Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Personalidades do ano de 2006 - Bruno Cordeiro, Prof. Cacildo e Maura Lúcia


Bruno Scalon Cordeiro

O vereador Bruno Scalon Cordeiro, 34, exercendo seu primeiro mandato pelo PFL, fez real o sonho de muitos antecessores na Mesa Diretora de trabalhos da Câmara Municipal de Sacramento: reformar, revitalizar e restaurar o Paço Municipal 'Dr. Juca Ribeiro'. A conclusão desta almejada obra revelou sua real vocação e paixão pela vida pública, cujo interesse foi herdado do avô, o saudoso ex-prefeito Dr. João Cordeiro.

A Casa da Câmara começou a deixar de ser a Prefeitura da cidade, depois que o ex-prefeito Nobuhiro Karashima devolveu através de lei o prédio ao poder Legislativo. Mas só agora, no mandato do atual prefeito, Joaquim Rosa Pinheiro, o Executivo deixou o espaço, criado como sede da Câmara Municipal, em 1871, e utilizado pela Prefeitura desde 1931.

Bruno é filho de Selma Scalon Cordeiro e Ivan Cordeiro, nascido e criado em solos da Padroeira do Santíssimo Sacramento. É advogado graduado pela Faculdade de Direito de Franca, onde se especializou em Direito Civil. Na profissão de advogado obteve grande prestígio, o que lhe rendeu o título de Advogado do Ano por quatro anos consecutivos, através de pesquisa promovida pela Associação Comercial e Industrial, Agropecuária e de Prestação de Serviços de Sacramento.

A exemplo do seu avô, Dr. João e dos seus pais, Ivan e Selma, abraçou também o magistério, profissão querida que sacrificou pela vida pública. Porém, sua vida não se restringe à política, advocacia ou ao magistério. Bruno sempre se manteve ligado aos trabalhos filantrópicos, sobretudo na APAE e Fundação Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo; Santa Casa de Misericórdia; Rotary Club; OAB; Conselho Municipal dos Diretos da Criança e do Adolescente.
Mente jovem, empreendedor, dinâmico e sempre disposto a lutar pelo progresso de Sacramento, Bruno Cordeiro, foi eleito vereador majoritário em sua primeira disputa eleitoral, com 775 votos.

A Segunda vitória na política veio de imediato: o cargo de presidente da Câmara Municipal, onde termina profícuo mandato. A seriedade em exercício parlamentar, a transparência nas ações e compromisso político, o permitiram a receber comendas do Estado de Minas – Comendas JK e da Inconfidência Mineira , concedidas pelo governador Aécio Neves. “Tenho compromisso com o povo da minha cidade, com o desenvolvimento de nosso município, especialmente quanto a geração de novas frentes de trabalho”, responde sempre quando fala de sua vocação política.

Bruno é presença marcante na comunidade, mas o seu mérito mais imediato foi empreender a reforma do Paço Municipal, em 2006, enfrentando oposição de alguns que alegavam descaracterização do prédio. Na verdade a sua originalidade já foi descaracterizada há muitos anos e a reforma atual em nada alterou a sua fachada frontal.
Assim, à frente da mesa diretora da Câmara, conduziu a reforma do prédio, ampliando e revitalizando o Paço Municipal, que passou de 60 para para 250 lugares, o salão nobre “Dr. Paulo da Graça Lima”.
Por tudo isso o jovem vereador, presidente da Câmara, Bruno Scalon Cordeiro é Personalidade do Ano de 2006.

Profº Cacildo Manzan

O professor sacramentano, Cacildo Manzan, 45, foi agraciado com o título de Cidadão Honorário de S. Joaquim da Barra, em sessão solene realizada na Câmara Municipal daquela cidade, dia 08 de outubro. Os relevantes trabalhos de Cacildo, não apenas no Curso Oswaldo Cruz, onde é professor de Língua Portuguesa e Redação, mas também, pelo engajamento na sociedade sãojoaquinense, principalmente no campo da arte e filantropia. “Obrigado, São Joaquim da Barra por esta que, seguramente, é a maior honra que recebi nesta cidade, senão em toda a minha história. (...) Terei o maior orgulho em ostentar esta cidadania”, disse o professor naquela ocasião.

