Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Delegado indicia Ana Paula por homicídio duplamente qualificado

Edição n° 1216 - 30 Julho 2010

 

O delegado Cezar Felipe Colombari da Silva entrega ao Ministério Público nesta segunda-feira o inquérito policial que indicia a mãe, Ana Paula Gomes Mendes (foto), por homicídio duplamente qualificado, pelo meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, o seu próprio filho, Luiz Phelipe Mendes Lara, de 3 anos. Se for condenada, segundo esta denúncia, Ana Paula pode pegar uma pena de 12 a 30 anos de reclusão. 

O médico legista, Pedro Armando Pezzuti, do IML de Araxá, concluiu também o relatório de necropsia de Luiz Phelipe, afirmando que ‘o padrão das lesões apresentadas (veja as fotos ao lado, no sentido horário, lesões na testa, na orelha, lábios e nariz) demonstra que a criança vinha sofrendo há algum tempo maus tratos de grande intensidade e perversidade que podem ter culminado com a possível causa da morte’.

A Santa Casa negou ao ET o boletim médico de Ana Paula, que está internada naquele hospital desde terça-feira.

 

Delegado indicia Ana Paula por homicídio duplamente qualificado

 

 

 

Após a grande repercussão da morte do pequeno Luiz Phelipe Mendes Lara, 3, no dia 22, o delegado César Felipe Colombari da Silva, ainda trabalha na conclusão do inquérito, que deve ser enviado ao ministério público até a próxima segunda-feira, 2. “Concentramos o trabalho para reunir o máximo de elementos possíveis pra comprovar que o que houve foi um crime de homicídio e não um simples acidente como quer fazer transparecer, a mãe, Ana Paula Gomes Mendes”, disse.

A mãe alega no depoimento que teria gritado por socorro diversas vezes, quando saiu de sua casa, no bairro Chafariz, próximo à Igreja de N. Sra. d'Abadia, até o bairro Sto. Antônio, chorando muito e gritando por socorro e que ninguém a atendeu. O delegado, entretanto, não acredita nessa versão. “Fomos até os vizinhos, e todos foram unânimes em dizer que em momento algum houve gritos e pedidos de socorro por parte de Ana Paula. Vizinhos dizem que viram Ana Paula sair de casa com a criança enrolada num cobertor, mas sem alarde, sem chorar, sem gritar, portanto essa tese dela caiu por terra”, disse mais.

Algumas pessoas declararam para a televisão, que Ana Paula colocava o som alto para encobrir o choro da criança, mas o delegado afirma que essa declaração também não foi confirmada. “Se houver alguém que possa confirmar isso, deve procurar a polícia, porque averiguamos e não conseguimos constatar. A pessoa que prestou essa declaração à TV, ou quis aparecer ou falar mais do que sabia, porque quando ela foi trazida aqui, não quis comprovar, documentalmente”, informou. 

O pai, André Luiz Roberto Lara, foi ouvido na quinta-feira às 17h00. André que aparentava uma conduta omissa em relação à família, já foi preso por agressão contra a mulher.

Disse ao delegado que o filho não apresentava, na noite anterior, em que o deixou em casa,  os sinais de agressão. 

Em entrevista ao ET, o delegado confirmou que Ana Paula foi internada no sábado de manhã e recebeu alta na terça-feira à noite. “Foi constatado em exames que ela está grávida de quatro meses, como na outra vez. Em agosto de 2008, quando ela esteve presa por agressão ao Luiz Phelipe, ela também estava grávida de quatro meses”, informou.

A única lesão constatada pelo médico, segundo o delegado, foi em decorrência de sua  prisão, pelo fato de ter resistido. “Quem pegou a Ana Paula, quando ela correu, quem a jogou no chão fui eu. Por tudo isso, ela está recebendo cuidados especiais, conforme o médico recomendou. E toda vez que solicitar auxílio médico estaremos prontos para atendê-la”, frisou.

