Duas residências na rua Maria da Cruz, no bairro João XXIII ficaram inundadas de lama com a forte chuva que caiu na noite do sábado, 25, por volta das 19h00, por mais de meia hora. As vítimas Rita de Cássia dos Santos, da casa de nº 216, e Paula Nayara Alves dos Reis, 21, moradora da casa de nº 210 (fundo), lavraram Boletim de Ocorrência (BO), buscando ressarcir os prejuízos.
Rita de Cássia teve sua residência toda inundada, com água e lama e, como conseqüência, foram danificados os tacos da sala, o aquecedor solar e a caixa de água que estava no seu quintal, além de parte do muro que caiu no fundo do quintal.
Os prejuízos de Paula Nayara, que mora com a amiga Lia, em uma pequena casa de fundo, foram bem maiores. Narrou à PM que compareceu ao local, os seguintes prejuízos: “Os seguintes itens foram danificados devido à inundação em sua casa: dois pen drives, um aparelho de som, DVD, penteadeira, guarda-roupa, sapateira, fogão, tanque de lavar roupa, geladeira, armário de cozinha, liquidificador, batedeira, sanduicheira, tábua de passar roupa, ferro de passar roupa, colchão, alimentos”.
A reportagem do ET compareceu ao local e viu o drama e a revolta de Paula tentando salvar alguma coisa. O que era quase impossível. As marcas d'água mostravam na parede quase um metro de inundação. A geladeira boiou e tombou com todos os alimentos dentro, um pernil do freezer, queijos, verduras, bebidas, tudo boiando no chão.
Mostrando as gavetas e a parte inferior do guarda-roupas, uma lama só; um aparelho de som completo, na parte baixa do rack enlameado; liquidificador, sanduicheira, que estavam em cima da geladeira, forno do fogão, banheiro, barro por toda a casa, além de uma boa quantidade de alimentos danificados.
“- Fiz compras na quinta-feira. Eu moro com minha amiga, trabalho e estudo em Uberaba. Chego da escola, faço alguma coisa, um lanche. Não ganho nada de ninguém, isso é fruto do meu trabalho. E ainda veio gente aqui afirmando: “Lava tudo e vê o que dá pra aproveitar”. Como é que vou lavar carnes, pacotes de bolacha, biscoitos, pão de forma, macarrão, arroz, açúcar, massas para bolo, massa de lasanha.... Enlatados ainda lacrados, óleo, leite condensado, creme de leite, vá lá, mas e as outras coisas?”, questiona, muito revoltada, com o apoio dos vizinhos.
Segundo Paula, apesar de sempre morar sozinha, a primeira chegou recente, no final de semana gosta de fazer uma boa comida, por isso faz o supermercado e deixa na geladeira. “No final de semana que tenho tempo, gosto de fazer alguma coisa diferente; recebo visitas, a família, amigos, por isso tenho a casa sortida e está tudo aí perdido...”, lamentou.
Paula recorda da primeira inundação da casa que aconteceu no início do mês de dezembro. “Cheguei da escola e encontrei as máquinas tirando a lama da rua. Quando entrei em casa me deu o maior desespero, tudo na lama. A casa recém pintada, tudo novinho. Fiz um financiamento, que ainda estou pagando, pra pintar a casa, colocar calhas e forro. Fogão, cama, geladeira, armário, tudo o que eu havia comprado a prestação estava na lama. Foi um desespero. Fui para a casa do meu irmão e uma semana depois, a casa dele inundou também. Aí a empresa me mandou para um hotel. E agora tudo se repete, não suporto mais”, desabafa.
De acordo com Paula, após a primeira inundação, a empresa Inove cobriu os prejuízos, fez nova pintura na casa e repôs a geladeira, o tanquinho, o armário de cozinha e o fogão. “Eles repuseram, mas eu continuo pagando as prestações, porque ainda estava devendo o que havia comprado. Mas roupas de cama, roupas pessoais e calçados, ficaram por isso mesmo. E muitos desses bens ficam irrecuperáveis. Não recebi nenhuma indenização por esses prejuízos. Há pessoas que pensam que porque a gente mora sozinha não tem nada. Por isso chamei a polícia pra registrar o que aconteceu aqui, para que não pairem dúvidas, porque da primeira sujeira, teve gente que disse que eu estava aproveitando da situação”, conta.
Água e lama vêm do novo loteamento
Toda a água e lama desceram do terreno, onde está sendo construído o Loteamento Novo Alvorecer, cujas obras são realizadas pela empresa Inove. De acordo com Rita de Cássia, não há registros anteriores de água nas casas na rua Maria da Cruz. “Eu nasci e cresci aqui nesta casa, sempre vivi aqui no bairro e nunca houve isso. Nunca havia entrado água em casas. Começou agora com as obras do loteamento que, para construir as ruas, destruíram as curvas de nível e não construíram uma galeria suficiente para captar toda a água que desce lá de cima, explica Rita de Cássia, reclamando que a água inundou toda a sua casa. “Inundou toda minha sala de lama. Eles ficaram de trazer cola para o taco e nada. O taco que já estava arrebitando, agora vai acabar', denuncia.
De acordo com vários moradores da rua Maria da Cruz, a água que hoje invade a rua vem desde o bairro São Geraldo. “É muita água, que vem desde lá de cima do São Geraldo e cai no pasto. Só que antes havia a grama e muitas curvas de nível, a água era desviada e se espalhava”.
Outra denúncia de vários moradores da rua é a existência de entulhos na rua, tais como um carro velho, pilha de tijolos, cascalho e outros entulhos, próximos à esquina por onde desce a água. “É muita água que desce, mas acredito que se a rua estivesse livre, a água teria mais vazão, poderia até entrar nas casas, mas em menor quantidade, acontece que a água chega ali e faz um bolsão e se espalha na rua, não há vazão, porque o entulho atrapalha”, denunciam.
Denunciando na Prefeitura, Rita de Cássia, informou ao ET que o funcionário Gilmar Bonetti respondeu que não poderiam fazer nada, porque “não há lei para retirar o entulho da calçada”.
Paula Nayara: ‘‘Não perdi só bens materiais...’’