Cacildo Manzan, 45, nasceu nas terras do Borá, ali no bairro do Rosário, onde foi criado sob o carinho e cuidado dos pais, Antonio Carlos Manzan e Oralda Manzan, e ao lado dos irmãos, Vânia, Renato e Ana Maria. Amigos foram muitos, não só no bairro, mas em toda a cidade. Os estudos foram na Escola Estadual Coronel José Afonso de Almeida, de onde tem boas lembranças. Todos são bem lembrados, mas reverencia sempre a professora das primeiras letras, Irene Afonso Mendes e a então diretora, hoje de saudosa memória, Aracy Lopes Pavanelli.

O curso de Contabilidade foi a opção do jovem estudante. Concluídos os estudos na Escola Maria Crema, Cacildo parte para tentar a vida em Sertãozinho, mas logo opta pela cidade de Franca, onde após alguns trabalhos aqui e ali, ingressa no Banco América do Sul. Mas como a sede de aprender era insaciável, Cacildo ingressa no curso de Letras, na Unifran.

Chegada a hora de optar pela profissão de bancário ou professor. A vocação pela segunda foi mais forte e logo muitas portas se abriram. Cacildo torna-se professor no Curso Osvaldo Cruz – COC. Estudioso por excelência, a sede de aprender, não está saciada, por isso outros cursos vêm somando novos conhecimentos à sua vasta bagagem. Isso e muito mais o faz querido e conhecido na vasta região paulista por onde passa, até fixar residência em Ribeirão Preto, levando uma bagagem recheada de saudades e muita disposição para o trabalho.

Na verdade, Ribeirão é seu dormitório, porque seus dias se dividem entre as cidades de São Joaquim da Barra, Guaíra e Sertãozinho, sempre no COC. “Dentro da Feam/COC pude desenvolver minha profissão/vocação. Primeiramente, como professor de Redação, em seguida desenvolvendo um trabalho de teatro junto aos alunos do Ensino Médio na saudosa e agora resgatada Sessão Lítero Musical”, declarou Cacildo à Revista Destaque In.

A família é grata pelo filho, pelo irmão, como diz a irmã Vânia. “Sou suspeita para falar, mas o que posso dizer é que Cacildo é um grande irmão, muito amoroso, amigo, de um desprendimento a toda prova, está sempre pronto a ajudar a quem precisa. O defeito dele é ser exigente, se é que é defeito e crítico, ele é muito crítico... ele é um ´irmãozão´...”, define Vânia.

Para Sacramento, Cacildo será sempre o filho querido, que sempre será acolhido de braços abertos. Sacramento orgulha-se dos filhos que tem e Cacildo é um deles, sua vitória lá fora só enobrece e enaltece nossa cidade, por isso Cacildo Manzan é Personalidade do Ano de 2006.

Maura Lúcia Rodrigues

Maura Lúcia Rodrigues, 59, cereana há 23 anos, foi a primeira mulher a assumir a presidência da entidade, que tem mais de 35 anos. “Fui eleita presidenta em 2002 e reeleita em 2003, até agora sou a primeira e única mulher a presidir aquela casa que fez tanto bem a mim como pra toda a sociedade. Ali eu revivi, renasci para uma vida livre do alcoolismo”, diz, com simpatia, na cozinha de sua casa no bairro Maria Rosa, onde recebeu repórteres deste jornal.

Hoje, Maura é coordenadora regional do Cerea, cargo que ocupa há dois anos. “Antes, os Cerea's eram independentes, cada um pra si e Deus por todos, aí veio a idéia de criar a Federação Unicerea. Eu estava terminando a minha gestão, eles me convidaram e aceitei o cargo”, conta a coordenadora regional dos Cereas de Sacramento, Uberaba, Conquista e Araxá. “O trabalho do coordenador é orientar os cereanos e, sobretudo, trabalhar pela unidade entre todos os recuperandos, por isso a união entre cada um de nós é de extrema importância, formamos uma família que luta para combater o vício do álcool”, diz.