 

 

Santa Casa não divulga boletim médico

 

 

 

A Santa Casa de Misericórdia de Sacramento não divulgou até a data da edição desta matéria (30/7) nenhum boletim médico sobre o estado de saúde da paciente Ana Paula Gomes, a mãe que matou o filho, internada naquele hospital na sexta-feira, 23, tendo alta no dia seguinte, e, novamente, na última terça-feira, 27, onde permanece. 

A reportagem do ET esteve na Santa Casa, na manhã do dia 28, e foi recebido pela enfermeira chefe, Geisa Dinis, que não autorizou a entrada do fotógrafo para colher imagem do corredor hospitalar onde estava o policial de plantão, guardando a entrada da porta do quarto de Ana Paula, justificando que não tinha essa autoridade. Disse mais, respondendo à pergunta do jornal, se poderia perguntar à paciente se o fotógrafo poderia fotografá-la no leito, Geisa que respondeu que havia feito a pergunta a Ana Paula e esta não autorizou. 

O ET procurou depois o diretor clínico da Santa Casa, Pedro Teodoro Rodrigues Rezende, para solicitar essa autorização. O médico respondeu que não tinha como responder, pois não era ele o responsável pela paciente, mas que daria uma resposta ao jornal no dia seguinte. De fato, Dr. Pedro retornou a ligação, afirmando que o diretor técnico da Santa Casa, Dr. Cristiano Garcia Gonçalves, informou que não poderiam divulgar o boletim médico da paciente, porque o processo corria em segredo de justiça, e que a divulgação dependeria de uma ordem judicial. O jornal foi informado apenas de que  a ginecologista, Júlia Beatriz Coelho, era a médica que cuidava de Ana Paula. 

Mais uma vez o ET foi em busca da autorização, dessa vez junto à diretora do foro da comarca, juíza Roberta Rocha Fonseca, da 2ª vara. A juíza justificou através de sua assessora que o caso estava afeto à 1ª vara, sob a responsabilidade da juíza Letícia Rezende Castelo Branco. Gentilmente, a juíza recebeu o ET, justificando que nessa fase de inquérito policial não poderia conceder a autorização solicitada pelo jornal. 

“- Essa fase de inquérito  policial diz respeito ao Ministério Público e às investigações da Polícia Civil, que estão sendo levadas a efeito. O judiciário não entra de imediato, eu não tenho nenhuma legitimidade pra poder autorizar alguma coisa nesse nível. O que pode ser feito é um requerimento por escrito, que será levado à apreciação do  Ministério Público, que dará o parecer e depois vou analisar se autorizo ou não, mas em princípio, não tem como autorizar, porque compete ao MP e a Polícia Civil”. 

Juntando a matéria do jornal uberabense, JM Online, assinado pela jornalista Gislene Martins, denunciando “violência policial”, citando que uma policial bateu em sua barriga com cassetete, e ainda, “vista grossa” das autoridades e da população, o jornal protocolou na tarde de quinta-feira, um requerimento à juíza Letícia, solicitando uma autorização judicial para que a Santa Casa forneça os boletins médicos sobre o estado da paciente, que parece querer encobrir, alegando “segredo de justiça”. 

O delegado Cezar Felipe Colombari da Silva, na mesma tarde de quinta-feira recebeu mais uma vez o ET. Questionado sobre a violência policial denunciada pelo jornal uberabense, o delegado disse que desconhecia esse fato. Confirmou que foi ele quem prendeu Ana Paula, quando tentou fugir da Santa Casa no dia do crime, sem no entanto agredi-la fisicamente e, na cadeia, ela permaneceu em cela isolada, sem contato com as demais presidiárias. 

 

 

 

Mãe mantém a versão de que o filho caiu do portão

 

 

 

Ana Paula Gomes Mendes, depôs na terça-feira, acompanhada do defensor público, Luiz Fernando de Oliveira. “No depoimento, ela afirmou que a criança caiu do portão e morreu. Ela confessou que as mordidas que a criança tem no corpo, foi ela, a mãe, que praticou. Disse que teria mordido no corpo da criança para reanimá-la. Encaro isso como um absurdo e até ela, depois que falou, quis se retratar, mas já havia dito”. 

