A Campanha da Fraternidade 2006 tem como lema, ‘Levanta-te! Vem para o meio’. Trata-se de um conviete a todos os cristãos
para se engajarem na proposta de reconhecimento, trabalho e inclusão das pessoas com necessidades especiais.
Veja nesta e na próxima edição reportagem sobre o trabalho realizado pela Apae de Sacramento.
ET - A realidade da APAE de Sacramento, hoje: Pessoas atendidas, tipos de deficiência, quantos funcionários. Orçamento anual?
Apae: Temos 140 alunos clientes, portadores de deficiência: física, mental, múltipla, auditiva, visual, além das síndromes e dificuldade na aprendizagem acadêmica.Temos 36 funcionários; em 2005 tivemos uma despesa aproximada de R$367.000,00 numa receita de R$385.85l,59 de acordo com o balanço anual já publicado neste Jornal.
ET - Uma vez matriculados na APAE, como são cuidados e educados esses alunos portadores de deficiência? A partir de que idade vocês aceitam alunos?
Apae.: Após a matricula, o aluno é encaminhado a uma de nossas turmas de acordo com as necessidades (físicas / psicológicas) mais acentuadas. Temos a sala de Estimulação, Pré Escolar, 1ª série, 2ª série, 3ª série, 4ª série, EJA, Oficinas Pedagógicas e ainda este ano a sala de reforço escolar (funciona para dar suporte aos alunos que foram encaminhados para a quinta série). Cada sala é uma realidade. Tentamos agrupa-los da melhor maneira possível, frisando que o trabalho é individual. O profissional procura conhecer cada aluno, descobrir sua potencialidades e auxiliá-lo em seu desenvolvimento motor, emocional, intelectual. Não seguimos simplesmente o critério de agrupamento por idade cronológica, mas também pela idade mental. Os objetivos são traçados e os profissionais se envolvem para o alcance dessas metas. Cada turma tem seu ritmo de trabalho, seu cronograma de atividades e sua rotina de atendimentos clínicos (Assistente Social, Enfermeira, Fonoaudióloga, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional e Psicóloga). A psicóloga atende todos os alunos (individualmente ou em grupos), bem como a enfermeira que cuida não só da distribuição de medicamentos como também da higiene pessoal e demais orientações na área de saúde. Esclareço nesse espaço que os medicamentos não são prescritos pela APAE e, nem todo aluno faz uso de medicamentos. O remédio adotado por nos é o dialogo, o respeito uma visão mais ampla da situação do aluno e um desejo enorme em ser útil. Os demais profissionais clínicos atendem de acordo com a necessidade do aluno. Como o aluno não vive isolado, a equipe clinica presta atendimentos, esclarecimentos e suporte às famílias através do Clube de Mães e também do amplo trabalho da Assistente Social.
ET - Qual o papel da sociedade em relação às pessoas com deficiência? O poder público tem feito seu papel? A família do portador de deficiência tem feito o seu papel?
Apae.: A sociedade está despertando para este compromisso de reconhecimento e valorização da pessoa portadora de necessidades especiais, pois o papel de todos nós deve ser o de contribuir da melhor forma possível para que a cidadania possa ser exercida por todos. Recebemos Subvenções da Prefeitura, do Estado e do Governo Federal além de professores e uma funcionária. Não posso me esquecer de citar as doações espontâneas. Varias leis foram aprovadas no sentido de resguardar os direitos adquiridos para aqueles que fazem parte da minoria, mas, possuem a força dos gigantes para sensibilizar-nos a uma visão mais humanitária. Quanto ao papel da família, abranjo que muitas já acreditam na superação de limites, no desenvolvimento da capacidade de seus entes queridos que finalmente, após muitas dificuldades, estão conquistando aos poucos seu espaço na comunidade.Muitas famílias se envolvem com a causa apaeana participando ativamente em nossas reuniões, movimentos realizados, campanhas, etc.Muitas famílias já assumiram a responsabilidade de levar e buscar os alunos que utilizam o ônibus da entidade e aproveito este momento para agradecer todas as pessoas que estão colaborando com os alunos que já fazem uso do transporte coletivo da cidade, auxiliando-os, instruindo-os, dialogando com eles. Aos motoristas e cobradores do ônibus que pacientemente tentam engaja-los nessa realidade, nosso obrigado.
