Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Che bella storia! A rica história da família Lenza em Sacramento

Edição nº 1634 - 03 de Agosto de 2018

Os Lenza figuram como uma das mais tradicionais famílias de imigrantes em Sacramento. A rica história familiar começou na Itália, em Prepezzano, Comune di Giffoni Sei Casali , província de Salermo, com os patriarcas, Antonio Lenza e Cármina  Rossomando Lenza, que chegaram ao Brasil em 1900.  Mas não foram eles os primeiros Lenza a pisarem em terras brasileiras. 

 

Francesco Lenza

O primogênito Francesco Lenza, nascido em1865, foi o primeiro a aportar em terras brasileiras. Com 28 anos, Francesco desembarcou sozinho no porto de Santos, em 1893, fugindo da terra natal, porque estava jurado de morte por integrantes da Máfia napolitana com quem teve um desentendimento. Francesco deixou para trás vários amores, além da pátria amada, a esposa Orsola Larocca Lenza e os três filhos, Antônio, Ângelo e Carmela. 

 Segundo dados fornecidos por descendentes, Francesco fincou pé em Sacramento, estabeleceu-se como comerciante e mandou buscar a família, além da esposa e filhos, seus pais e irmãos, que venderam as joias da família, juntando uma pequena economia. 

Conforme atestam os documentos, aportaram no Brasil, no último mês do século XIX. Era o dia 11 de dezembro de 1900, quando embarcaram em Gênova no navio Manilla, especialmente destinado a imigrantes e com passagem gratuita, com destino ao porto de Santos, no Brasil. As facilidades que esses imigrantes encontravam em vir para o Brasil se devia ao fato de se necessitar aqui de mão-de-obra para colonizar suas terras férteis.   

Em Sacramento, Francesco e Orsola tiveram mais quatro filhos:  Agostinho, Maria Colona, Rosa e Concepta. Mas, descoberto pela Máfia, Francesco fugiu novamente, mas não para tão longe. Levando a família, radicou-se na vizinha Uberaba, onde nasceram-lhes mais quatro filhos: Agnelo, Genoveva (Nenê),  Maria Cristina e Eva Maria (Jurita), completando uma bela prole de 11 filhos.

 Mais uma vez descoberto, Francesco reúne a família e foge desta vez, para Catalão (GO), onde, para sua segurança, encontra ajuda e proteção de um italiano que morava em Ipameri (GO) para onde se muda pela última vez. Ali a família abriu um hotel, mas o progenitor já doente, devido ao diabetes que o obrigou a amputar uma perna, veio a falecer.

Além dos pais, Antonio e Cármina, Francesco trouxe mais tarde para o Brasil os seus irmãos: Michele/Miguel (1871), Maria Lucia (1877), Generoso (1885) e Luigi (1891). 

 

Michele Lenza

Conforme relatos do sobrinho João Batista Lenza, filho de Alfredo Lenza, Michele chegou a Sacramento com 29 anos e aqui se casou com Ernesta Canassa Almeida com quem teve quatro filhos: Maria (Naná),  Aurélio, Américo e Regina. 

O casal se separou e Ernesta mudou-se para Ribeirão Preto com os filhos, mas Michele foi atrás com o objetivo de trazer de volta os filhos. E por pouco não conseguiu. Com os quatro filhos, embarcou no trem de ferro com destino à estação Sacramento, mais conhecida por Cipó, pela histórica Maria Fumaça, a Mogiana.  Mas, tão logo o trem apitou (como se dizia na época, para sinalizar o momento da partida), dois de seus filhos, Naná e Aurélio, saltaram do trem para permanecer morando com a mãe.

“Tio Michele foi açougueiro e, ainda hoje, a casa onde ele teve o açougue em Sacramento, continua no mesmo lugar, tal como no seu tempo,  e, para enriquecer e documentar esse relato, estivemos lá e fotografamos a casa onde funciona hoje, uma bicicletaria”, conta o sobrinho João Lenza.

No final de sua vida, doente e com poucos recursos, Michele recebeu ajuda do sobrinho Riceiro Lenza (filho de Generoso), que lhe abriu uma conta no empório de Secos e Molhados de Ettore Cerchi (marido de Concheta Lenza), para que comprasse tudo o que lhe fosse necessário. 

“- Extremamente honesto, tio Michele cumpria à risca a autorização do sobrinho, comprando apenas o que lhe era estritamente necessário. Além disso, a humildade era um traço marcante da sua personalidade. 

 

Maria Lúcia Lenza 

Um pouco da história de Maria Lúcia que chegou ao Brasil com 23 anos é relatada por Giovanni Fraga Lenza, do Rio de Janeiro.  Em Sacramento, Maria Lúcia   casou-se com Michelle Corno, em 1908    e tiveram cinco filhos:   Carlos, Reinaldo, Gemma, Caetana e Primo. 

“Meu pai, Primo Lenza era o caçula e recebeu o nome de Primo, pois, nascido prematuro acreditavam que fosse o primeiro a falecer no berçário, mas felizmente viveu com higidez física e mental, até os 90 anos”, revela Giovanni, recordando mais: “Meu avô Michelle morreu em 1923, meu pai, Primo, tinha só cinco anos e minha avó, Maria Lúcia,  criou todos os filhos com muita dificuldade e  faleceu em 1954”. 

