Não é a primeira vez que a Profa. Dra. Maria Lucília Borges é destaque nas páginas do ET. Esse rosto bonito e jovial esconde em muito sua verdadeira idade. Bebeu da fonte da juventude e da sabedoria no seu campo de trabalho ligado à música. Pianista desde os tempos em que Luciene Skaff e Malba Cunha Tormin deram-lhe as primeiras aulas, lá se vão alguns bons anos...
Tempo suficiente para cursar Design Gráfico na Unesp; mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica, concluídos depois de seis anos de estudos na PUC/SP, em 2008, dos quais, em 2007, passou na Universidade Católica Portuguesa, no Porto (ah, que bonsvinhos!! Suspirou Lucília ao lembrar), quando defendeu a tese, incompreensível para nós pobres mortais, “Design Desejante: a dobra como espaço e(ntr)e”. É isso mesmo, não erramos na transcrição.
Já com uma ideia preconcebida, Lucília tentou uma bolsa para desenvolver um projeto que lhe martelava a cabecinha desde 2006, com outro sugestivo nome, “Aparelho Esquizofônico” (Schizomachine, em inglês), sobre “Interface Vestível”, mas não conseguiu verba - adivinhem! - porque era muito complexo e não tinha colaboração técnica, o que significa, alguém no mundo para dar suporte técnico ao projeto, que nos traduziu assim:
“Essa interface vestível ou 'wearable interface', que chamei de Schizomachine, é um projeto desenhado para entender como o corpo humano se sente quando está experienciando arte”.
Traduzindo, as sensações sentidas por uma pessoa que está à frente de alguma tela, ou de algum raro objeto num museu; ou dentro de um teatro ouvindo a 9ª Sinfonia de Beethoven pela Filarmônica de Berlim. Algo assim. Quer dizer, não apenas o coração dispara, mas até o dedão do pé... E que “som” tem o dedão do pé, vivenciando uma emoção como essa? É isso que Lucília quer demonstrar! É um trabalho fantástico!!
Em outras palavras, na prática e na tecnologia moderna, diz a autora que “wearable interface tem como exemplos um relógio que monitora nossos batimentos cardíacos”. Entendemos também como esses “sutiãs” que atletas de futebol utilizam por baixo do uniforme para medir seus batimentos, seu fluxo sanguíneo, tudo através da vibração que os respectivos órgãos emitem. Agora, transformem isso em música.
Diz Lucília, que também na arte o corpo emite essas batidas, não como uma taquicardia, mas como, por exemplo, uma valsa de Straus. Ela dá exemplos de um vestido desenhado com franjas que ficam eriçadas conforme o movimento do olhar de quem olha para o vestido (o vestido, no caso, é a obra). A artista usou uma tecnologia de “eye tracking”, que detecta o movimento dos olhos e faz com que as franjas se movimentem também.
“Nosso corpo é um corpo sonoro e esse tipo de interface é como um computador vestível”, explica, confirmando seu experimento, que foi .... (ops, nessa área, não podemos revelar mais nada...).
Mas é possível captar esses sinais tão sutis de nosso corpo, expressos diante de emoções? “Sim”, responde Lucília com seu belo sorriso, “quando nosso corpo está agitado, quando está com raiva, ele responde com o tremor de mão”, que, para a pesquisadora, emite um som...
Aprovada em 2012 em concurso federal para lecionar na Universidade Federal de Ouro Preto, Lucília é dona da cadeira de Arte, no curso de Jornalismo, lecionando várias disciplinas, como Arte Sonora, Estética e Comunicação, Planejamento Visual. E foi a partir dessas disciplinas que passou a fazer interessantes experimentações empíricas dentro de seu projeto sobre Interface Vestível como, por exemplo, passou a perceber nas aulas, como a música afetava os alunos, emocionalmente. Ou como os alunos produziam uma obra de arte a partir da tradução audível de uma música.
A ideia nasceu em 2006, mas só onze anos depois, já na UFOP, conseguiu uma licença para desenvolver sua Interface Vestível “Schizomachine”. Após quatro meses na Inglaterra, foi para o Canadá, em fevereiro de 2018, com a finalidade de garantir o desenvolvimento da pesquisa, na McGill University, em Montreal, e de proteger a sua propriedade intelectual. Na McGill contou com a colaboração do Prof. Dr. Marcelo Wanderley.
De férias na casa dos pais, Lucília está de malas prontas para embarcar novamente para o Canadá, para finalizar a pesquisa e demonstrar que nosso corpo é, na verdade, uma grande orquestra sinfônica com seus violinos, trompetes, tubas, clarinetes, harpas, tambores...