Uma notícia histórica veiculada na coluna, 'Deu no ET há 30 anos', da última semana, revoltou os filhos de Maria Rosa Borges, vítima de uma acidente na rua Pe. Pedro, no dia 4 de maio de 1980, provocado pelo então motorista inabilitado, Elvani José Garcia, na época com 21 anos, da empresa de Maria Alves Tavares. Na época, o ET divulgou a notícia com base no B.O., afirmando em manchete, 'Ao correr atrás de um frango, Maria Rosa morre sob caminhão'.
Ao ler a efeméride, os filhos, João Batista Borges, 41, e Pedro Luzia Borges, 39, crianças na época, com 11 e 9 anos, respectivamente, procuraram o ET para elucidar os fatos e trazer a tona a verdade, até então desconhecida. “A gente ficou indignado com a notícia, porque a história não foi desse jeito. Naquela época, éramos crianças e hoje sabemos que fizeram as coisas para nos prejudicar, aproveitaram da situação de sermos uma família muito simples e nos prejudicaram, só que nós sobrevivemos”, afirmam.
Segundo os irmãos, sua mãe não estava correndo atrás de um frango, ela estava conversando com a vizinha e ele a pegou. Hoje sabemos que ele era inabilitado, estava correndo, bêbado, passou por cima de um monte de saibro e passou por cima dela. Até hoje, isso entristece a gente. Mamãe não estava correndo atrás de frango, porque ela sofreu queimadura de terceiro grau no corpo inteiro, ficou internada muito tempo. Isso aí foi arrumação deles, armação, para sair fora das responsabilidades”, desabafam.
Os irmãos pedem também um esclarecimento através do jornal do que realmente aconteceu, mas admitem que conhecem da versão dada para a morte. “Queremos corrigir uma injustiça ocorrida há 30 anos. E se alguém tiver alguma coisa contra pode vir falar com a gente. Só queremos a verdade”, afirmam
Com a morte de Maria Rosa, João e Pedro e mais seis irmãos ficaram órfãos. “A gente já era órfão, nosso pai, Carlos Alberto Borges, morreu em 1979, e a mamãe ficou com os sete filhos, a mais velha com 17 anos”. João ficou na casa, próxima da casa da tia. Foi muito difícil para nós, mas sobrevivemos”.
Dona Célia, testemunha ocular
Célia Bueno Borges, 78, foi a pessoa que presenciou o acidente e a morte de Maria Rosa. Lúcida e com uma simpatia a toda prova, Célia conta o que aconteceu há 30 anos atrás. “Aquela cena eu nunca esqueci. Éramos muito amigas, Maria Rosa morava aqui do lado. Era uma tarde de domingo, ela saiu ali, conversamos e ela atravessou a rua para ir na casa da Antonia. De repente, o caminhão apontou (sentido bairro/rodoviária), na maior velocidade, por pouco o caminhão não bateu na casa ao lado da casa de Antônia. A Maria Rosa estava no passeio, o caminhão pegou-a, passou sobre um monte de saibro e ela caiu na rua. Fez um barulho oco e o caminhão seguiu. Chegando na esquina do SAAE, ele parou porque estavam passando carros. Eu saí correndo atrás do caminhão, cheguei e disse pro motorista: “Desce e olha o que você fez'. Havia dois rapazes com ele na frente. Eles desceram e quando viram a mulher caída, saíram correndo. Ele veio comigo e quando viu aquela cena, pôs as mãos na cabeça, ficou olhando e saiu, largou a caminhão lá parado e aberto. Foi muito triste... triste demais”, recorda.
Célia foi chamada para depor no inquérito policial, lavrado na Delegacia, mas não foi intimada para ir ao fórum. Ao ouvir o depoimento do motorista, narrado pelo delgado da época, Célia disse que ele apresentou três versões: “Pelo que ele falou, ele a matou três vezes: primeiro, ele disse que ela estava correndo na rua atrás de um frango; depois, disse que ela entrou de repente na frente do caminhão; e, disse também que era de tarde e o sol atrapalhou sua visão” (O acidente aconteceu por volta das 17h00). Sendo que não foi nada disso, ele pegou-a na calçada.
Segundo Célia, o motorista atropelou Maria na calçada. “Quando o Delegado me perguntou falei que não era nada daquilo que ele disse e contei como aconteceu. O motorista não ficou preso nem um dia. Ele e os patrões assumiram a responsabilidade de cuidar dos filhos, mas nunca fizeram nada”, lembra.
Sobre o fato de não ter sido intimada para depor no fórum, Célia conta que, coincidentemente, estava no cartório quando viu o autor no local com o advogado. “Questionei o advogado e ele me respondeu que não foi preciso, porque tudo estava resolvido. Mas como, se sou a principal testemunha, indaguei. Ele respondeu que não precisou. Eu não sei o que fizeram com meu depoimento que prestei na Delegacia”, conta mais, lembrando as dificuldades que a família passou para criar os filhos de Maria. “Mas graças a Deus, eles venceram, sobreviveram, mas que foi uma coisa triste e injusta foi”, encerra.