e só chegamos ao rancho às 15h00”.
Afirma o jovem China, que esteve ajudando nas buscas, por conta da grande amizade que nutre por Darlan, que durante o resgate, na subida do rio, caiu uma tempestade. “Deu uma chuva muito forte, uma tempestade mesmo, com muita onda, que jogou o barco próximo da fazenda do Marcel Scalon’’.
Narra mais o jovem que o barco dos bombeiros deu problema e foi rebocado pelo seu barco. ‘‘Foi uma experiência que jamais imaginaria passar. Mas fiz tudo pensando em ajudar a família. Foi uma coisa muito triste”, narra China ainda comovido, mas feliz por ter prestado esse ato de solidariedade. “A gente é amigo e tem que ajudar, principalmente nessas horas”.