Em 2014, com a elevação da Matriz de Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento à Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria, criou-se a 'Comenda Cônego Hermógenes', para homenagear pessoas benfeitoras que, de alguma forma contribuíram ou contribuem na manutenção, apoio, divulgação e em serviços relevantes na paróquia e/ou arquidiocese. A indicação das pessoas a serem homenageadas é feita pelo pároco, que este ano, meritoriamente, escolheu o casal Aristonides Amâncio de Melo e sua mulher Maria Lina, José Alberto Bernardes Borges, Marlene de Souza Félix e Walmor Júlio Silva. A Comenda Cônego Hermógenes é fundida em metal nas cores da bandeira de Sacramento, azul, branco e vermelho, trazendo na parte frontal uma efígie do Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick; no verso, traz o ostensório com o Santíssimo Sacramento circundado com o dístico, “Tantu Ergo Sacramentnum veneremur cernui”. Cônego Hermógenes foi pároco da Matriz de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque durante 47 anos, até sua morte em 1861. Homem culto, foi professor, advogado provisionado, político e latifundiário. Homem de grande visão, foi um típico sacerdote dos sertões mineiros, sendo um dos pioneiros desbravadores do Sertão da Farinha Podre.
Os homenageados com a Comenda Cônego Hermógenes
Aristonides Amâncio de Melo e Maria Lina
Ambos nascidos e criados na roça, ele do Soberto, ela das Sete Voltas e na cidade se encontraram para juntos constituírem uma família de oito filhos, Alexandre, Aloísio, Cristina (falecida), Ângelo, André, Angélica, Andréa e Aline. Os muitos filhos vieram da tradição dos pais. Amâncio e Helena, tiveram 13; e Godó e Luzia, pais de Maria Lina, cinco.
A vida religiosa para ambos tinha um sentido muito profundo. Na fé se encontraram, na Eucaristia se uniram e nos movimentos ligados à Paróquia de Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento foram crescendo na fé e na criação dos filhos, recordam citando algumas lembranças. “Fui Congregado Mariano com Ariosto, Rominho, Hildeberto e tantos outros... depois, mais tarde, me tornei Irmão do Santíssimo”, diz Aristonides, com seu indefectível chapéu de abas curtas.
Maria Lina emenda, lembrando que ainda criança, seu pai buscava Pe. Ivo no Desemboque para celebrar a missa no povoado em sua própria casa. “Foi ele que nos ensinou a rezar, éramos todos crianças...”. Já, mocinha e morando na cidade, Maria Lina fez parte das Filhas de Maria, quando solteira e, casada, ingressou na Associação de São José, cuja fita ostenta até hoje. Ambos cursilhistas, membros da Pastoral Familiar e do movimento Encontro de Casais com Cristo, desde então são protagonistas nas festas religiosas da paróquia. “Chegamos a assar 1.500 frangos por festa...”, diz Aristonides, com Maria Lina completando: “E a limpeza dos frangos ficava por conta de um grupo de voluntárias que se reunia em minha casa, por isso compartilho com todas elas essa comenda”.
José Alberto
O ex-vereador (1963/66) e ex-prefeito (1971/72; 1977/82; 1989/92) José Alberto Bernardes Borges, ao lado dos pais, Alberto Marquez Borges e Carmelita Bernardes Borges, nasceu em uma família que durante toda a vida manifestou uma ligação sempre muito estreita com a igreja católica, não apenas pela filantropia e voluntariado dos pais, na ajuda à Santa Casa e às irmãs de São José de Cluny, cuja clausura e capela ajudaram a construir, mas também pela tia, Flávia Bernardes, irmã dominicana.
Estudante nos colégios Arquidiocesano e Beneditino de São Paulo, logo que retornou da capital, onde fez o curso Clássico, José Alberto ministrou com Imã Benigna, por vários anos, um curso de formação de catequistas. Um dos fundadores da ODUS (Organização dos Universitários Sacramentanos) formou-se advogado e professor de Português/Letras. E logo se elegeu vereador e, em seguida, ocupou a cadeira do executivo municipal por três mandatos, tendo construído grandes obras que marcaram e marcam a cidade, revelando-se um dos maiores prefeitos na história de Sacramento.
