Jaidete Carneiro Santana tem tudo a ver com Gen Rosso, ambos são seguidores de Chiara Lubich. E, coincidência ou não, justo quando a banda retorna ao Brasil após 21 anos, Jaidete retorna a Sacramento, após 22 anos e não vem à toa. A visita de Jai, como é conhecida carinhosamente pelos mariapolitas da cidade, é para reencontrar os amigos do Movimento dos Focolares. "Reencontrar todos e quem sabe reacender uma chaminha que ainda tremula, porque uma vez focolare, sempre focolare. Conheci todos eles nas Mariápolis em vários locais do país e nasceu esse vínculo", diz, referindo-se a Sônia Zandonaide, Delfina Cândida de Oliveira, Walmor Júlio Silva... "Conhecemo-nos e passamos a ter contato, Soninha residiu algum tempo em Belo Horizonte, mais próximo da gente e a amizade foi aprofundando", reconheceu.
A realidade dos Focolares e mariapolistas
O Movimento 'Focolari', que significa 'fogo no lar', começou em 1944, em Trento (IT), com a italiana, Chiara Lubich, 86, uma jovem, de então 23 anos, que vira desmoronar todos os ideais com a Segunda Guerra Mundial. Juntamente com algumas companheiras, começou a sua experiência, numa vivência profunda dos evangelhos, escolhendo Deus-Amor como único ideal de sua vida. "Tudo passa em nossa vida, menos essa realidade de Deus, do Amor", recordou Jaidete, contando a história do movimento.
Esta foi a origem de um vasto movimento de renovação espiritual e social, de dimensão mundial. Nascido e aprovado na Igreja Católica, presente, atualmente, em 182 países com mais de 120.000 membros internos e mais de 2 milhões de aderentes e simpatizantes. Aberto a todos, o Movimento reúne, pelo seu ideal de unidade, de fraternidade universal, além dos católicos, cristãos de várias denominações, fiéis das grandes religiões e pessoas que não professam uma fé religiosa. Todos participam, segundo a própria consciência e fé religiosa, de modos diferentes do movimento e da sua espiritualidade.
Logo após o nascimento do Movimento dos Focolares surgiu a jornada de Mariápolis, a cidade de Maria, que era na época um lugar onde as pessoas se reuniam, se queriam bem, seguiam a caridade, como um plano de Nossa Senhora que quer reviver entre o seu povo. A partir daí o movimento se espalhou por todo o mundo, atingindo o apogeu até início da década de 80. O esfriamento do Movimento, Jaidete atribui à pós modernidade. "O movimento cresceu, mas ao longo desses 62 anos, multiplicaram-se os movimentos religiosos no mundo. Em alguns lugares são escassos, mas noutros, são muito fortes. E até há alguns anos, os meios de comunicação não faziam tanto mal à juventude, que tinha um ideal de vida. Hoje banalizou-se tudo, tudo é permitido, tiraram do jovem a garra, o desejo de fazer algo que o levasse a um fim. Hoje, os relacionamentos são muito difíceis", afirma Jaidete.
Hoje, o Movimento dos Focolares e a Mariápolis não são movimentos decadentes, mas apurados. "O que existe hoje são elementos que entendem e que vivem a espiritualidade. Naqueles anos ´dourados´, digamos, era como um lançar de redes. Vinha todo mundo, com vocação, sem vocação, entrava, e saia. Tinha-se quantidade. Hoje há qualidade, porque aqueles que se prenderam à rede são os que vivem a proposta do movimento"l, analisa.
A possibilidade de reacender o movimento em Sacramento
Para Jaidete, é possível reacender o movimento em Sacramento. "As reuniões são itinerantes e as fazemos onde exista um grupo de pessoas que nos chamam, que já conhecem o movimento, que se reúnam e vivam a espiritualidade. E temos várias pessoas aqui. É só reativar o pessoal, para participar de jornadas e, quem sabe possamos fazer uma jornada aqui. Além dos pioneiros, temos elementos novos, como a Bebel e a Stefania", afirma, adiantando que estava previsto para esse ano, três Mariápolis, inclusive, uma no Triângulo Mineiro, mas com a vinda da banda Gen Rosso, serão realizadas apenas duas, uma em BH, no mês de julho e outra no sul de Minas.
O voltar a Sacramento
"Voltar a Sacramento é uma alegria, ainda quando encontramos pessoas tão bem dispostas e abertas para o movimento. Tenho um dom natural de amar as pessoas com o coração. E veja que são 22 anos sem voltar aqui, mas nunca me esqueci dessas pessoas, elas estão vivas em mim e olha que nesse período, morei na Itália, São Paulo, voltei pra Minas, voltei pra São Paulo e ao chegar aqui foi como reacender amizade, o amor, o conhecimento e o relacionamento com as pessoas", disse.
Ao terminar sua entrevista, Jaidete disse que veio reascender o movimento, por 'foco lari', fogo na lareira. "Vim colocar lenha na fogueira e levar o pessoal para o show do Gen Rosso em Belo Horizonte no mês de maio, será um bom recomeço. Tudo na vida a gente tem que motivar, participar, incentivar, renovar, porque tem espaço, basta não desacreditar e não perder as esperanças", concluiu.