Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O crime que abalou Sacramento

Edição n° 1215 - 23 Julho 2010

O assassinato do menor Luiz Phelipe Mendes Lara, 3, na tarde da quinta-feira, 22, por sua própria mãe, Ana Paula Gomes Mendes, 25, chocou a cidade, pelas circunstâncias de  crueldade de como aconteceu o crime, em sua própria casa.

Em entrevista ao ET, o delegado Cesar Felipe Colombari da Silva disse que estava estarrecido com as circunstâncias do crime, logo que chegou à Santa Casa.  “Fui acionado e compareci à Santa Casa e verifiquei que na verdade era um caso de homicídio e não acidente, como a mãe disse. A sargento Edna deu voz de prisão e a mãe, Ana Paula, saiu correndo, mas eu consegui alcançá-la uma quadra após. A perícia compareceu ao local, onde constamos marcas de sangue no interior da casa”, disse.

Segundo Cezar Colombari, a roupa encontrada da criança estava toda suja de sangue, deduzindo que teria sido trocada. “Se tivesse sido um acidente, a mãe não trocaria a roupa da criança para pedir socorro. No portão, não havia também marcas de que a criança teria subido ali, pois não há marcas de sangue. Nada que indique que houve acidente”, afirmou, informando que o perito constatou que as lesões sofridas pela vítima não eram de acidente. 

Afirmou mais o delegado que Luiz Phelipe estava muito machucado. “A criança apresentava mordidas na orelha, no órgão genital, nas costas, escoriações pelo corpo e pescoço todo. A mãe, em vez de socorrer o filho, indo para o Pronto Socorro, ela fez um caminho inverso, seguindo para a casa dos familiares, com a criança já morta no colo”, disse.

 Informações preliminares, sem ainda a constatação da perícia, cujo laudo, deve ser expedido em até dez dias, a morte de Luiz Phelipe teria ocorrido por volta das 17h00. “Acreditamos que a criança  morreu por volta das 17h00 e a mãe procurou socorro só por volta das 18h00. Nesse meio tempo, ela teria contado uma história para o filho mais velho, de seis anos de idade, pra dizer que houve um acidente, mas a perícia foi categórica: não houve acidente”, afirmou.

Além da mãe e do menor morto, estavam na casa outros dois filhos, um de seis anos, que provavelmente, teria participado do crime, e outro de um ano e meio. 

Ana Paula já foi presa em agosto de 2008 por lesão contra o próprio Luiz Phelipe, que tinha apenas um ano e onze meses. Ela foi presa por lesão corporal grave. Ficou presa por dois meses e dez dias, quando teve  a liberdade provisória deferida pelo juiz, mas perdeu a guarda do filho. Entretanto, o juiz de outra cidade deferiu a guarda para a mãe, em outubro de 2009. 

Na delegacia, Ana Paula permaneceu calada. “Ela não disse nada, se reservou ao direito constitucional de só falar em juízo”, disse o Delegado Cezar, que ouviu também o vizinho que prestou socorro, a avó e o pai de Luiz Phelipe. “A sogra de Ana Paula esteve na casa até por volta das 16h00 e estava tudo tranquilo. O marido saiu para trabalhar às 5h30 da manhã e só chegou por volta das 19h30, quando a criança já estava morta. Na casa, estavam a mãe e os filhos. Há informações, conforme constatação da polícia que o filho de seis anos poderia ter participação no crime, porque tem mordidas de criança no corpo da vítima. E o menino repete a versão da mãe. Quer dizer, nessa uma hora que a criança estava morta, a mãe deve ter incutido nele uma história  para repetir”, afirmou mais. 

 Há vários comentários e especulações pela cidade, mas o delegado afirma que só o laudo pericial vai constatar, inclusive se houve violência sexual. “O laudo fica pronto entre sete a dez dias”, informou. 

De acordo com a delegado, o pai da criança assassinada, André  Luiz Roberto Lara, está em choque. “Ele está em choque, muito surpreso, disse que não sabe de nada, que estava trabalhando. Mas ele parece ser uma pessoa omissa com o que acontece em casa. Quando a mulher foi presa em 2008, ele a defendeu. Parece ser uma pessoa totalmente alheia à família, mas não  tem participação”, frisou. 

