Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dona Zica recebe homenagem dos filhos

Edição nº 1648 - 09 de Novembro de 2018

Dona Albertina Souza Vieira, a dona Zica, completou,  no dia 1º de novembro, 88 anos de uma vida de muitas alegrias, tristezas, perdas e vitorias e muito trabalho, coroada pela criação dos 11 filhos: Elza (Wilson, in memoriam), Maria Cléria,   Selma, Marluce, Edson (Izabel), Cleusa (Sebastião), Lucely (Marcos Antônio), Neusa (Luismar), Edmar (Maria de Fátima),Edna, do primeiro casamento com Sebastião Jacinto da Silva e, Sandra (Vicente), do segundo casamento com Lázaro.  Os filhos deram-lhe 28 netos, 30 bisnetos e já dois tataranetos e anos de muitas felicidades, companheirismo, presença, cuidado e carinho. 

Uma vida cheia de histórias 
A vida não consiste em apenas contar os anos, ela é feita de histórias e histórias é o que não faltam na vida de dona Zica, Albertina Souza Vieira, daria um livro. Nascida no Desemboque, no lar de Sebastião de Souza e de Maria Peres, foi a segunda filha de uma prole de dez irmãos. 
“Meu pai ficou louco e sumiu no mundo, nunca mais ninguém soube nada dele. Eu tinha oito anos, minha mãe nos pegou, botou a mudança num cargueiro de uma égua que tínhamos e rumamos para Sacramento. Meu irmão caçula, o Baiano tinha um ano e dois meses e eu oito...”
De acordo com Zica, no primeiro dia da jornada chegaram até a Lagoa, onde pediram pouso, de onde saíram de manhã chegando à tardinha em Sacramento. “Na entrada do Santo Antônio morava o Benevenute, que nos deu água e comida. E dona Branca, que também morava lá nos deu um cantinho pra guardar a traia, porque a égua afrouxou, caiu e não levantou mais, ela estava prenha e morreu com a cria”, conta.  
No dia seguinte, mãe e filhos saíram atrás da irmã mais velha, Tazinha, que já trabalhava na cidade, mas não sabiam onde e acabaram se perdendo. “Mamãe nos deixou na praça da Cadeia, onde é hoje a Rodoviária e foi atrás de nossa irmã, seguindo informação de alguém. Ela nos deixou, minha irmã e eu, com um machado na mão e uma latinha de manteiga. Ela saiu e nós seguimos andando e nos perdemos. Fomos parar ali pra baixo da igreja matriz. Mamãe nos encontrou bem mais tarde”, conta em risos.
Logo a família se ajeitou e conseguiu serviço na fazenda do João Zico. “E ali nós crescemos sob os cuidados de nossa mãe até que, aos 16 anos, eu me casei com meu primeiro marido, o Sebastião, com quem tive dez filhos, até que um dia decidimos 'se' mudar pra cidade”, conta.
Fixando residência numa casinha no 'Arião', logo, Zica perdeu o marido. Mesmo viúva, não esmoreceu, criou com amor os dez filhos. Até que um dia conhece Lázaro Vieira da Silva, com quem se casou.  “Aí fui à luta, trabalhando nas casas, lavando roupas nas casas e não foram poucas. Havia dias que eu lavava roupas em duas casas. Mas minhas patroas eram muito boas, me ajudaram muito. Eu trazia sobras de comida e quitanda para os meninos. Era uma alegria, eles já ficavam esperando, havia um barranco, eles ficavam lá esperando minha chegada...”, conta mais. 
Segundo Zica, a vida foi muito dura para ela, mas nunca se desesperou. “Sempre confiante em Deus, aos poucos fomos sobrevivendo, graças também a muita ajuda do Dispensário dos Pobres, da Sociedade S. Vicente de Paulo. Aí os meninos foram crescendo, começaram a trabalhar e as coisas foram mudando. Não foi fácil, mas vencemos, graças a Deus”. 
Viúva de Lázaro, dona Zica casou-se com o terceiro marido, o Ademar Isídio da Silva, que também morreu. E mais uma vez arrumou um companheiro com quem vive até hoje, já há 13 anos, alegre e feliz ao lado do quarto marido, o Manuel Batista Honório (Mané Margarida). 
Ambos são aposentados e vivem muito felizes, um fazendo companhia para o outro. Da. Zica encerra a entrevista com um com um largo sorriso no rosto, falando das lições que tira desses 88 anos. “Sofri demais, trabalhei demais, mas foi bom. Hoje ver os filhos, netos, bisnetos, tataranetos é uma bênção de Deus. Minha família, graças a Deus, é uma felicidade. Valeu a pena, está valendo...”