O jornalista Audálio Dantas (foto), que revelou a escritora sacramentana Carolina Maria de Jesus para o mundo, Cidadão Sacramentano, com título outorgado pela Câmara Municipal de Sacramento, morreu na tarde dessa quarta-feira 30, aos 88 anos, no Hospital Premiê, em São Paulo. Ele lutava contra um câncer de intestino desde 2015, quando foi operado, mas a doença atingiu fígado e pulmões. Audálio estava internado desde abril, no centro médico, onde morreu.
Audálio Dantas nasceu em Tanque D'Arca (AL), em 8 de julho de 1929, começou como repórter da Folha da Manhã (antiga Folha de S. Paulo), em 1954, escrevendo textos sobre temas cotidianos. Em 1955, conquistou seu primeiro prêmio de reportagem: uma entrevista “não dada” por Guimarães Rosa, que lançava Grande Sertão: Veredas, na capital paulista. O repórter conta que chegou à livraria onde ocorria o lançamento e, após ter seu pedido de entrevista negado pelo grande escritor e diplomata, ficou por perto e anotou as respostas dadas aos leitores e algumas dedicatórias assinadas pelo mestre. Esse material lhe possibilitou escrever a matéria.
Em 1956, foi mandado para a cidade de Paulo Afonso (BA), onde a Hidrelétrica do São Francisco começava a mandar energia para os estados do Nordeste. Além de descobrir como a eletricidade começava a influir na economia da região, Dantas aproveitou para trazer várias matérias sobre outros assuntos, todas com fotos. Foi o bastante para ganhar a fama de bom repórter e continuou fazendo reportagens de sucesso.
Mas ele, nas várias entrevistas dadas, apontava como a mais importante de sua carreira, a que produziu com o diário de uma moradora da favela do Canindé, em São Paulo (SP). A ideia inicial era observar o local por uma semana para uma reportagem, mas, no segundo dia, ouviu Carolina de Jesus gritar para quem quisesse ouvir que denunciaria todas as mazelas dos favelados num livro que estava escrevendo.
O livro realmente existia, uma série de cadernos manuscritos, que precisou apenas de uma abertura e uma seleção do repórter para virar matéria jornalística de primeira e de grande repercussão. Em 1959, já na revista O Cruzeiro (RJ), fez outra matéria com Carolina, e desta vez com repercussão internacional. O diário foi novamente compilado e resultou no livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, traduzido para 13 idiomas.
Autor de vários livros, Audálio foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo em 1975, ano do assassinato do jornalista Vladimir Herzog. E foi um dos responsáveis por denunciar que Herzog foi torturado e morto no DOI-CODI, o que contrariava a versão oficial do governo militar, de suicídio. Dantas deixou o cargo em 1978, ano em que foi eleito deputado federal.
Em 2012, publicou o livro "As duas guerras de Vlado Herzog - da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil”, em que conta como o jornalista foi vítima dos nazistas na Iugoslávia, nos anos 1940, e das forças de repressão da ditadura militar brasileira, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti em 2013, mais um prêmio dentre os muitos que recebeu ao longo da carreira, um deles o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU, por sua atuação em prol da defesa dos direitos humanos, em 1981.
Audálio Dantas deixa mulher, quatro filhos e netos. Segundo sua família, o corpo será cremado.