O casal Marcel Martins Ferro e Mônica Santos vive mais que uma vida a dois, some-se ao seu dia-a-dia, a paixão por livros. E foi dessa paixão que nasceu a Livraria Brás Cubas (foto). Marcel, natural de São Carlos (SP), abandonou o curso de Direito, onde adquiriu uma vastíssima bagagem bibliográfica na área jurídica. Mônica, advogada, sempre viveu rodeada de livros. Dava um pulinho a Uberaba só para comprá-los. E graças a esse gosto é que a Livraria Brás Cubas completou um ano no dia 14 de abril, ultrapassando o sucesso esperado pelos sócios. Aliás, o local já ficou pequeno para abrigar tamanho acervo.
O começo...
Na verdade, o gosto por livros, Marcel adquiriu-o ainda na adolescência, ao lado da mãe. "Durante muito tempo fui inimigo de livros. E o meu primeiro contato com livros e que comecei a gostar, foi com minha mãe, que era sócia do Círculo do Livro. Ela comprava muitos livros e passei a gostar de lê-los. Mas, quem me trouxe mais mesmo para o mundo do livro foi a Mônica, que tem uma bagagem cultural sobre livros muito extensa. Isso aconteceu há sete anos, quando a conheci e foi ela que me incentivou, inclusive a partir para a venda de livros", conta.
O vendedor de livros...
Do amor pela Mônica nasceu o amor pelos livros, o que quase dá um livro. "Não quero chegar a tanto, mas conheci a Mônica aqui em Sacramento, ela fazia Direito, eu trabalhava numa empresa e ela me pegou pelo livro. Entrei na área de livros por ela. Foi ela foi me incentivou a trabalhar nessa área". Conta Mônica que ao incentivá-lo, Marcel respondia que não sabia nada de livros jurídicos. "Eu lhe disse que não precisava saber, bastava parecer que sabia. Ele aceitou o desafio e deu certo. A partir do momento que ele começou a vender, o gosto foi aflorando, e se aprimorando através do contato com pessoas da área jurídica", conta Mônica, afirmando que nunca comprou livros de Marcel. "Eu ganhava os livros dele e muitos", revelou com uma gargalhada.
A idéia da livraria...
Nasceu da vontade dos dois. "Queríamos iniciar um negócio. Eu já trabalhava com livros nas ruas. Mas ficávamos analisando o que faltava em Sacramento, o que poderíamos trazer de novo e foi através de uma pesquisa na Internet, que descobrimos que, para cada 20 mil habitantes existe uma livraria no Brasil e Sacramento nunca teve e não tinha nenhuma. Sacramento tem papelaria, que traz livros por encomendas, mas livraria com livros à mão, nunca teve. Foi o que bastou para começar".
O investimento...
Antes de abrir a livraria, bem que os ´conselheiros´ tentaram demovê-los da idéia. "Ih, em Sacramento o povo não lê", foi o que ouvi de muitas pessoas", conta Mônica, que ficava sem entender, pois afinal, "eu leio desde sempre. Mas passei a analisar que se não tem livros pra comprar as pessoas não vão ler. E enfrentamos. E hoje percebemos que não é assim. Não vamos ficar milionários com livraria, mas é um projeto a longo prazo", explica. O casal tem idéias para o futuro para expandir a leitura para as pessoas "a receptividade que tivemos foi maravilhosa. Descobrimos que mais pessoas do que imaginamos lêem, na cidade, mais isso é menos do que gostaríamos e do que é necessário. Atingir a meta é um projeto a longo prazo".
Como funciona uma livraria
Editoras, são centenas, incluídas aqui as internacionais. Livros, digamos que seja infinito. E aí vem a pergunta como funciona uma livraria? "Na Brás Cubas trabalhamos com mias de 600 editoras nacionais e 400 internacionais. Temos acesso a elas para fornecer os livros aos clientes. Esse trabalho fazemos nas ruas também. Não ficamos esperando o cliente entrar aqui pra comprar o livro. Visitamos as faculdades, prefeituras, escolas e profissionais das áreas específicas como juízes, promotores, advogados, estudantes. Abrimos o leque de acesso à leitura. Assim, atendemos desde o profissional qualificado até o curioso, que não sabe o que quer e que entra aqui sempre acaba comprando alguma coisa".
O futuro...
O espaço da Brás Cubas ficou pequeno e há projetos futuros. "Precisamos aumentar o espaço e temos idéias para o futuro como sala de leitura, mesa de discussão, jogos pedagógicos e demais materiais didáticos. Temos um projeto de ampliar o espaço. Afinal, livraria não pode ser a casa que vende livros. Tem que se um lugar onde o leitor degusta o livro, como saboreia um doce. Não é o leitor que escolhe o livro, é o livro que escolhe o leitor. Por isso, o livro tem que estar à disposição do leitor, esse contato é importante, a pessoa precisa ter a possibilidade de pegar o livro, folhear, tendo um contato com o material, receber as informações. Há pessoas às vezes vem aqui querem um livro, mas não sabem o que querem, cabe a nós ajudá-lo. Tem gente que sabe nem do que gosta e temos sorte, porque a pessoa leva o material e volta feliz, dizendo que gostou do livro e comprar outro, por exemplo. A gente, como vendedor, tem que ser o psicólogo do livro".
O comércio de livros usados, ´sebo´ é outro projeto futuro da dupla Marcel e Mônica "logo que ampliarmos o espaço vamos ter o sebo, só que vou começar com os meus livros e olha que são muitos livros, livros, livros. E a vantagem é que o livro usado sai muito em conta", explica Mônica.
O que as pessoas compram...
"O gosto dos leitores é bastante diversificado. O infanto-juvenil é um tipo de livros que a gente vende bem. Temos leitores fieis nessa faixa etária. Por exemplo, Harry Potter não precisa de propaganda. Os universitários, normalmente, compram os livros que eles usam na faculdade. Muitos leitores têm a referencia em jornais, indicação de amigos e muitos outros leitores têm gosto diversificado, vendemos os mais diversos tipos", explicam Marcel e Mônica, fazendo uma declaração surpreendente: "Quem lê mais são os homens ou pelo menos são os que compram mais livros". Outra novidade é que os livros de auto- ajuda não são os mais vendidos. Como toda livraria que se preza, na Brás Cubas não faltam revistas "a revista é um chamariz, a pessoa vem comprar uma revista e descobre um livro".
Livros a vista e a prazo...
Livros também se compra a prazo. "Alguns livros são vendidos a prestações, dependendo do livros, principalmente livros estudantis são vendidos a prazo.. Quando é para presente é condicional, quer dizer, sujeitos a troca. Temos o vale livro em vários valores, mas é sempre interessante a pessoa dar o livro, porque às vezes a pessoa que ganha vai ter a oportunidade de ler um livro que ela nunca compraria e pode se interessar pelo autor ou por outros livros". E há os descontos que são convidativos, tanto para livros estudantis, quanto best sellers. E ambos terminam a entrevista dizendo a frase mais importante da livraria é, "Quem lê nunca está só".
A vida a dois...
Entre um romance e outro vendido tem um que pertence só ao casal. Por sinal, um belo casal, Mônica e Marcel estão juntos há cinco anos. Filhos, não estão nos planos ainda. "Querer filhos a gente quer, mas não agora, estamos construindo um outro filho agora, que é a livraria e por enquanto, temos nove cachorros", diz Mônica, filha do saudoso político Azis Antonio dos Santos e Diolinda.
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