De acordo com Ana Paula, estavam na casa quando o filho Luiz Phelipe morreu, além dela, seus dois filhos, G, de um ano e meio e P, de seis anos; sua sogra A e os cunhados M, 17 anos, V. de 12 anos e ainda V., de dois anos. 

 

 

 

As considerações do delegado 

 

 

 

Veja algumas análises do delegado César Felipe Colombari da Silva sobre as declarações de Ana Paula:

- Ela declarou que limpou o vômito do quarto, mas depois negou, disse que não limpou. “Eu estive na casa e não havia vômito no quarto, ou seja, ela limpou mesmo. 

- Na parede, a perícia recolheu o que seria marca de vômito e sangue, ela disse que era sopa. 

- No hospital, a  criança estava com comida na boca, mas o laudo vai apresentar se a criança teve convulsões. 

- O “sofazinho” que ela diz que o menino pegou pra subir no portão, que é muito alto, está aqui, foi apreendido. Ele pesa 5,700 kg. Um menino de três anos não dá conta de carregar um sofá desses. E mais, para levá-lo ao portão, ele teria dado a volta pela casa, com o sofá até o portão. 

- Ana Paula antes de socorrer o filho foi guardar o sofá.  Como ela, antes de socorrer o filho, limpa o vômito, troca roupa da criança, muito embora ela diga que a criança estava sem roupas, guarda o sofá, pra depois tomar as providências com o menino?”

De acordo com o delegado, “Ana Paula pediu pra falar comigo na sexta-feira. Falou que apanhou de todo mundo aqui dentro, o que não é verdade, porque ela está isolada. No hospital procurou encrenca, dizendo que  enfermeira não gosta dela, que estava judiando dela. Mas um policial ficou o tempo todo ao lado dela no hospital e ela brigando com a enfermeira. 

Para o delegado, Ana Paula apresenta uma oscilação de comportamento. “O que constatei é que ela  apresenta um ciúme louco da avó.  Ela diz que o menino fez isso por causa da avó. Diante dessa e de outras circunstâncias que verifiquei, eu vou representar pela instauração de incidente de sanidade mental, para verificar se ela é portadora de algum tipo de distúrbio mental. Pois, se ela for inimputável, o procedimento será outro”. 

Ana Paula continua presa, como suspeita principal de um crime hediondo e, caso o Ministério Público ratifique a denúncia, segundo as conclusões do inquérito policial, ou seja, como autora de um homicídio duplamente qualificado, ela será julgada por sete jurados, com pena máxima de 30 anos de reclusão. 

 

 

 

Delegado indicia Ana Paula por homicídio duplamente qualificado

 

 

 

O delegado Cezar Felipe Colombari da Silva entrega ao Ministério Público nesta segunda-feira o inquérito policial que indicia a mãe, Ana Paula Gomes Mendes, por homicídio duplamente qualificado, pelo meio cruel e a impossibilidade de defesa da vítima, o seu próprio filho, Luiz Phelipe Mendes Lara, de 3 anos. Se for condenada, segundo esta denúncia, Ana Paula pode pegar uma pena de 12 a 30 anos de reclusão. 

 O delegado representa também pela instauração de incidente de sanidade mental contra a mãe. “Ela pode ter alguma patologia ou distúrbio mental que pode ter levado  a esse ato”, afirma, recordando que há dois anos, quando Ana Paula foi presa por maus tratos ao filho, ela estava grávida como agora. “Pelo que o legista informou em conversa, pode haver uma relação patológica ou distúrbio que leva à rejeição  durante a gravidez, mas isso só o incidente de sanidade mental é que vai comprovar. Se assim o for os procedimento serão outros”, justificou. 

