Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Vera Eunice, Tom Farias e Zezé Motta lembram trajetória de Carolina no 'Conversa com Bial'

Edição nº 1632 - 20 de Julho de 2018

O programa 'Conversa com Bial' dessa segunda-feira 16 promoveu um debate sobre a história de Carolina Maria de Jesus com sua filha caçula, Vera Eunice de Jesus, o jornalista Tom Farias e a atriz Zezé Motta. A autora do best-seller 'Quarto de Despejo: Diário de uma favelada', que conta sua vida na Favela do Canindé em São Paulo, é a mais importante escritora negra do Brasil. A obra, lançada em 1960, foi traduzida em 16 línguas, publicada em 46 países e mudou a vida da também compositora e poetisa. 

Durante a conversa, a filha Vera lembrou de um elogio feito à sua mãe pela escritora Clarice Lispector, quando se encontraram pela primeira vez. "Quando minha mãe foi apresentada à Clarice, ela ficou meio intimidada e comentou: 'Nossa, você é uma escritora. Quem sou eu perto de você?'. E a Clarice respondeu: 'Posso ser uma grande escritora, mas você é a única que conta a verdade'. Carolina estava à frente de seu tempo. Prova disso é o interesse cada vez maior que ela desperta nesse século em que tantos parecem empenhados em dar voz em quem nunca teve vez", afirmou o âncora do programa, Pedro Bial.

 

Frases do debate

"O que mais me marca nessa época é a fome", afirmou Vera Eunice. "Lembro dela escrevendo, sempre, a vida inteira. Minha mãe acordava à noite para escrever. Depois do livro, foi um tempo bom, que a gente comeu bem. Vi ela feliz". (Vera Eunice sobre as lembranças do Canindé e após o lançamento do Quarto de Despejo)

"A Carolina já tinha esse lugar de fala nos anos 50. Foi uma mulher à frente de seu tempo. O empoderamento dela já estava lá. Ela não permitia que ninguém falasse por ela. Ela era uma pessoa bem expressiva. Conseguia passar para as pessoas o que ela sentia principalmente com o olhar". (Do jornalista e escritor Tom Farias, autor da última biografia sobre Carolina).

"O Paulo Dantas, editor de Carolina, disse que ela não estava lançando um livro, mas fazendo uma revolução. A Carolina incomodou os intelectuais, que boicotaram o lançamento de seu livro Quarto de Despejo" (Tom Farias)

 

Casa de Alvenaria"

Tom Farias fala sobre fracasso do livro 'Casa de Alvenaria'.

"Ela escreveu um livro ['Casa de Alvenaria'] sobre a hipocrisia social que ela não conhecia. O livro tem muito do deboche da Carolina. Essa reação refletiu no livro. Ele foi rejeitado, vendeu 10 mil exemplares em três anos", analisou Tom. "Foi um fracasso. Isso deixou ela amargurada", afirmou o jornalista.

 

Pobreza e exílio no fim da vida

Vera Eunice de Jesus fala sobre pobreza e exílio da mãe no fim da vida. Carolina ganhou bastante dinheiro com seu best-seller, mas perdeu tudo e morreu pobre aos 62 anos. 

"Ela tinha o tino de escritora, era nato. Mas ela não sabia administrar o dinheiro", constatou Tom. "Ela voltou a catar papel. As pessoas diziam que ela queria aparecer. Mas, na realidade, a situação ficou muito difícil", justificou Vera Eunice.

"O maior sonho dela era que eu me tornasse professora. Eu cumpri". (Vera Eunice, professora de português nas redes municipal e estadual, reconhecendo que realizou o sonho da mãe)

“Eu me surpreendi muito quando soube que Carolina gravou um disco. Ela é um exemplo de que com vontade você chega lá. Carolina é tese de universidades fora do Brasil e não é conhecida em seu próprio país". (Da atriz Zezé Motta, que viveu seu papel no teatro)

'Quarto de Despejo', dirigida por Amir Haddad. “Foi o melhor trabalho que eu fiz”. “Eu vivi uma pessoa que vivia. Foi maravilhoso”. “Ela era uma mulher de uma capacidade incrível, mas muito sofrida”. (De Ruth de Souza, a primeira atriz a representar Carolina na montagem da peça, Quarto de Despejo)

Conversa: Vale a pena assistir ao programa: https://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/noticia/filha-de-carolina-de-jesus-lembra-elogio-de-clarice-lispector-a-sua-mae-so-ela-escreve-a-realidade.ghtml