E foi como prefeito, na sua segunda gestão, em 12/10/1980, que proclamou Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, padroeira da cidade, e, como patronos, São Miguel Arcanjo e São Sebastião. A primeira festa foi realizada em 31 de maio de 1981, quando Nossa Senhora foi coroada pela primeira vez, por ele, então chefe do Executivo.
Outro grande marco de sua gestão, foi a construção, ao lado da Igreja Matriz, do Monumento à Padroeira e ao fundador da cidade, Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, para onde o prefeito trasladou seus restos mortais.
Marlene Félix
Lembra bem de sua infância, que não foi muito de brincadeiras e diversão. Tinha oito anos quando chegou à cidade, vinda da fazenda Borá, onde nasceu filha de Leosina Maria de Souza e Altamiro Gonçalves de Souza, para trabalhar como doméstica.
A primogênita de sete filhos aprendeu cedo as lides domésticas e a arte da cozinha. Concluiu apenas a escola primária e ainda adolescente, aos 17 anos, casou-se com Joaquim Félix, com quem teve quatro filhos, Célio, Antônio, em honra ao santo devoto, Gil, em homenagem a Pe. Gil e Maria Emília.
Católica, praticante, ao lado do esposo, engajou-se na vida paroquial, a partir da pastoral da Família e do movimento Cursilho da Cristandade, além de um trabalho atuante, na Pastoral Vocacional. Lembra Marlene, que o sacramentano, Pe. Eugênio Bizinoto, foi um de seus afilhados que chegaram ao sacerdócio.
Os seus dons culinários a levaram a coordenar o trabalho da cozinha das duas principais festas da cidade, de São Sebastião (20/1) e de Na. Sra. da Abadia (15/1) e, hoje a Festa da Padroeira, Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento.
“Desde então, me presto com dedicação e amor a esse trabalho e a outras atividades da vida paroquial, como creches e Lar S. Vicente”, relembra, informando que é dos tempos em que fritava os frangos nos tachos de banha com Da. Mindinha, antes das assadeiras elétricas. E lá se vão 52 anos de trabalho voluntário nas festas das igrejas e entidades da cidade.
Ao receber a homenagem se sentiu emocionada e honrada. “Chorei diante do Santíssimo, porque me senti abençoada. Tudo que faço é cumprindo meu dever de cristã, sabendo que estou fazendo esse trabalho para Deus”.
Walmor Júlio
O professor e jornalista Walmor Júlio Silva trouxe do berço sua religiosidade. Filho do sapateiro Ivanir Júlio Silva (Ledo) e da dona de casa, Esperança Gobbo Silva, teve sua juventude marcada pela militância estudantil, a partir da União Estudantil Sacramentana e na sua vida universitária, em Uberaba, onde se formou em Pedagogia, Português e Jornalismo. Atuou nas comunidades eclesiais de base, movimento católico, de estudo do evangelho nas periferias. Retornando a Sacramento fundou o jornal O Estado do Triângulo, em 1968, e teve com o missionário redentorista, Pe. Gil Barreto Ribeiro e Ir. Maria Benigna de Jesus Martins, uma forte presença junto à juventude católica sacramentana, através da JUS (Juventude Unida Sacramentana) criada pelo então vigário, Pe. Gil.
Sua marca na igreja foi registrada pela atuação contínua nos encontros de jovens, TLC (Treinamento de Liderança Cristã) e junto ao Movimento Focolare, que o levou a Loppiano, na Itália, cidade sede do movimento. Sua participação teve também importância na catequese junto às criança do bairro Atrás do Morro, hoje João XXIII; nas aulas de Teatro e encenações com os seminaristas do Seminário do Santíssimo redentor por 25 anos; nas montagens dos autos natalinos e da Semana Santa e nas coroações na Festa da Padroeira da cidade, enquanto professor da Escola Coronel.
Mas o grande registro deixado pelo jornalista está no acervo do jornal O Estado do Triângulo, na história escrita dos fatos e eventos vividos pelas seitas professadas na cidade nos últimos 50 anos, em especial da Igreja Católica, pelo volume de comemorações religiosas e festivas.
Casado com a professora Maria Luísa Silva Melo, o casal tem duas filhas, Petra Maria e Anya Maria.