ET - A Campanha a Fraternidades 2006 está trabalhando o tema da Fraternidade com os portadores de deficiência, convidando-os a levantar e vir para o meio. Como a Senhora vê esse papel da inclusão, por parte da sociedade de um modo geral?
Apae.: A inclusão ainda é um tema polêmico. Como membro da família APAEana, acredito que com a adoção deste tema pela CF, todos os portadores de necessidades especiais sejam de fato reconhecidos como cristãos, tendo acesso as cerimônias religiosas, participando no coral, se preparando para a 1ª Comunhão, auxiliando no recolhimento das oferendas, sendo "coroinha" por que não?! Em nossa cidade, houve épocas em que só participávamos da missa das crianças; atualmente as coroações a Nossa Senhora são feitas no horário de missa aos doentes, mas durante dois anos nem convidados para participar das comemorações nós fomos. Esperamos que através das reflexões, toda a comunidade possa de fato quebrar as barreiras físicas e psicológicas que impedem a realização desse sonho que pertence a tantos: Formarmos uma Grande Família, afinal, somos todos Filhos de Deus e devemos nos auxiliar mutuamente buscando a evolução de todos e não somente de alguns.O tema da Campanha da Fraternidade faz um convite a pessoa portadora de necessidades especiais a vir para o meio.Temos que questionar o que este meio tem a oferecer, o que estamos dispostos a doar. Não devemos oferecer orgulho, discriminação, desprezo... teremos que buscar dentro de Nós, valores que mereçam ser perpetuados.
ET - Há vários tipos de deficiências, cada uma com um perfil e uma característica diferente... mas é possível, você traçar aquelas deficiências que são tratadas, a ponto de alguns anos de estudo em Instituição própria como as APAEs, esses alunos serem inseridos no mercado de trabalho? Você tem exemplo?
Apae.: Sim, temos alunos que, após serem treinados a realizar determinada atividade, executam muito bem suas funções dentro da empresa. Temos os alunos que possuem a Deficiência Auditiva, por exemplo, dão um ótimo retorno no emprego. Aproveito este espaço para parabenizar e agradecer as empresas que corajosamente deram o primeiro passo empregando alguns de nossos alunos: Fábrica de Velas, Saks, Esfera Rolamentos, e Tutuce Noivas. Ressalto ainda a importância da família se envolver nesse contexto auxiliando seus filhos quanto a responsabilidade, cumprimento do horário, uso do uniforme, enfim, orientações rotineiras porque antes de serem inseridos no mercado de trabalho os alunos são preparados para tal atividades mas, devido à dificuldade de assimilação, necessitam destes lembretes.
ET - A gente tem noticias de famílias que escondiam seus filhos deficientes em casa... Ainda existe esse tipo de família que não aceita entregar o seu filho a uma Instituição?
Apae.: Sim. Infelizmente, apesar de toda essa conquista ainda há casos.Os motivos são vários, a maioria tem como base a insegurança em relação às atitudes da comunidade em geral. Uma coisa é você lidar com um filho que vive só, outra coisa é você conviver com um filho em processo de socialização. Isto requer uma reforma íntima e muita persistência. Toda mudança gera conflito e muitas famílias não conhecem a amplitude de nosso trabalho. Para as famílias que ainda não estão prontas a aceitar a realidade, resta-nos rezar e respeitar esse momento de isolamento. Chegará o momento que reconhecerão a necessidade de seu filho ser tratado como pessoa e não como um animalzinho enjaulado ou abandonado.
ET - A pedagogia inclusiva há algum tempo vem sendo adotada no mundo. O Brasil absorveu bem essa nova modalidade educativa para trabalhar com o portador de deficiência ou ainda há resistência?
