Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Caminhoneiros param País

Edição nº 1624 - 25 de Maio de 2018

A greve dos caminhoneiros, iniciada em todo o país nessa segunda-feira 20 chegou a Sacramento na quarta-feira 22, quando um grupo de motoristas estacionou as primeiras carretas nas duas principais entradas da cidade, MG 464 e MG 190, iniciando o movimento. Orientando a passagem, o trânsito só era liberado para ambulâncias, ônibus e demais veículos de transporte, carros e cargas vivas. 

Um dos slogans exibidos pelos motoristas é, “Sem caminhão o Brasil para” e não demorou muito para que o  bordão se concretizasse, com o  início do desabastecimento, inclusive,  nos postos de combustível.

Em Sacramento, a greve prejudicou o transporte de leite que abastece o Laticínio Scala. A empresa responsável, Rodomeu, ficou com 26 carretas estacionadas no pátio, deixando de captar 296 mil litros de leite por dia. A Prefeitura também, segundo o chefe de transporte, Cláudio Carvalho, teve que reduzir sua frota de serviços, atendendo os casos essenciais. 

“De quatro caminhões de lixo, apenas dois rodaram, os demais veículos e máquinas que atendem as obras foram paralisados em parte e apenas uma ambulância deixou de rodar”, informou. Adriano Sisconeto, responsável pelo transporte escolar, informou ao ET que até esta sexta-feira, as 65 Vans que atendem os alunos residentes na zona rural rodaram normalmente, assim como os três ônibus que transportam os alunos das creches e escolas de tempo integral. “Devemos funcionar normalmente nos próximos três dias, não sei como vai ficar a partir da próxima semana se o movimento perdurar”, observa.

 

Movimento ganha força

Na entrada da cidade, nesta sexta-feira, fechamento desta edição, o movimento permanece com a mesma força. A fila de caminhões aumentou e o país assiste à maior mobilização da categoria registrada até hoje. Na pauta da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), entidade que lidera a greve, a principal reivindicação está no alto preço do óleo diesel, em relação ao frete cobrado.

Logo no início da paralisação na cidade, o ET esteve conversando com alguns caminhoneiros estacionados no início da MG 464. Foram unânimes em afirmar que não têm como continuar trabalhando com o preço do diesel nesse custo. “O combustível e o pedágio representam hoje 70% de nosso faturamento. Sobram 30% para todo o serviço de manutenção do veículo, desde a lavação, aos danos mecânicos e pneus... E nossa remuneração? E a sobra para renovar o veículo, a frota, como fica? - questiona o motorista, Paulo Sérgio Rezende, mais conhecido por Babalu, com o apoio de vários colegas que protestam junto.  

“Não dá mais. Estamos pagando para trabalhar”, frisa Babalu, enumerando o alto custo da manutenção: “Hoje, um pneu custa em média R$ 2 mil. Um caminhão truck tem dez pneus, mas tem caminhão rodando aí com 30 pneus e até mais,  aí é só fazer a conta.  A gente não está dando conta de fazer a troca. Enfim, nós geramos divisas, muito serviço e para nós sobra nada. Não está dando para cobrir os custos com a caminhão. Se precisar comprar caminhão novo então, nem dá pra pensar nisso, a gente não dá conta nem de pagar o custo desse, que dirá comprar um novo”, compara. 

Falando sobre o reajuste do diesel, ressalta: “O  óleo diesel há pouco tempo custava R$ 2,00, hoje é R$ 4,15, mais de 100% de aumento, ninguém dá conta. A maioria dos  caminhões  não faz 2 km por litro, a média é 1,8 Km. Desde o ano passado vem subindo aos poucos, mas só essa semana o óleo subiu três vezes. Onde vamos parar? O jeito é parar de rodar”, propõe. 

Babalu faz questão de esclarecer que o movimento é pacífico. “Recebemos orientações das polícias federal, militar, bombeiros e estamos seguindo. Não estamos aqui pra quebrar nada, botar fogo em nada. Ônibus, carros vans tudo passa, caminhão só passa com carga viva, por exemplo gado, fora isso não passa. Precisamos lutar para baixar este preço e tem que ser uma luta grande”, frisa. 

