Geny Aparecida Pereira completou 90 anos, no sábado 10, e comemorou a data com os filhos noras, genros, netos e bisnetos e demais familiares de Sacramento e vindos de São Paulo, Americana, Ribeirão Preto, Jeriquara e Uberaba e alguns amigos. Enfim, uma festa de família, que reuniu cerca de 60 pessoas. Merecida comemoração. Geny é viúva de Antonio Francisco Pereira, pais de 14 filhos: Maria Elena, Maria Antonia, Sérgio, Celso, Diolinda, José Luiz (falecido), Carlos, Sílvio (falecido), Ângela, Paulo, a sobrinha Claudia, filha do coração desde os oito anos e quatro dos natimortos, inclusive o primogênito. A prole lhes renderam 17 netos e 12 bisnetos.
Natural de Tapira (MG), Geny é filha de Francisco Félix e de Maria Abadia dos Santos,, que ganhou mais três irmãos maternos: Gasparina e os já falecidos João e Terezinha.
Em Tapira, cidade que teve a alegria de rever em julho do ano passado, fez os poucos estudos que teve e que eram dados, sobretudo às mulheres na época, o mais aprendeu na universidade da vida.
Aos 13 anos, deixou a casa materna e foi morar e trabalhar com a família Manuel Alves da Silva (Teresa), na fazenda Caxambu e ali permaneceu até se casar aos 22 anos. Casada, veio morar no bairro Santo Antonio, onde teve os dois primeiros filhos e logo se mudaram para a zona rural, na região da Tapera, mas por pouco tempo. Já com cinco filhos, os mais velhos chegando à idade escolar, voltaram à cidade.
E Geny foi à luta para ajudar o marido. E tornou-se lavadeira e passadeira de roupas, numa época em que o linho era o fino da moda. Não foi fácil, a energia da época não ajudava, mas tinha que buscar uma solução. “A luz era muito fraquinha, os tomatinhos e eu passava roupas à noite, que a força era melhor. Mas usava um ferro elétrico e dois ferros a brasa. Enquanto um esquentava, eu usava os outros. Chegava dar dor nos braços, mas as calças, paletós ficavam quebrando de tão bem passadas... E de dia eu lavava as roupas, era tudo branco, roupas de cama, tolhas... Não existiam os produtos de hoje, sabão em pó, clareador de roupas, era tudo quarado no sol. Botava no varal, aquilo doía nas vistas”, conta com gáudio.
Nos fins dos anos 1960, Antonio ingressou na Mendes Júnior, construtora da Usina de Jaguara e Geny tornou-se a grande educadora dos filhos, dadas as ausências do marido, e assim foi até a perda do companheiro em 1976, no ano em que completaria 25 anos de casados.
São 41 anos de viuvez e muita superação para acabar de criar os filhos, mas o fez com carinho, dedicação e muita fé. Aliás, fé foi o que nunca lhe faltou. Católica fervorosa, cumpria à risca os preceitos, e se lembra com carinho da presença nas missas ainda em latim.
“- A gente não entendia nada, mas não perdia uma missa aos domingos, nas festas. A gente morava na roça e todo domingo vinha para a missa das 10h. Todo mundo rezava terço durante a missa. Nas procissões das festas, Semana Santa. Todos os filhos fizeram Primeira Comunhão, foram crismados e aprenderam a religião, disso eu nunca descuidava”, recorda, salientando que era um tempo bem diferente do de hoje.
“- Era um tempo muito diferente de hoje. Conheci Sacramento quando era tudo terra, não existia calçamento. No centro da cidade, corriam uns regos d´água e toda manhã, tinha os homens que molhavam as ruas, ficava um de um lado outro de outro e iam aguando. Sacramento muito, progrediu. Hoje tem muita facilidade, a gente compra tudo pronto...”.
Cozinheira, quintandeira e doceira de mão cheia, Geny sempre cativava a todos, mas muito mais que pelo estômago, pelo seu sorriso e alegria. Outra grande paixão na sua vida, são as plantas, remédios caseiros e flores, dos quais cuidava até poucos anos atrás.
Hoje, aos 90 anos (bodas de Álamo), Geny, embora com a saúde fragilizada, é guerreira como o álamo, árvore gigante que atinge 30 metros, de talhe elegante e tronco ereto, que dá sombra, flores e frutos, por isso tem muito o que comemorar e agradecer. E com orgulho, os filhos podem repetir os versos de Roberto Carlos: “Esses seus cabelos brancos, bonitos/ esse olhar cansado, profundo/ me dizendo coisas, num grito/ me ensinando tanto, do mundo...”.