O filho Primo, que acreditavam não sobreviver,  formou-se médico, casou-se com Ieda Fraga e tiveram dois filhos: Heda e Giovanni, ambos se formaram em Medicina. Os demais filhos de Maria Lúcia, Carlos, trabalhava no comércio  de materiais elétricos; Reinaldo foi Promotor de Vendas em Ribeirão Preto e Gemma, professora, também em Ribeirão Preto.  

 

Generoso Lenza

Generoso, o quarto filho de Antônio e Cármina chegou ao Brasil, aos 14 anos. O fato de logo chegar a idade para o seu alistamento militar na Itália, fez com que os pais abreviassem sua viagem.  Generoso viveu em Sacramento por 63 anos, até a sua morte aos 87 anos, em 1972. Aqui, Generoso se casou com Esterina Recidive  e tiveram seis filhos: Alfredo, Adina, Antonio, Concheta,  Dozolina e Riceiro. 

Na sua chegada à cidade, a vida não foi fácil. Sem nenhum estudo, aprendeu a escrever seu nome com o vigário da paróquia, padre Pedro Ludovico da Santa Cruz, de quem se tornou grande amigo. O primeiro emprego foi na Prefeitura como capinador de ruas e sarjetas, aliás, primeiro trabalho do qual sempre se orgulhou. Depois, passou a vendedor de carne em gamelas, numa chácara próxima ao matadouro. Com o irmão Luigi, foi também verdureiro e trabalhou para Luiz Zandonaide, proprietário de uma pequena venda.

O tino comercial logo aflorou em Generoso. Aos poucos, começou a negociar gado até que se tornou um grande pecuarista, comercializando boiadas em Barretos (SP), Jataí (GO), Monte Carmelo (MG), Santa Rita do Sapucaí (MG), dentre outras cidades. 

E assim foi adquirindo lotes de terras, até que, em um deles construiu, a seu estilo, uma grande casa, tendo como construtor, Jácommo Pavanelli, no final da rua Major Lima. Essa casa foi vendida ao então prefeito Juca Ribeiro, por Cr$ 30 mil (cruzeiros), em 29.12.1942, e transformada no primeiro prédio próprio da EE Cel. José Afonso de Almeida. 

Evocando a memória do pai, conta mais a filha Concheta ao Jornal de Sacramento que, a pedido do vicentino Álvaro, seus pais, Generoso e Esterina, doaram um grande terreno para a construção da Santa Casa de Misericórdia de Sacramento. A doação do terreno foi lavrada em escritura pelo filho Riceiro Lenza e sua esposa Geralda, em 28.09.1945, quando era provedor, Aristófero (Tofe) Mendes do Nascimento. 

 Mais tarde, adquiriu fazenda nas proximidades da comunidade de Guaxima, município de Conquista, e aqui viveu por 63 anos, até sua morte aos 87 anos, em 10/3/1972 e aqui foi sepultado. Como bem diz a filha, Concheta, lembrando a figura paterna ao Jornal de Sacramento, em 1980: “Nosso pai não veio para o Brasil, veio para Sacramento e aqui viveu seus quase 90 anos, amando e servindo esta cidade”.

Na mesma edição do jornal, a colaboradora Dayse Maluf escreveu em sua coluna: “Falar de Generoso Lenza é descobrir um forte trajando suas roupas de boiadeiro, suas botas de sete léguas e sua guaiaca, onde não só guardava o lucro auferido, mas a honestidade e a grandeza do homem que nasce para vencer, luta para construir e vive para ser exemplo às gerações vindouras. Vulto mais que presente na história de Sacramento”.

 

Luigi Lenza 

Luigi Lenza, o filho caçula de Antonio e Cármina, chegou a Sacramento com os pais ainda criança,  com pouco mais de nove anos.

Conforme dados fornecidos por Saul Mundim Lenza, filho de Gildo Lenza e  Marta Mundin Lenza, “quando jovem, Luiz e o  irmão Generoso  foram sócios,  por alguns anos, na venda de verduras na cidade.

Mais tarde mudou-se para Uberlândia, mas antes foi gerente de uma fazenda em  Grupiara (MG).  Em Uberlândia, por volta das décadas de 50/60, foi sócio numa Graxaria, de propriedade do seu filho Álvaro. Ali produziam sebo (gordura animal), obtido através do aproveitamento de carcaças de bovinos coletadas, no matadouro municipal, nos frigoríficos e em açougues locais. Todo material era processado em caldeiras, alocado em tambores de 200 litros e vendido para indústrias de sabão em Ribeirão Preto e São Paulo.  

No período de 1959/1963, na administração do prefeito Geraldo Ladeira, Luigi foi nomeado Fiscal de Posturas, função que desempenho até a aposentadoria.  Luigi morreu em 1982, aos 92 anos de idade comemorando o seu aniversário. “Era sadio, não tinha enfermidade alguma, morreu, simplesmente, porque o seu coração parou de bater”.

Esta é a história da primeira geração do casal de imigrantes italianos, Antonio Lenza e Cármina Rossomando Lenza, que aqui aportaram com quatro filhos há 118 anos, graças a coragem do intrépido primogênito Francesco que, mesmo fugindo da pátria mãe, abriu o caminho do Atlântico para a família Lenza Rossomando. Antonio e Cármina aqui viveram com seus cinco filhos, aqui tiveram netos, bisnetos, tataranetos... Enfim, cinco gerações de descendentes...

 

Dio mio! Che 

grande famiglia! 

 

Che bella storia!