Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Pitibul ataca criança de quatro anos

Edição nº 1130 - 30 Novembro 2008

Uma criança de quatro anos foi atacada por um pitibul, no bairro João XXIII, na tarde do domingo, 23.  Socorrido pelos vizinhos, o menor foi imediatamente encaminhado à Santa Casa de Misericórdia, gravemente ferido, onde foi atendido pelo médico de plantão, Magid Maluf, que solicitou a presença dos médicos, o cirurgião Leandro Scalon e o anestesista, para ajudá-lo nos procedimentos. 

Com graves ferimentos na cabeça e região torácica, o menor foi medicado e encaminhado ao Raio X, pois havia a suspeita da perfuração de um dos pulmões.  O pequeno garoto foi submetido à cirurgia para recomposição do couro cabeludo, onde a caixa óssea craniana ficou exposta e, à noite foi encaminhado para Uberaba, em estado grave. “O Anjo da Guarda ajuda as crianças... O couro cabeludo delas tem elasticidade, aí será rodado um retalho pra cobrir aquela falta de substância, vamos suturar os demais ferimentos e ele permanece internado com a medicamentação. Se Deus quiser ele vai sair dessa, ficará apenas o trauma psicológico”, explicou Dr. Magid. 


Criança entrou no quintal do vizinho 

O menor, que mora com a mãe, Ariane Fernandes, no bairro Perpétuo Socorro e passa os domingos com o pai, Altair Ramalho, no bairro João XXIII, na casa da avó, Maria Madalena Jorge Ramalho, por volta das 16h00, foi à casa da vizinha brincar com o coleguinha de 6 anos. “Ele foi brincar com o menininho do vizinho e não havia ninguém em casa. O cachorro estava solto e atacou. Aí os vizinhos, as pessoas começaram a gritar, dar pauladas e pedradas no cachorro e o Jerônimo entrou e pegou meu neto todo ensangüentado e correu para o hospital”, contou a avó, ainda transtornada pelo fato. 

Willian Dênis, 17, proprietário do cachorro da raça pitibul, de cerca de um ano de idade, também bastante abalado, disse que não estava em casa na hora do ataque. “O portão estava fechado e o menino entrou. Eu estava na padaria e o pessoal foi lá me chamar. Só que aí ele não obedece. Ele levou muita paulada e pedrada, mas não parava. É uma pena, fico com muito dó do menino”, diz, admitindo que o cachorro já atacou outras pessoas. E vários moradores das imediações, quando a reportagem do ET chegou, denunciaram os ataques do cão e os perigos que oferece para todos que por ali transitam.  

Willian possui também um Rotiweller, mas garante que é um cão manso. “A criança entrou no quintal sem ninguém. Se meus irmãos menores estivessem lá não teria acontecido nada. Ele está acostumado a brincar com os meus irmãos”, reafirma, dizendo que não sabe ainda o que vai fazer com o cachorro. “Agora é esperar pra ver o que vai acontecer”. 

 

Um ato heróico

Jerônimo Messias, 49, residente na avenida Tomas Novelino, foi quem praticou um ato heróico de apanhar o menino, ainda quando estava sendo atacado pelo cão. “Foi até por Deus que me levou lá. Primeiro, ouvimos gritos de socorro, mas não saímos, porque não sabíamos o que estava acontecendo. Na noite anterior, haviam matado um aqui perto... Mas, de repente ouvimos o pessoal falando do cachorro do Willian e eu saí correndo. O menino estava no chão, o pessoal dava paulada no cachorro, que recuava, mas ninguém pegava o menino, que estava se debatendo no chão. Eu entrei junto no cachorro, nem sei como, sei que trombei com o cachorro. Pequei o menino e saí correndo. Como não dava pra pegar o carro, uns turistas que passavam, pararam, o pessoal desceu e o motorista me levou para o hospital. Foi horrível, era muito sangue, quando a gente vê uma criança indefesa, a gente não pensa duas vezes” - contou. 

 

Dr. Magid: “Em 35 anos de médico nunca viu tantas mordidas assim numa criança”

Toda a equipe da Santa Casa se mobilizou para o atendimento ao pequeno e o assombro era grande em todos. O médico plantonista, Magid Maluf, que recebeu a criança ferida declarou: “Eu nunca vi um estrago tão grande numa criança. Eu fiquei assustado e logo chamei o Leandro para ajudar. Em 35 anos de Medicina nunca vi um estrago desses em criança, nem em São Paulo, onde me formei. A gravidade é grande”, declarou. 

Após os exames preliminares, o menor foi encaminhado à sala de cirurgias. “Houve perda de substância no crânio, arrancou uma parte do couro cabeludo e chegou na calota óssea, graças a Deus não atingiu o cérebro, senão o menino estaria morto”, disse muito contrariado com o ocorrido, o médico Magib. 

Segundo o médico, a sociedade precisa se mobilizar. “Tem que se fazer alguma coisa, porque Sacramento é uma cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, mas a quantidade de tragédias que acontecem, no trânsito, motos, assassinatos, ataques de animais, extrapolam o nível normal. Há alguma coisa errada, pelo tamanho da cidade. São várias pessoas mordidas por cobras, escorpiões, atacadas por cães. Isso não é possível” – desabafou.

Para Magib, algumas providências devem ser tomadas. “Pessoas mordidas de cachorros, picadas por escorpiões e cobras são ocorrências diretas aqui... Tem gente internada que foi picada por cascavel. Isso é problema de saúde publica, de zoonose. Alguma coisa tem que ser feita”, pede. 

Ainda de acordo com o médico, é preciso que a população seja educada. “Se não tivermos educação vamos entrar em falência, cada um precisa fazer a sua parte. Cada um tem seus direitos, mas tem também que cumprir os seus deveres e ser responsabilizado pelo que faz”, explicou. 

 

Outra reivindicação do diretor clínico da Santa Casa, Magid Maluf é que Sacramento precisa de um médico legista. “Quando é morte violenta não podemos dar o atestado aqui, a vítima vai para o IML de Araxá. E esse é outro problema da cidade, um transtorno, principalmente pela remoção do corpo, transporte, demora. A cidade precisa de um médico legista. Não podemos fazer o papel de legista e a complexidade. Estamos numa cidade pequena, com problemas de cidade grande, por isso precisamos de um legista”.