Conforme frisou o delegado Cezar, a mãe Ana Paula foi autuada em flagrante delito por homicídio duplamente qualificado por  meio cruel e pela impossibilidade de defesa da vítima. Por essas circunstâncias, a morte do garoto caracteriza um crime hediondo e inafiançável.  Ao ser questionado se a mãe apresentava comportamento alterado devido a droga ou bebida alcóolica,  o delegado foi explícito: “Ela não aparentava estar bêbada, nem drogada ou louca. Em quatro anos de delegado, esse é um dos crimes mais bárbaros que eu já vi. Chegamos ao fim do poço. A mãe matar o filho, para mim, é terrível. Já vi filho matar mãe, mas  a mãe matar o filho numa situação dessas, com crueldade é de repugnar”, desabafou. 

A repercussão do caso tomou dimensões extremas. Na manhã da sexta-feira, 23, três TV estiveram na cidade e inúmeros telefonemas de São Paulo, Belo Horizonte. “ Sacramento, infelizmente,  vai estar na mídia, por conta de uma tragédia”. 

Ana Paula  é natural de Teófilo Otoni (MG) e o  marido, André  Luiz Roberto Lara, natural de  São Vicente (SP). 

Conselho Tutelar explica agressão da criança em 2008
Não é a primeira vez que Ana Paula Gomes Mendes, 25, agride o seu filho, Luiz Phelipe. Segundo Claudia Aparecida Rodrigues, conselheira tutelar, em 2008, a mãe infanticida foi presa por agressão à criança. 
‘‘- A mãe perdeu a guarda das crianças que ficaram com as avós maternas e paternas. As avós levaram as crianças para Praia Grande (SP) e lá elas ficaram por quase um ano, até que um juiz daquela cidade devolveu  a guarda dos filhos à Ana Paula’’, contou.
Disse mais a conselheira, a mãe ganhou a guarda das crianças com base num estudo social, de que ela, a mãe, estaria bem. ‘‘Fizemos acompanhamentos, sempre encontramos as crianças bem, não recebemos nenhuma denúncia, até que aconteceu o ocorrido de ontem”, recordou a conselheira.
Conforme ainda a conselheira Cláudia o fato foi chocante e como medida de segurança, as outras duas crianças foram encaminhadas para um abrigo até que o juizado da infância e juventude decida com quem as crianças vão ficar .
“- Elas foram encaminhadas para um obrigo por medida de proteção, hoje é que a juíza vai tomar as providências. O menino de seis anos está muito abalado”, afirmou, por fim, a conselheira.
Veja a íntegra do B.O. lavrado pela PM
Conforme o BO, o fato foi comunicado por volta das 18h50, quando atendentes da Santa Casa acionaram a PM.  “Comparecemos naquele hospital, onde deu entrada o menor Luiz Phelipe com três anos de idade, já sem vida. No local, deparamos com a mãe do menor, que não soube dizer aos militares o que havia ocorrido. Porém, na Santa Casa, disse que a criança havia caído do portão. Ao verificar a situação do menor, o médico plantonista constatou sinais  de violência contra a criança, apresentando lesões por todo o corpo, inclusive nos órgãos genitais. 
Recebemos informações de que aquela criança já havia sido agredida pela mãe em época anterior. Realizamos novo contato com a mãe, que se encontrava na porta do hospital e quando recebeu voz de prisão,ela empreendeu fuga, evadindo-se pela rua do hospital, sendo alcançada na rua Joaquim Murtinho, quando foi presa em flagrante. 
A testemunha E. prestou socorro para a criança que estava na casa da avó, porém acredita que ela já estava sem vida.  Segundo a avó do menor, a autora disse que a criança havia caído do portão da casa onde residem, no bairro Chafariz e como não conseguiu socorro, deslocou-se para sua casa, no bairro Santo Antônio, onde as testemunhas prestaram socorro. A autora nada disse sobre o ocorrido. A perícia foi acionada. A casa da autora foi preservada para o trabalho pericial”.