Como nós recebemos de Portugal o ramo que veio plantar em Sacramento a Congregação de São José de Cluny, quero buscar as palavras que, em 1916, antes da aparição de Nossa Senhora de Fátima, no dia 13 de Maio, foram proferidas. E, fazendo-as minhas, com muita honra e, dignamente, posso ousar falar: “O anjo paira no ar a hóstia consagrada e o cálice. Por uma força, os três meninos, Francisco, Jacinta e Lúcia se dobram e o anjo diz: 'Aprendei esta oração: Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos adoro profundamente e vos ofereço o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presentes em todos os sacrários da terra, em reparação aos ultrajes com que Vós sois ofendido. Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos”.
Meu bom povo de Sacramento, estou muito ligado às irmãs de São José de Cluny, desde que aqui chegaram, no dia 2 de janeiro de 1963. Pela insistência de minha saudosa mãe, Carmelita Bernardes Borges, que era uma das zeladoras da Santa Casa, Irmã Benigna e Madre Antônia se hospedaram em nossa casa.
Embora minha mãe, sempre insistindo pela permanência da congregação em Sacramento, Madre Antônia não queria ficar, por considerar uma 'terra distante'. Até que irmã Benigna, olhando para a imagem de nossa padroeira no alto da Igreja Matriz, teve a inspiração de dizer estas palavras: 'Madre, Nosso Senhor esteve em todos os lugares...' E Madre Antônia aceitou. Para nós uma grande alegria, para Sacramento uma bênção.
Assim, a cidade se uniu pela sua permanência. As irmãs mesmas iniciaram a construção da pequena clausura em um terreno cedido pela Santa Casa com seus parcos recursos, que logo foram consumidos. O empresário Ferrúcio Bonatti assumiu o compromisso e concluiu a obra. Já a Capela de Na. Sra. de Fátima e a sacristia foram erguidas pelo meu pai, Alberto Marquez Borges. E assim, as Irmãs de Cluny passaram a ter abrigo e um local de oração.
Em troca, aquelas primeiras irmãzinhas que chegaram, Madre Antônia, Ir. Benigna, Ir. Mafalda e Ir. Tereza exerceram o seu apostolado, não apenas como administradoras e enfermeiras profissionais, zelando pela limpeza, pela assepsia, pelo respeito, diálogo e responsabilidade entre médicos, enfermeiras e funcionários, mas também como religiosas, impondo um ritmo de trabalho voltado para a caridade e revolucionando aquele nosocômio, transformando-o, na verdade, de uma Santa Casa em uma Casa Santa.
Os anos se passaram. Muita coisa boa aconteceu. Irmãs que vinham para Sacramento Irmãs que partiam para outras obras. Concomitante ao trabalho na Santa Casa, lideradas por Irmã Benigna e o apoio de abnegadas pessoas da comunidade, em especial, o Sr. Ítalo Cerchi, criaram a Obra Social João XXIII, no antigo Atrás do Morro, onde construíram dez casas populares para famílias sem teto e a Capela de São Miguel, obras acompanhadas pelo seu trabalho catequético e missionário, do qual com muita honra também participei, professor de catequese.
E não bastou. Nas pegadas de sua madre fundadora, Ana Maria Javouhey, levando adiante o seu lema, “Quero estar em toda parte onde há o bem a fazer”, assumiram a direção administrativa da Creche São Vicente de Paulo, hoje, Casa Infanto Juvenil São Vicente de Paulo, dando novo estímulo e cuidado à entidade. Uma obra assistencial que cuida hoje de quase 100 crianças de zero a seis anos.
Os anos se passaram. Muitas outras coisas boas aconteceram. Irmãs que vinham para Sacramento Irmãs que partiam para outras obras. Até que outras Irmãs não chegaram e as últimas, Ir. Edna, a superiora da casa, e Ir. Idalina, a última portuguesinha, estão também partindo em definitivo... Quem sabe, não! As portas desta cidade estarão sempre escancaradas para a Congregação.
Nessa tristeza que move nosso coração nesses momentos de partida, buscamos as palavras de São Paulo a Timóteo, na segunda carta: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. O que nos serve de consolo para entender que a vida é mesmo assim.
Nessa tristeza que move nosso coração nesses momentos de partida, buscamos as palavras de São Paulo a Timóteo, na segunda carta: “Combati o bom combate, terminei minha corrida, guardei a fé”. O que nos serve de consolo para entender que a vida é mesmo assim.
Humanamente, o 'bom combate, a corrida e a fé' são rastros deixados pelas Irmãs de Cluny nessas terras do Santíssimo Sacramento, para sempre. Eternamente, podemos também dizer que estamos sempre partindo, como duas inesquecíveis irmãs aqui sepultadas, Ir. Maria Luísa de Cristo e Ir. Tereza da Purificação Vaz. O mais importante, no entanto, é que nossa esperança e nossa fé nos fazem crer que estaremos todos unidos na casa do Pai.
Desde o início de sua chegada a Sacramento, as Irmãs de São José de Cluny deram exemplo de um legado, hoje revitalizado pelo nosso Papa Francisco, ao pregar uma 'Igreja em Saída'. Como Cristo pediu aos apóstolos, “Ide e Ensinai!”, nosso Papa nos pede: “Desçam dos altares e vão levar a doutrina adiante, levem a palavra de vida eterna ao mundo...” E isso as irmãs estão fazendo muito bem, quando estão presentes em 57 países ao redor do mudo. Nisso consiste nossa primeira caridade: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
Minha gente, agradeço a Deus por ter podido conhecer e conviver com as Irmãs de Cluny, pelo que aprendi com elas ao logo desses 56 anos, por tudo que proporcionaram ao nosso povo, seja na Santa Casa, nas obras sociais do João XXIII, na catequese, na Ciju e como mestras nas escolas.
À Irmã Benigna, um agradecimento especial e particular, pelo convite a mim feito para saudar a Reverendíssima Superiora Geral da Congregação, Madre René Vandamme, em sua visita a Sacramento. Por ter criado em meu governo, a linda Bandeira de Sacramento e por nos deixar o Hino da Padroeira.
Enfim, agradeço a Deus pela presença viva que elas firmaram entre nós. Por isso e por tudo o que a Congregação representa para a nossa cidade, quero entregar-lhes uma imagem de São Miguel, como a que Ir. Benigna colocou na capela do bairro João XXIII, quando a construiu, deixando ali a sua marca. Parabenizo Pe. Ricardo por condecorar, merecidamente, a Congregação com a Comenda Cônego Hermógenes.
Irmãs, muito obrigado! Estou muito feliz e tenho certeza de que vocês serão muito felizes, porque só trabalharam para a glória de Deus.
José Alberto Bernardes Borges