Resp.: Para que a pedagogia inclusiva aconteça, não basta apenas existir leis, requer mudança interior.Há um maior investimento e divulgação dos trabalhos realizados nessa área, cursos diversos dentro da educação especial, propagandas incentivando a inclusão, mas há também o despreparo ambiental e profissional de algumas escolas. Em Sacramento temos escolas que esforçam para realmente atender este aluno, procuram-nos para esclarecimento de situações problemas, já entenderam que esta clientela não é problema da Apae mas sim, um cidadão que deve receber suas oportunidades. Todos sabem que, conforme a gravidade da dificuldade, o aluno ainda não esteja em condição de permanecer com uma turma maior sem planejamento especifico mas,aí entra o apoio dos profissionais prometidos pelo governo a todas as escolas com demanda em ensino especial.Sabemos da enorme dificuldade em desenvolver uma aprendizagem sem uma boa estrutura, sem um trabalho que promova a reflexão do recurso humano. Você salientou o tempo em que vem sendo trabalhada a inclusão. Isso leva tempo! O importante é sentirmos a vontade do ser humano em fazer o que é certo. Afinal, devemos fazer ao próximo o que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos, não concorda?
ET - As escolas regulares (como se as Apaes e outras instituições similares fossem escolas irregulares) têm feito o seu papel na aceitação desses alunos portadores de deficiência?
Resp.: Como já disse, as escolas também estão engatinhando nesse processo de inclusão. Temos escolas que estão mais interessadas, apoiando mais, outras, ainda nem se tocaram para este fato. Encaram a situação como sendo obrigatória, como se nossos alunos fossem objetos ou animais (digo nossos alunos por lutarmos por seus direitos e não no sentido de posse). Essa pergunta nos remete a resposta onde afirmo a importância da reforma intima.
ET - Falam até em acabar com as Apaes. Você concorda com essa medida? Por quê?
Resp.: Bom , vou expor algumas de nossas atividades e após ouvi-las, creio que ficará claro minha resposta. Nós realizamos atividades de acordo com o calendário da Federação Nacional das Apaes que são: Concurso Anual de Cartões de Natal (Novembro);Festival Nossa Arte (a cada 2 anos explorando a música,teatro, dança,trabalhos literários e artesanais);Olimpíadas (a cada 2 anos envolvendo a natação, atletismo e jogos); Semana Nacional do Excepcional (anualmente no mês de Agosto 21 a 27) Congresso Estadual (a cada 2 anos);Congresso Nacional (a cada 2 anos)
Atividades realizadas de acordo com o calendário da Apae de Sacramento: auditórios bimestrais (envolvendo dança, musica, teatro, poesia);Cursos de Capacitação (Libras. Inicio em Abril/2006); Encontro Pascal dos padrinhos e seus afilhados (Abril);Noite Materna (confraternização com as mães Maio);Festa Junina; Aniversario da Escolinha Tio Tofe (julho); Tarde Paterna (confraternização com os pais Agosto);Gincana Estudantil (Agosto); Confraternização Natalina e Formatura (Dezembro)
Temos ainda, as atividades previstas pela Diretoria da Apae (voluntariado):Festa da Batata, Jantar. Eleição da Diretoria Executiva 2007/2008. Além dessas, não citarei todas as atividades cotidianas dos alunos que envolvem turmas específicas como atividades da vida prática, projeto da Copa, eleição dos auto defensores, serviços profissionalizantes, reuniões clínicas a cada 15 dias e muito mais. Com esta estrutura, creio que todos concordam com a continuidade dos serviços prestados. Por que mexer com o que está dando certo?
ET - Existe um projeto especifico da Apae local para vivenciar a CF 2006? Pode adiantar algumas das atividades?
Resp.: Estamos trabalhando efetivamente com a inclusão do portador de deficiência em todos os setores. Como a escola está sempre disposta a atuar com a comunidade, temos o Projeto Portas Abertas, onde propiciamos abertura para todos conhecerem o trabalho realizado em nossa escola.Este ano pedimos que sejam agendadas as visitas durante o mês de Abril; desta forma o trabalho fluirá de forma mais organizada. Esperamos que, além de conhecerem nosso trabalho, os visitantes sintam-se a vontade para a realização de trocas de experiências, diálogos e apresentações artísticas, afinal, não temos como objetivo a exposição de nossos alunos e sim a inclusão.
LEVANTA TE E VEM PARA O MEIO ... e encontrarás
Afeto, reconhecimento, apoio, atenção, instrução, calor humano.
Escolinha Tio Tofe.