 Para Vanuir Fernandes da Silva, de Uberlândia,  a crise é culpa “dos safados que estão no Congresso Nacional. Tiraram a Dilma e agora querem pôr a conta para o caminhoneiro e a sociedade pagar. Tenho 40 anos de estrada e agora o trem está enrolado, temos que parar mesmo, até baixar o preço do óleo diesel, além disso tem os pedágios um absurdo”, denuncia, revoltado. “O Brasil não tem ferrovia, o país anda em cima dos caminhões e eles pensando que somos otários.  Agora chegou ao limite, é a gota d´água que faltava e vamos fechar o país”.

 

ABCAM lidera movimento

O presidente da Abcam, José da Fonseca Lopes, em nota no site da entidade, acredita que o movimento vem ocorrendo conforme esperado. “Pedimos que a paralisação ocorresse de forma pacífica, sem prejudicar o direito de ir e vir dos outros condutores. Felizmente, a grande maioria acatou a nossa orientação”, explica Fonseca.

Alguns transportadores estacionaram seus caminhões nos acostamentos das rodovias e pararam apenas outros caminhoneiros para conscientizá-los da importância de uma paralisação geral. Entretanto, não foi possível evitar o envolvimento de baderneiros, que se aproveitaram da manifestação pacífica e legítima da categoria para causar transtornos em algumas rodovias do país.

“Não apoiamos e nem nos responsabilizamos por atos de violência, agressões, barricadas nas rodovias ou atos de depredação de patrimônio público. Nosso objetivo é claro: demonstrar ao Governo a nossa insatisfação diante da alta tributação do óleo diesel”, afirma Fonseca.

Em Sacramento, a paralisação recebeu a adesão total dos caminhoneiros e, também de produtores rurais que trouxeram suas máquinas para a entrada da cidade. O ET notou também no pensamento de parte dos manifestantes uma tendência política à direita no movimento. O primeiro caminhão da fila estacionada no início da MG 464 tem a seguinte inscrição no seu parabrisa, 'Intervenção Militar', direcionada à solicitação de um governo militar no país. 

 

Caminhoneiro diz que parte da categoria defende Militarismo

Na manhã dessa sexta-feira 25, quinto dia da paralização dos caminhoneiros, o motorista Cláudio Roberto Fuentes Fernandes dá lição de persistência, durante avaliação da paralização para o ET. 

“Para nós, entendemos que a paralisação é um sucesso, porque a adesão e o apoio da população são muito grandes. Na verdade, não aguentamos mais pagar conta que não fecha lá em cima e estoura na gente. Já chegamos a pagar o diesel no mesmo dia com dois valores e R$ 0,14 a mais faz muita diferença para uma atividade como a nossa que não está rendendo para pagarmos isso”, afirma, conclamando os companheiros à resistência.

“- Não podemos enfraquecer num momento desse, tem que ser uma queda de braço. Vamos tentar dar o mínimo de prejuízo para a sociedade, que ninguém quer isso e nós também não, nós também estamos sendo prejudicados, mas essas propostas temporárias que eles estão apresentando, não ameniza em nada. O que nós queremos é no mínimo um ano de garantia de que o preço do diesel vai permanecer estável. Na verdade estamos retrocedendo, estamos voltando à inflação dos anos 80 e isso ninguém aguenta, então temos que nos manter firmes e unidos”. 

A respeito da inscrição no parabrisa do primeiro caminhão da fila, defendendo a volta do Militarismo, Cláudio Fuentes explica que cada um tem a sua opinião. “São opiniões bastante distintas, prefiro não comentar, porque tem gente que é a favor de um lado, outros de outro. Mas a verdade é que não aguentamos mais sermos enganados, queremos solução. Isso daí seria no sentido de colocar ordem, é isso que a população quer, alguém que coloque ordem no país e a intervenção militar seria uma solução”, afirma. 

 

Segundo Ainda Fuents, “hoje há um descaso muito grande com o dinheiro público, não se faz mais nada, nem saúde, nem educação, nem estradas, então é isso que revolta. Outros já são contra os militares, porque ninguém sabe como eles estão hoje, porque também tiveram baixos investimentos. Mas que fosse militar, que fosse quem fosse, mas que colocasse ordem nesse descaso com o dinheiro público”.

 

Borracheiro apóia greve 

O borracheiro José Antonio da Silva (Diolim) (foto) tem um convívio de mais de 20 anos com caminhoneiros e nunca viu uma crise assim. “É a primeira vez que vejo algo assim e eles têm razão, a manutenção de um caminhão tem um custo altíssimo, peça muito cara. Qualquer coisa é três, quatro mil reais. Eles têm que parar mesmo, porque o frete é pequeno e a despesa é grande, muito grande e aí vem essa alta do diesel. Não tem como continuar”.