Um convite irrecusável - participar do "Mondial du Fromage" (Concurso Mundial de Queijos), em Tours, na França - e um problema para resolver - a falta de legislação e autorização das autoridades brasileiras para os participantes embarcarem em um avião com 60 queijos produzidos artesanalmente na Serra da Canastra.
Os produtores da Canastra não só conseguiram embarcar com os queijos, como voltaram com três medalhas superouro, a maior da premiação. A solução encontrada foi acomodar os produtos em quatro malas e contar com a prerrogativa de ter em mãos uma carta-convite da organização do festival.
De acordo com o presidente da Associação de Produtores de Queijo Canastra, João Carlos Leite, o Joãozinho da Canastra, apesar da falta de legislação do governo brasileiro, a viagem foi toda planejada e embarcaram sem problemas uma produtora, dois gerentes da associação e um advogado.
“No aeroporto de Viracopos, em Campinas, as malas chegaram a ser vistoriadas pela Polícia Federal e a produtora Maria Lucilha chegou a temer que os agentes jogassem o queijo fora. Ao passar no raio-x, é claro que eles iriam olhar. Mas não era droga, não era bomba: era queijo", brinca o presidente da associação.
Segundo Joãozinho, essa não era uma questão da Polícia Federal. "A inspeção sanitária brasileira também não olha essa questão de estar saindo produto alimentício. Quem tem que olhar é lá na Europa. A União Europeia proíbe que passageiros carreguem derivados de leite na mala. Mas, na chegada na França, o produto passou pela alfândega, não houve inspeção e os mineiros desembarcaram sem maiores problemas”, explica.
A associação se resguardou enviando à organização a relação dos queijos, o nome dos produtores e quem iria transportá-los. "Os queijos estavam indo para um concurso mundial, não estavam para a venda. Se a França autorizou um concurso mundial, então tem que autorizar a entrada dos queijos", justifica.
Ainda para o presidente, além da falta de legislação, outro empecilho foi a falta de patrocínio para a viagem. "Não tivemos nenhum apoio financeiro, então os produtores da Canastra quantizaram e se organizaram para pagar de acordo com a quantidade de queijo que queriam mandar", conta.
A associação espera agora que o presidente Bolsonaro assine o decreto de regulamentação do Selo Arte, que visa dar ao consumidor segurança de que o processo de produção seja realizado respeitando características e métodos tradicionais ou regionais próprios, e atendendo à medidas de segurança sanitária.
"Depois disso, vamos ter de unir forças para, junto ao Ministério da Agricultura, reivindicar que o País aprove uma instrução normativa regulamentando a produção de queijo de leite cru no Brasil", finaliza Joãozinho, feliz com o resultado: três queijos da região da Canastra receberam a maior premiação, a medalha Superouro, além de 21 outras medalhas de ouro, prata e bronze.