Para Maura, qualquer cidadão está sujeito a se enveredar pelo vício do alcoolismo. “Ninguém começou bebendo um garrafão, todos começam com uma dose, isso precisa ser analisado por todos, por isso precisamos de apoio para expandir a divulgação. Muita gente diz que bebe socialmente, mas a própria palavra revela a mentira, quem bebe social-mente. Uma pessoa que bebe todos os dias e começa a contar as horas de parar do trabalho para tomar uma, já é uma pessoa viciada”, afirma.

O Cerea é de suma importância para a sociedade, na opinião de Maura. “O Cerea é lição de vida para a sociedade, por isso precisa ser muito mais valorizado, precisa mais de apoio de todos. Ele é de suma importância pra sociedade, porque cada bêbado que recolhemos na rua e colocamos dentro do Cerea, não estamos salvando só aquela pessoa, mas uma família inteira. Uma vez salva a família, está salva uma parte da sociedade”, diz mais Maura com toda a experiência de quem foi uma viciada na bebida.

Segundo a coordenadora, o alcoólatra é um peso nefasto para a sociedade. “O bêbado para a sociedade é ruim, porque ele só ajuda a destruir. É aquele tal de, `tomei só um golinho, não faz mal´... Só que a pessoa que tem a doença do alcoolismo não pode nem com um copo, nem com uma colher. O que separa o alcoólatra de um copo de bebida é a distância de seu braço. As pessoas precisam ser conscientizadas do perigo que estão correndo, o consumo é muito grande.

Pelo seu exemplo de vida, pelo seu caráter, pela sua dedicação e doação, pela sua altivez frente à vida e ao Cerea, Maura Lúcia Rodrigues é Personalidade do Ano de 2006.

Maura Lúcia Rodrigues sabe que nasceu em Uberaba no dia 5 de outubro de 1947. “Mas não tenho certeza disso, nem de meus pais que nunca conheci. Oscarina Machado Carneiro e João Nepomuceno Carneiro constam como meus pais biológicos no registro, mas não sei se são meus pais. Eu não sei se tenho irmãos, não tenho família, aliás tenho, minha família, são o meu marido, João, os meus filhos, genros, noras, netos. Minha família é resumida neles”, conta com resignação de uma mulher que sofreu muito na vida.
Veja abaixo.

Um pouco da bonita história de vida de Dona Maura...

A infância...

Até os seis anos fui criada por uma família. Eles é que me registraram, mas eram muito pobres, faziam caridade de cuidar de mim, eu acho. Mas eles não eram meus pais, não. E eu me lembro que um dia, fui levada de carro, num carro fechado pra outra fazenda, da família Prata pra região de Água Comprida. Eles nunca falaram nada sobre minha família. Eu tenho a impressão de que fui vendida, era uma época de coronéis. Eu era menina ainda e já cozinhava para peões, fazia toda lida de casa. Até eu me casar com 14 anos. Os estudos foram poucos, mas de muita valia. “Graças a Deus no governo do Biro, criaram o Projeto Luz, aí fui pra escola, saber ler e escrever ajuda muito na vida da gente”.

Aos 14 anos, Maura casou-se com Valdomiro Leal Rodrigues com que teve os filhos Thânia (Haroldo), Romildo (Alvanir), Maria (Germano), Roberto (Marli), Romário (Helena), Roseli (Bené) e o filho do coração Antonio Carlos, filhos que já lhes deram 12 netos.

“Valdomiro era doze anos mais velho que eu, mas casei pra ficar livre do povo da fazenda, eu sofria demais. Ele era um peão da fazenda. Nos casamos e é ele o pai de meus filhos. Era um por ano, a gente era bobinha, não sabia das coisas... Ficamos naquela fazenda,um tempo e depois começamos a mudar pra lá, pra cá. Mas a minha vida não foi fácil. Um dia mudamos pra Uberaba. Aí comi o pão que o diabo amassou, porque o Valdomiro, que já bebia, aumentou a dose. Ele era muito violento, me batia demais e eu com seis filhos pequenos... um dia ele sumiu. Aí fui pra luta, lavava roupa na casa dos outros, em duas casas por dia pra sustentá-los. Eu deixava de comer e levava o prato de comida pra casa.pros meninos. Eu acho que nessa época começou o meu vício, porque eu chegava toda molhada e a minha vizinha me dava café com pinga, pra combater a friagem. E eu comecei a gostar da pinguinha”.

