Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Mulher grávida de quatro meses e dois filhos vivem em condições sub-humanas

A jovem Lídia Mara de Oliveira, 21, grávida de quatro meses e com dois filhos pequenos, recém separada do marido, está vivendo em condições sub-humanas, na casa do sogro, Pedro Manuelino de Castro, 49, na rua São Sebastião, nº 244, no bairro São Geraldo. A casa construída para Pedro, na gestão do ex-prefeito Nobuhiro Karashima, possui três cômodos. Um deles, o ex-sogro cedeu à Lídia e às crianças. Na minúscula casa de Pedro, o que era cozinha virou quarto para Lídia e as crianças. Pedro dorme na sala, porque no outro cômodo foram colocados os poucos pertences dos moradores.

No fundo, saindo do quarto de Lídia, Pedro improvisou uma cozinha, com restos de madeira e algumas telhas. Fez um fogão de barro e colocou a pia num jirau, onde há um cano, porém sem água. O SAAE cortou a água há vários messes por falta de pagamento. Quatro vezes por semana, Pedro junta algumas dezenas de litros plásticos do tipo 'pet' e vai buscar água no cafezal dos Crema, distante um quilômetro, onde tem uma mina.

"Há muito tempo que a minha água está cortada. Pedi para o SAAE fazer as contas, dava mais de R$ 330,00. Pra ligar a água, eu tinha que pagar R$ 100 reais, aí não deu. Eu ponho esses litros aqui (mostrando as garrafas pet) num carrinho de mão que eu fiz com uma geladeira velha, onde improvisei as rodas, e vou lá buscar água. Eu trago água que dá pra uns dois dias e aí a gente lava roupa, faz comida, bebe".

Pedro está desempregado há algum tempo. "A gente vai vivendo conforme Deus é servido", diz com resignação, informando que trabalhou muitos anos em fazenda. "Desde 2004 estou desempregado. No ano passado fui para a colheita de café e agora estou esperando para ir de novo", conta, informando que fez seleção para Serviços Gerais na Prefeitura, mas não foi bem classificado. "Passei, mas fiquei muito atrás e não fui chamado ainda, mas quando o Joaquim era candidato ele passou aqui e falou que ia me ajudar e me dar um emprego. Eu estou esperando...", explica Pedro, contando uma grande vitória que conseguiu. "Eu estudei no projeto Luz, aprendi a ler e escrever, no curso da noite, recebi o diploma".

Pedro é natural de Sacramento. "Sou nascido e criado aqui em Sacramento", diz, fazendo um apelo: "Se eles pudessem me dar uma ajuda, pra ligar a água. Eu tenho um pedaço de terreno que dei para o meu filho pra fazer uns dois cômodos pra eles. Se eles puderem me ajudar a recuperar a água, porque daqui a uns dias começo a ´panha´ de café. Aí as coisas melhoram. Se eu tivesse serviço não tava acontecendo isso".

Lídia Mara conta a sua história

Lídia Mara é natural de Pedregulho (SP), teve o primeiro filho aos 14 anos. Aos sete anos, o filho estuda na Escola Estadual Sinhana Borges e fica na Escolinha ´Tia Nina´. O filho menor, de um ano e sete meses, fica em casa. O casal morava na fazenda, mas atualmente estão separados. "Ele me deixou sozinha lá com as crianças, aí procurei o meu sogro, que me socorreu", conta.
Lídia explica que procurou a Secretaria de Assistência Social para conseguir ajuda, mas não conseguiu. "Eu pedi um caminhão pra buscar as coisas que estavam na fazenda, porque o patrão pediu pra tirar, mas eles não arrumaram. Fui na Prefeitura falar com o prefeito, mas não o encontrei", conta, admitindo que recebeu da Assistência Social uma cesta básica durante esse tempo e um passe pra ir a Pedregulho ver se a família podia ajudá-la. Não pôde. “Eu voltei lá na Assistência Social, mas eles disserem que o que podiam me ajudar, já ajudaram, só que não temos nada aqui, só o leite que a gente pega no Posto pro menino", explica. Lídia não está cadastrada no Bolsa Família. "A gente não tem dinheiro nem pra comer, vai ter pra tirar xérox?", pergunta.

Lídia, embora não tenha nascido em Sacramento, é eleitora no município e está desesperada e preocupada com o bebê que chegará daqui a cinco meses. Ao sairmos, ouvimos o apelo: "Vê se vocês arrumam uma ajuda pra mim, a gente tá precisando muito. Eu ia pra ´panha´ de café, mas não posso", pede.

Ninguém é tão pobre que não possa ajudar ao outro

Fazendo valer a máxima de que "ninguém é tão pobre que não possa ajudar o próximo", quem foi até à redação deste jornal para denunciar as condições em que Lídia Mara está vivendo, foi a vizinha e amiga, Sandra Ventura Dantas, que vive em condições quase idênticas: mora em dois cômodos, muito bem cuidados, cedidos pela sogra, com o marido e cinco filhos. "A Lídia está grávida, como é que vai ser?"

Sandra, que pedia mais para a amiga que para si mesma, conta a sua vida. "A gente morava em fazenda e veio pra cidade. A minha sogra cedeu dois cômodos pra nós, mas temos cinco filhos . Na época da eleição, o prefeito passou aqui em casa, disse que ia me dar um terreno e me ajudar a fazer uma casinha". O marido de Sandra trabalha em fazendas e ela vai para a colheita de café nos próximos dias. Os três filhos mais velhos estudam, um na sexta série, o outro na quinta e um na pré-escola. Os dois mais novos ficam em casa.

Lídia recebeu ajuda de professores e alunos da EE Cel. José Afonso de Almeida.

Preto é cor, Negro é raça

Durante a nossa visita à casa de Lídia Mara, no bairro São Geraldo, alguns moradores, homens e mulheres, nos procuraram exibindo uma mensagem do Dia das Mães, assinada pelo prefeito Joaquim Rosa Pinheiro, e protestando contra a expressão "mãe preta", em um dos versos do texto. Uma das reclamantes, porta-voz dos demais, que pede para não ser identificada, foi logo justificando: "Depois, eles mandam me prender", e acrescentou: "Eu sou negra, preto é cor. O meu cachorro é preto, vão lá fotografar. A minha calça é preta. Eu sou negra. Aqui no São Geraldo a maioria é negra", reclama, endossada pelos demais.

Segundo os moradores, a mensagem foi entregue de casa em casa, por ocasião do Dia das Mães. Reclamam também das promessas de campanha do prefeito Joaquim: "O prefeito veio aqui na época das eleições, depois ele sumiu. Só manda trazer papel. Ele prometeu muita coisa e até agora não cumpriu nada. A gente não é bobo e se a gente não falar, quem vai falar pra nós? A gente já tá descrente e agora vem chamando a gente de 'mãe preta'. Eu sou negra. Tira a foto do meu cachorro, pra todo mundo ver que ele é preto, minha calça é preta", repetiu, acrescentando: "Eu estou falando em nome do bairro, porque aqui a maioria é negro, aqui não tem ninguém preto. A gente ficou ofendido. Como é que fica, se a lei diz que se alguém me chamar de preta, de pretona eu posso processar, agora chega o prefeito e diz que a gente é preta? Sou negra, sou negra", finalizou.