O catireiro de gado, Adalberto Faleiros Lenza 75, morreu às 7h10 da manhã do dia 17 de setembro, no Hospital São Domingos, em Uberaba, vítima de um câncer pulmonar que o acometia há sete anos. Trasladado para Sacramento, seu corpo foi velado por familiares autoridades e um grande número de amigos e conhecidos. Após as exéquis proferidas pelas ministras, Maria Abadia e Maria de Lurdes foi sepultado no Cemitério São Francisco de Assis às 17h.
Terceiro filho do casal Riceiro Lenza e Geralda Faleiros Lenza, Adalberto cresceu ao lado dos irmãos, Ester, Elenice, Alvarez, Albano, Riceiro (de saudosa memória), José Generoso, Cacildo e Carlos, e deixa a esposa, Aparecida Augusta da Mata Lenza, cinco filhos: Alberto (Liziane), Adalberto Filho (Dirce), Suzane (Tito), Roberto (Suzane) e Saulo (Gabriela) e sete netos.
Mas deixa sobretudo um profundo vazio e a saudade de um memorável homem. De acordo com a esposa Aparecida, foram 54 anos e dois meses de uma feliz união. “Éramos muito jovens, eu com 19, ele com 21 anos. Nasci em Conquista e aos sete anos meus pais se mudaram para Sacramento, onde conheci Adalberto, no Grupão. Éramos alunos da dona Agnes Loyola. Essa convivência escolar terminou a partir do Ginásio, hoje os estudos finais do Fundamental. Eu prossegui os estudos até me formar no Magistério e ele foi trabalhar com o pai, no comércio de gado. E ali fez a vida.
Conta mais a esposa Cida, emocionada, que foi reencontrá-lo quando completou 18 anos. “Namoramos, noivamos e nos casamos em 11 meses, e fomos muito felizes. Toda sua vida foi ligada às lides rurais. Um incansável madrugador. Tinha paixão por gado, nunca plantou um pezinho de nada, mas viveu para o trabalho e a família. Dono de uma honestidade ímpar, enérgico e forte, mas muito carinhoso, amoroso comigo e os filhos”, recorda.
Católica fervorosa, Cida afirma que desde o início sua união foi amparada pelas bênçãos divinas. “Graças a Deus vivemos bem, segurando nas mãos de Deus. Nosso casamento foi firmado diante do Santíssimo Sacramento. Naquele momento prometi que iria levar a minha cruz até o fim e levei, mas foi um fardo leve. Passamos por dores - qual casal não passa - mas a suportamos juntos. Tivemos oito filhos, três morreram no parto, quase perdemos a metade, mas superamos tudo”, recorda emocionada, dizendo mais: “Adalberto viveu por mim e pelos filhos. Fazia tudo para nós. Não me deixou trabalhar, era concursada e tinha dois cargos, mas tive que parar. Também um ano depois de casados nasceram os primogênitos gêmeos...”.
Na sua luta diária, comercializando gado, foi incansável. Daí fez a vida, criando e educando todos os filhos. Dono de uma bondade que lhe vinha do coração praticava uma caridade silenciosa, ajudando algumas entidades, sem nunca entretanto participar como voluntário ocupando cargo ou função. “Ele ajudava muito a quem precisava e eu vou continuar ajudando”, revela e finaliza:
“Fica um vazio muito grande... Tristeza, não, saudade, sim, mas que vou preencher com a lembranças maravilhosa da vida que vivemos. E agradeço a Deus e a Nossa Senhora que foi minha companheira, passou à frente de todos os meus problemas. Entreguei-lhes o Adalberto, nos últimos momentos de sua vida. Foram 40 anos sem praticar religião, até que, um dia, ele pediu a presença de um sacerdote, confessou e passou a comungar com frequência. Foi uma grande graça que recebemos”.
Do Peão Boiadeiro ao Catireiro
O filho primogênito, Adalberto (Coelho), gêmeo com Alberto, foi o herdeiro da vida boiadeira do pai. E faz questão de lembrar do Catireiro, apelido que o pai ganhara ainda jovem, pelas andanças realizadas pelo município e região a fora comprando e vendendo gado.
“O pai tinha muito tino pros negócios. Começou como açougueiro com a família, depois foi mascatear tourinhos. Comprava os tourinhos Gir aqui e saia em viagem, passando por Tapira, Palmeiras, Araxá e ia trocando esses tourinhos por marrucos (bois reprodutores) e vacas. E na época não existia caminhão, era tudo tangido (tocado) a cavalo através dos corredores, estradões próprios por onde o gado viajava”, conta, lembrando um fato peculiar:
“O pai sempre tinha um ajudante de confiança, um deles foi o Walminor, um peão com quem firmou uma inesquecível amizade. Ainda hoje, diariamente, Walminor passa em casa para pegar um dinheirinho deixado pelo pai”, recorda mais, prosseguindo.
“Nessa lida foram dezenas de anos. Os dois saiam de Sacramento com 20 tourinhos e traziam 200 cabeças de gado, tudo tocado. Peão de boiadeiro, enfrentou durante alguns anos longas jornadas tangindo boiada até Barretos. Mas o seu forte foi mesmo a catira, por isso o apelido, Catireiro. Ele tinha um princípio, citado numa frase que sempre recordava com a gente: 'Gado meu não pode aprender aguada'. E assim fez a vida, com muito orgulho do trabalho que fazia, mas sobretudo, com muita integridade. Assim foi construindo a vida e adquirindo pedaços de terra até formar uma boa fazenda”.
Emocionado, diz ainda o filho que herdou do pai esse amor pela roça. “O pai nos ensinou a trabalhar na roça, com gado. Encaminhou filho por filho. Quem quis estudar, ele incentivava e bancava. O Briga é médico o Saulo, advogado. E quem quis trabalhar, ele ensinava”, afirma, recordando um fato.
“Eu tinha 11 anos quando ele me mandou a cavalo, sozinho, para a região das Palmeiras comprar gado. Voltei sem comprar nenhuma rês, mas não teve bronca, não. Mas desde menino acompanhei o pai nas viagens catirando gado. Dormíamos na casa dos amigos e com isso ele acumulou dezenas de afilhados. Todo lugar tinha um compadre”, conta, debitando ao pai uma rara inteligência.
“Homem simples, sem grandes estudos, o pai era, entretanto, muito inteligente nos negócios e gostava demais do que fazia. Ainda agora, 15 dias antes de seu estado se agravar, ele foi comprar gado”, diz, com os olhos lacrimejantes, citando que o grande amor de Adalberto em relação aos filhos era com a única irmã da prole.
“Nossa irmã Suzane era a sua princesa preferida. Era a joia rara do pai. Só ela de filha, ela era a princesa do lar. Enfim, o pai tinha um amor imenso pela família”, finaliza, afirmando, emocionado: “Devo tudo a ele, assim como ele, o que sei aprendi com a vida. Com as andanças ao seu lado. Na sua integridade, aprendi também a fazer assim meus negócios. O pai era muito honesto, um homem íntegro demais. Foi um homem que nunca deixou um cobrador bater na nossa porta. Não deixou uma dívida sequer, morreu na maior paz, na maior tranquilidade. O pai tinha uma frase muito bonita: 'Conversa de homem não faz curva', daí sua integridade. Ele foi um grande homem, venceu na vida nos deixando esse nome imenso...”.