CRIME É CONSIDERADO HEDIONDO
Maria de Lourdes Rosa, mais conhecida por Maria do Jó, 81, morreu na noite do sábado, 18, no Hospital Escola de Uberaba, onde estava internada desde a noite da quarta-feira, 15, quando foi vítima de queimaduras graves, segundo os filhos, Luizinho e Cida, em 80% do corpo. As queimaduras foram provocadas por gasolina atirada pelo maranhense, Raimundo Nonato Correa da Silva, que em seguida ateou fogo e evadiu-se do local, tomando rumo ignorado.
O corpo de dona Maria foi liberado para o IML e só chegou a Sacramento por volta das 13h00 do domingo e, após ser velada, em urna lacrada, por familiares e amigos, foi sepultada no Cemitério S. Francisco de Assis, às 16h00, sob forte comoção popular.
Viúva de Jovercino Domingos Rosa, conhecido como Jó, dona Maria teve três filhos, José (falecido), o filho adotivo Aldair (falecido), Luizinho e Cida. Além dos filhos dona Maria deixa seis netos, um bisneto, muitos amigos e conhecidos.
O crime de Raimundo é considerado hediondo com três agravantes: o primeiro pelo uso do fogo, o segundo o motívo fútil e, por fim, não deur direito de defesa à vítima, idosa e com problemas de locomoção. A pena pode ser de 30 anos de reclusão.
Inconformados com o que ocorreu com a mãe, os filhos pedem justiça. “Mamãe faleceu na noite de sábado. Desde que ela chegou ao Hospital Escola de Uberaba, os médicos disseram que era muito grave. Conseguimos trasladá-la para Sacramento só no dia seguinte, porque, por questões burocráticas, o Hospital só libera o corpo para o IML, devido ter sido vítima de um crime. E o 'rabecão' do IML só chegou ao Hospital no dia seguinte, por volta das 8h00”, disse a filha Cida, lamentando a demora e o modo como tratam as pessoas mortas.
“Nunca vi tanta falta de respeito para com uma pessoa morta. É muito triste a gente ver a mãe da gente, uma pessoa idosa, nua, dentro de uma bacia num IML. Mamãe não merecida isso. O médico legista só chegou ao local por volta das 11h00 e nem examinou o corpo. É lamentável o desrespeito para com o ser humano
De acordo com a filha Cida, a família morava em fazendas “morávamos numa fazenda, noutra, aí um dia ele resolveu vir pra cidade, comprou uma casinha e mudamos. Depois ele resolveu abrir o comércio, comprou um lote do Pinante, construiu a casa e o comércio. Papai ficou pouco tempo e faleceu em 1976. Aí a mamãe assumiu o comércio e nunca mais parou. Havia poucas casas aqui, depois é que foi crescendo. A vida dela era aqui, foram quarenta anos, ela viu esse alto crescer, virar cidade. A vidinha dela era aqui...”, explica Cida.
Ainda conforme filha, dona Maria estava muito doente “por causa da artrose, mamãe não consegui andar direito, apoiava numa bengala e nos móveis pra andar, não conseguia ficar de pé mais sem segurar”, explica e diz mais “mamãe alugou o cômodo para dois rapazes e eles nunca pagaram o aluguel. Eu já estive na polícia pra tirá-los daqui. Falaram que teríamos que arrumar um advogado pra fazer uma ação de despejo. Um deles sumiu e há mais de seis meses o Raimundo pareceu aqui e ficou morando lá com o outro.
Mamãe deixou cortar a água e a luz do cômodo, aí o Raimundo falou que ia pagar o aluguel e pediu pra mamãe ligar a água e a luz. Cinco meses ele pagou direitinho e depois parou e aí parou. Ele ficava aqui no bar, porque não trabalhava, ficava o dia todo assistindo TV. Como ele estava devendo o aluguel, a mamãe pediu pra ele o dinheiro pra pagar a luz. Mamãe me disse que ele falou que não tinha dinheiro e não ia pagar.
Eram onze horas da manhã, quando foi às sete horas da noite e tocou fogo nela. Eu estava lá dentro com o liquidificador ligado, quando desliguei, ouvi aquela gritaria, quando saí, vi aquele horror, as pessoas ao redor, mamãe gritando e o fogo queimando. A gente fica louco, não sabe o que fazer nessas horas...”.
Para os filhos, nada justifica a atitude de Raimundo. “Mamãe era inválida, idosa, mesmo que El tenha dito alguma coisa que ele não gostou, ele não podia ter feito isso. Ele está desempregado, mamãe dava comida pra ele, tinha dó. Mamãe era uma pessoa boa, tem que ter justiça. Pra gente, ver a mamãe como estava não foi fácil, ela estava muito queimada...”, lamenta e acrescenta “ela saiu daqui sedada e continuou assim até morrer, por isso eu acho que ela não sofreu muito no hospital, mas ela não merecia isso”.
De acordo com Luizinho, Raimundo deve ter cerca de 21 anos, está desempregado e recebi ao seguro desemprego e diz mais “logo após a mamãe ser socorrida, sai atrás do Raimundo, eu queria encontrá-lo, fui a alguns lugares onde ele poderia estar, mas não o encontrei. Ele estava de bermuda e camiseta e os documentos. As coisas dele estão aqui.
Depois eu soube que camiseta dele foi encontrada na praça enrolando um faca e que ele passou no Morada do Sol e pediu uma camisa numa casa, dizendo que havia discutido com uma pessoa e rasgara a camisa. A pessoa deu-lhe uma camiseta, escrita “Os Carudos”, só que até então, a pessoa não sabia de nada e aí ligou pra Polícia contando que ele havia passado por lá e que lhe deram a camiseta. Só que ele não foi encontrado. Agora a gente está esperando a prisão dele, porque tem que ter justiça”, conclui.