 

 

Pai dá novo depoimento 

 

 

Andre Luiz Roberto Lara, 21, pai do menor Luiz Phelipe, em depoimento na quinta-feira à tarde, disse que viu as fotos do menino no IML e que as marcas de ferimento, que o mesmo apresentava no corpo, com exceção do corte na cabeça e um machucado na orelha, não existiam na noite anterior ao crime. “Ele diz que viu a criança à noite e ela não apresentava aquelas lesões”. André diz também que “Ana Paula tratava os filhos com igualdade, nunca foi procurado por vizinhos ou familiares para falar de maus tratos”. 

O pai disse também que “Ana Paula se apresentou um pouco fechada dias antes do fato e que acredita a mudança do comportamento se deu pelo fato da chegada de sua mãe (sogra de Ana Paula) e que o menino era muito ligado a sua mãe”. 

 

 

 

 

Laudo comprova que Luiz Phelipe vinha sofrendo maus tratos há algum tempo

 

 

 

O médico legista, Pedro Armando Pezzuti, do IML de Araxá, afirmou na conclusão do relatório de necropsia do menor Luiz Phelipe Mendes Lara  que não foi possível determinar a causa de sua morte. Mas frisou que a criança vinha sendo maltratada há algum tempo. “Os exames complementares poderão trazer subsídios para  a conclusão”, disse, afirmando mais: “O padrão das lesões apresentadas demonstra que a criança vinha sofrendo há algum tempo maus tratos de grande intensidade e perversidade que podem ter culminado com a possível causa da morte”.

Consta do relatório que o corpinho de Luiz Phelipe apresentava lesões externas com inúmeros ferimentos contusos e corto contusos espalhados por todo o corpo, principalmente na face, pescoço, tronco, membros superiores. Alguns ferimentos têm o formato como se fossem produzidos por ação  de arcada dentária humana. Como se fossem mordidas, com intensidade suficiente para ferir superficialmente, localizadas na região frontal, na parte posterior do tronco, nas mãos e região genitália. 

“Esses ferimentos – afirma mais o relatório - estão em diferentes estágios de cicatrização, caracterizando a ação em épocas distintas, algumas já cicatrizadas e outras com características de recenticidade. Na região frontal direita existe um ferimento corto-contuso linear medindo cerca de 8,0cm”. 

Existem lesões contusas regulares cm padrão semelhante entre si, provavelmente provocadas por unhas, sugestivo de tentativa de asfixia ou contenção de “choro” e “gritos”. No  couro cabeludo, observamos a presença de vários  hematomas. Outras lesões sem característica definidas localizadas no pavilhão auricular (orelha), nos dedos polegares e equimoses arroxeadas completam o quadro de difícil descrição”. 

Para determinar com precisão a causas da morte do pequeno Luiz Phelipe partes de órgãos foram recolhidas para exames complementares no IML de Belo Horizonte.

 

Deu no JM Online

 

 

 

Na manhã do dia 29, o jornal uberabense, Jornal da Manhã, divulgava na coluna da jornalista Gislene Martins, o seguinte: “Em Sacramento, a mãe que matou o próprio filho de três anos e que está grávida de três meses está denunciando violência policial contra si. Ana Paula Gomes Mendes, de 24 anos, voltou a ser internada, ainda que sob a vigilância da Polícia Militar, já que foi ratificada sua prisão em flagrante. Ela declarou ao delegado da cidade e a uma assistente social de Sacramento que fora agredida na barriga por uma PM que portava bastão conhecido como tonfa”.  

A matéria prossegue com uma crítica da jornalista, denunciando “vista grossa” das autoridades e da população. “Vista grossa. Os problemas envolvendo Ana Paula e seus familiares mereciam atenção maior das autoridades e mesmo da população de Sacramento. Há também possível patologia a ser estudada, afinal, a mesma mãe que grávida matou o filho de três anos também era gestante na época em que teria agredido e perdeu a guarda do garoto, que acabou assassinado por Ana Paula na semana passada. A dependência química é outro ingrediente na dramática realidade daquela família”.