Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Roqueiro sacramentano faz parte do Madrigal Revives

Edição nº 1649 - 16 de Novembro de 2018

Do rock pauleira para o canto sacro do Madrigal Revivis, da USP de Ribeirão Preto. Quem diria! Esse fantástico percurso é do sacramentano Victor Ribeiro Silva 22, filho único do Prof. Pedro Rogério Ribeiro Silva e Salete Aparecida Borges, passou pelas escolas Afonso Pena, Coronel José Afonso de Almeida e Rousseau para depois fazer o cursinho em Uberaba e ser aprovado no curso de Farmácia Bioquímica, do campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. Paralelo ao curso, Victor faz também curso de música, vivendo no momento um grande projeto. Há quase dois anos faz parte do Coro da USP, Madrigal Revives.

 

A vocação musical

A vocação musical apareceu muito cedo na vida de Victor. Herança de família. “Meus tios tocavam viola caipira, tocavam muito nas rodas com os amigos e eu sempre ficava próximo pra ver se aprendia alguma coisa. Gostava muito de viola, mas aprendi a tocar violão. Aos 13 anos, com alguns amigos, Daniel Crema, Vinícius Silveira, Gilberto Antônio, Renan Kawan criamos uma banda de rock. Nem teve nome, foi criada mesmo no intuito de brincadeira, sem fim comercial. Nessa mesma época tive a oportunidade de participar de um grupo de arte e cultura em Ribeirão Preto, o Prosa Boa e Arte, que tinha também em Sacramento uma extensão. O grupo, dirigido pelo sociólogo, Júlio César Pereira, fazia saraus, discutia política, filosofia e artes em geral. Foi uma época muito rica, porque trocávamos várias informações. Mas continuamos com a banda, tocando o nosso rock para os amigos, além de participar de alguns eventos.

 

Aprimoramento na universidade

“Assim que ingressei na universidade em 2015, tive a oportunidade de participar de um projeto com o maestro do Coral da USP, Sérgio Alberto de Oliveira, trabalhando na parte administrativa do Coral, produção de eventos. E foi interessante. Eles precisavam, na verdade, de um músico. Eu me candidatei e participei de uma entrevista, quando vi que o Coral também precisava de alguém que entendesse de produção de eventos. E como eu já havia organizado eventos em Sacramento com alguns amigos, eles me aceitaram como bolsista no primeiro ano, quando comecei também a desenvolver a parte vocal. Eu cantava, mas não tinha técnica vocal. E desde então faço parte do Coral da USP, o  Madrigal Revivis.

 

Grandes apresentações 

A agenda do Madrigal Revivis é muito dinâmica. Já fizemos vários concertos em Ribeirão e outras cidades. Em 2017, tivermos a oportunidade de cantar com um coro profissional, Luther King, de São Paulo, um coro muito tradicional fundado em 1970 e, atualmente, regido pelo maestro Martinho Lutero Galati Oliveira. 

O Luther King é imenso, bem diferente do nosso, que é uma camerata, que define os corais sacros, pequenos, com 20 integrantes. Cantamos com eles a 'Sinfonia dos Dois Mundos', escrita durante o Concílio Vaticano II, em 1962, pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, retratando os problemas sociais do mundo, e musicada pelo padre e maestro suiço, Pierre   Kaelin (*).

O evento aconteceu na tarde do dia 25 de junho, na Catedral da Sé. O Concerto foi regido pelo maestro Martinho Lutero Gallatti de Oliveira e sob a batuta do regente estiveram o tenor Jean William, a contralto Fabiana Cozza, o coro Luther King e a Camerata Paulistana, que deram interpretação ao texto com o ator e diretor Celso Frateschi como recitador.

A sinfonia tem a duração de 1h30, não é fácil baixar e nem está disponível.

 

Madrigal Revivis no Uruguai

No início do mês de setembro, de 3 a 9, o Madrigal Revivis esteve no Uruguai, participando de um festival internacional de coros, o Festival Internacional Corearte Río de La Plata, organizado por uma empresa de Barcelona, a Corearte, responsável pela organização de festivais   de corais no mundo todo. “Além da rica experiência de participar do Festival, o coro teve a oportunidade de participar de oficinas com direito a certificado e dossiê de participação, o que enriquece nosso currículo”, reconhece feliz, Victor, em entrevista ao ET.  

De acordo com Victor, o coro conta com 20 integrantes, cinco de cada naipe. Naipe dos tenores (vozes agudas masculinas); naipe dos baixos (vozes graves masculinas); naipe dos sopranos (vozes agudas femininas) e naipe dos contraltos (vozes graves femininas).  O grupo, que foi aprovado depois da aprovação de um vídeo enviado no ato da inscrição, conta com um pianista e parceria com a orquestra La Musicale, que acompanha o Madrigal em concertos maiores. 

“- La Musicale é uma orquestra completa, com todos os instrumentos, que nos acompanha nos concertos. O Madrigal é um coro pequeno, reservado, que canta mais músicas sacras renascentistas, embora tenhamos um repertório contemporâneo. No Madrigal predomina o latim, mas temos músicas em inglês, italiano e espanhol e foi nesse idioma que cantamos no Uruguai”. 

O Madrigal Revivis foi convidado também pelo embaixador do Brasil em Montevideo, Hadil da Rocha Vianna, para uma apresentação na Embaixada. “Lá, nós cantamos um trecho do Réquiem de Fauré, músicas brasileiras e uma soprano do grupo cantou o Hino Nacional”.

 

O que é a 'Sinfonia dos dois mundos'? 

A Sinfonia dos dois mundos tem 56 anos. Foi escrita durante o Concílio Vaticano II, em 1962, pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Em 1979, Dom Helder, então arcebispo de Olinda e Recife, e o padre e maestro suíço, Pierre Kaelin, decidiram fazer uso da obra de arte religiosa como instrumento de conscientização para as nações. 

E trabalhando em parceria, eles deram vida à Sinfonia dos Dois Mundos, que foi apresentada, pela primeira vez, em março de 1980, no Collegium Academicum, em Genebra, na Suíça (país do compositor da música) e, depois, seguiu circulando pelo mundo, tendo sido executada quarenta e quatro vezes, em quatorze países e em trinta e nove cidades espalhadas por três continentes. 

No Brasil (país do autor do texto), por causa da ditadura militar, somente pode ser apresentada em 1985, após a queda do regime, nos palcos dos teatros Paulo Pontes (João Pessoa) e Guararapes (Recife). 

Na obra, Dom Helder fez uma síntese do seu pensamento, objetivando, esclarecer a divisão que, de fato, estabelece fronteiras entre os homens oriunda bem mais da forma como eram distribuídas as riquezas (norte rico X sul pobre), que do confronto ideológico então existente (leste capitalista X oeste socialista).

 Nos argumentos que escreveu para a sinfonia, reforçou as pregações que fez ao longo de sua vida, no sentido de incentivar a construção de um mundo mais justo, no qual fosse implantada uma cultura de paz. 

Dom Helder Câmara pertencia da Comissão dos Bispos e Governo das Dioceses e foi um dos sete bispos, que tomaram parte nas dez comissões preparatórias e nos quatro Secretariados do Concílio, criados em 5 de junho de 1960.