A mudança pra Sacramento e o reencontro com os filhos

Apesar de já gostar de uma biritinha, Maura continuava, em Uberaba, na luta pra tratar dos filhos. Fazia todo tipo de trabalho, mas comida não faltava. Até que um dia Valdomiro reaparece. “Ele voltou pra casa e eu não aceitei, mas ele bateu o pé e ficou. Aí eu saí. Saí de casa e entrei na bebida pra valer. Um dia, vim passear em Sacramento e decidi ficar. Os meninos ficaram com ele Valdomiro em Uberaba. Pouco mais de um ano depois, minha filha Thânia escreveu pedindo pra ir buscá-los, porque estavam sofrendo muito. Eu não pude ir no dia, demorei uns dias, mas quando cheguei na casa deles, até chorei de ver a vida que levavam. Decidi na hora: eu vou voltar para buscar vocês todos”.

Emocionada com a lembrança, Maura, prossegue, afirmando que ajeitou as coisas em Sacramento, onde não tinha lugar para morar e realmente voltou. “Aluguei dois cômodos na rua Antônio Carlos, chamei o Waldir do táxi e fui buscar meus filhos, no dia 16 de maio de 1979. A gente chegou aqui, tinha teto, mais nada. Na nossa casa não tinha nada, nem colchão, nem fogão, nem nada... aí, eu disse: seja o que Deus quiser e fui à luta. Mas recebi muita ajuda das pessoas aqui, ganhei muita coisa. Lavei e passei roupa, catei raiz na Resa, cortei cana na Mendonça, apanhei café demais... às vezes os meninos comiam o puro arroz, mas nunca passaram fome, graças a Deus e eu venci”.

O Cerea...

Maura criava os filhos, trabalhava duro, mas não abandonou o vício, sempre sobra algum e sempre aparecia quem pagava uma dose. “Eu não ficava sem bebida, pois o vício me dominava... Mas um dia deixaram aqui o meu filho adotivo, o Antônio Carlos, hoje com 27 anos. Ele muito doentinho, com três meses de vida. A mãe dele era uma bêbada, aí eu pensei tirar o filho de uma bêbada e entregar pra outra bêbada... Meu Deus, eu vou parar de beber. Um dia, os cereanos, meus amigos, que considero como da minha família, o Alencar Araújo e a Maria, me convidaram pra ir ao Cerea. Era o dia 7 de abril de 1983, e a partir desse dia nunca mais bebi, nunca mais saí do Cerea e quero morrer cereana.

Valorizando o trabalho psicopedagógico do Cerea, Maura conta que na instituição reencontrou sua vida. “Ali reencontrei a minha vida, minha saúde, minha dignidade, tudo que eu havia perdido. Hoje, eu digo que vivo uma vida de rainha. Tive problemas com alcoolismo depois que entrei no Cerea, mas com meus filhos e com o meu companheiro João, mas hoje graças a Deus estão recuperados, estamos a maioria da família no Cerea: o João, o Romildo, a Roseli, o Bené...”.

Maura ainda trabalha, é funcionária pública efetiva há dez anos, espera aposentar-se, para dedicar-se mais e mais ao Cerea, ao marido João, com quem vive há 16 anos, aos filhos e netos. “Temos casa própria, temos dignidade, felicidade, muito amor e exemplo, porque quando a gente quer, a gente vence. Eu não tenho vergonha nenhuma em dizer o que fui. Costumo dizer, que talvez, se eu não tivesse sido uma bêbada, hoje eu não seria o que sou”.

O Centro de Recuperação do Alcoólatra de Sacramento conta com mais de 800 recuperandos, todos engajados na sociedade. “Tem gente que viva sem trabalho, gente que estava encostado sem poder trabalhar que já foi liberado, famílias que foram reconstruídas, filhos que foram reencontrados. Cerea é isso e está aberto a todos”, finaliza Maura, Personalidade do Ano de 2006.