O Carnaval de Rua organizado começou com o ex-prefeito José Alberto Bernardes Borges. Na sua segunda gestão, em 1977, sob sua própria coordenação e da Secretaria de Cultura realizou o primeiro desfile de blocos do Sacramento Clube. Em entrevista ao ET, José Alberto contou como tudo começou.
“- Tudo de maneira extra oficial, com o apoio da diretoria do Sacramento Clube que, na época realizava seus bailes de salão com seus blocos e concursos. A Prefeitura organizou e os blocos aderiram ao convite”, lembra, destacando que a oficialização veio no ano seguinte.
“- Mas no ano seguinte, sim, foi tudo de maneira oficial, com aprovação de lei pela Câmara e criação do Troféu Conceição, em homenagem à primeira sambista de Sacramento, que saía vestida de baiana com seu corço e com lança-perfume, que antigamente era liberado. Vou até abrir um parêntese para contar que eu era menino, o meu avô comprava lança perfume para os netos todos. Que coisa magnífica que era! Só não podia ir nos olhos... Me desculpem pela citação, hoje considerada politicamente incorreta, mas era uma divertida verdade”.
José Alberto prossegue, informando que os blocos foram aumentando, a rua foi enchendo e o Sacramento Clube esvaziando. “O povo não quis mais saber de salão, de comprar mesas e ficar ali trancado dançando. Veio pra rua com a mais tradicional das escolas sacramentanas, a XIII de Maio, que muito antes de toda essa história que estou cantando, desfilava pelas ruas com Conceição, Azor, Curtume, Bigico e tantos outros. E outras escolas depois foram se formando, pois a organização ganhou lei e até disputa pelo Troféu Conceição, como a Mocidade Alegre Sacramentana, do Avelu; a Operários, do Azor e Odorico; a Unidos da Estação, do Emídio; a Tradição Sacramentana, do Catão e Jucelaine; a Unidos da Real, da Izinha, mais tarde outras duas grandes escolas, a Unidos do Areão e Beija Flor Sacramentana.
Lembra mais o ex-prefeito que a beleza dos blocos do Sacramento Clube levantava o público na rua com aplausos. “Dois grandes diretores que deram muita força nesses blocos foram o diretor social Albertinho Vieira e o presidente Júlio Gaspar Jerônimo, na época, meu secretário de governo. Lembro-me que até o final de minha segunda gestão, 89/92, ainda eram muitos os blocos. Eu me lembro do Bloco do Sabonetão, da família do meu tio Epaminondas; As Melindrosas, As Fantásticas, Luxo e Fantasia, da saudosa Lulu que desfilavam com a Bateria do SC, mais tarde transformada na grande Bateria 2.000, do Adão Brasileiro. Sem falar dos blocos folclóricos, como o Maria Giriza, do saudoso Noninho, As Robertas, o Vai quem quer... É um resgate que merece ser escrito e deixado para a posteridade”, sugere José Alberto.
Depois de oficializado, conta mais o ex-prefeito que as despesas com o carnaval não cabiam no orçamento. “Foi quando tive a ideia de montar as arquibancadas, cobrávamos os ingressos e o dinheiro arrecadado era dividido para as escolas prepararem o carnaval seguinte”, conta, ressalvando o seu zelo pelo bem público.
“- E eu era zeloso com todo aquele material empregado, os holofotes, os enfeites, fiação guardávamos tudo na Prefeitura, tinha medo que desaparecessem, porque eu não podia fazer muitos gastos. Usávamos vigotas para sustentar a decoração e o palanque, mas já pensando em obras que iríamos construir. O museu foi construído com as vigotas que eu usava na estrutura. Quando eu voltei à Prefeitura em 1989, a sustentação já eram as torres de metal, que perduraram até o ano passado e agora o Dr. Wesley colocou outro tipo de torre. Isso é evolução”, afirma, destacando a tradição do evento.
“- Eu sempre fiz questão de ter o carnaval, que é a festa do povo, o batuque africano, isso está no sangue do nosso povo em todo o Brasil. Foram os nossos ancestrais que nos trouxeram o Carnaval e isso tem que ser preservado e na rua. Carnaval nunca mais volta para os clubes. Carnaval em clube hoje só em bailes da elite, nos grandes centros, como por exemplo, no Copacabana Palace, Scala, Monte Líbano e outros”.
A rua é do povo, “a praça é do povo”, como dizia Castro Alves. E toda vida fui contra tirar a festa da passarela do samba, como passaram a chamar a rua Visconde do Rio Branco. Cada marchinha que tocava eu sempre cantava junto. Lembro-me da minha mãe, que as cantava quando eu era criança. Aliás, mamãe me pedia que queria ser velada em casa, mas se morresse durante o Carnaval, era para levá-la para a capela da Santa Casa. E pedia: 'Não deixa ficar sem carnaval, viu meu filho'”.
Dr. Wesley De Santi está de parabéns, a comissão, as equipes de som, o DJ Maykon, a Polícia Militar, os seguranças, todos estão de parabéns! Vendo um carnaval muito bem organizado, lixeiras especiais, muitos banheiros e muito seguro, toda a comunidade sai ganhando. Vejam vocês que no sábado fui revistado pelos seguranças. Nada demais, faz parte seu trabalho. Muita gente reclamou de ter fechado as entradas. Sacramento não é a primeira cidade a fazer isso, não. Em São Paulo, sãos fechados os principais acesso para o local do evento. O público paga ingresso e não pode entrar nem com garrafa d´água. E é assim em muitas cidades.
Então, eu como sacramentano, fico muito feliz por ver o carnaval voltar. Aliás, ele nunca deveria ter acabado, não podíamos ter deixado acabar. É lógico que os tempos são outros, mas acabar nunca. Cabe à Prefeitura se responsabilizar por toda infraestrutura, som, iluminação, decoração banheiros e oferecer toda a segurança ao público”, disse mais o ex-prefeito José Alberto, sugerindo até que as Escolas ensinassem às crianças essa tradição.
“- As escolas deveriam encaixar na sua grade essa cultura carnavalesca, falar das marchinhas, como nasceram, o frevo, o maracatu e principalmente o samba, como funcionam os sambas de enredo, como narram os desfiles das grandes escolas... É uma cultura muito rica que não pode ser esquecida, pelo contrário, valorizada. E Sacramento tem tudo para crescer e fazer voltar o carnaval com as escolas, sem aqueles gastos exorbitantes da Prefeitura.
Aproveito também para cumprimentar o Jornal ET pela página publicada na última edição, homenageando foliões de nossos carnavais antigos. Fiquei muito feliz ao lembrar tudo aquilo e mais feliz fiquei por ver a foto da Marileia entregando o troféu para o Rone. Marileia era apaixonada pelo carnaval e me incentivou e me ajudou muito. Parabéns Sacramento!!