Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Uma geração com herança do Congado e do Moçambique

Edição nº 1541 - 21 de Outubro de 2016

A família Ferreira, descendentes do congadeiro Bigico, há mais de 20 anos, mantém a tradição de receber em casa ternos de Congado e Moçambique para o almoço no dia da festa, mesmo depois da instituição do Encontro Regional há 14 anos.  E a família tem motivos de sobras para manter viva a história, pois pertence às duas linhagens: Congadeiros e Moçambiqueiros. Eles são netos, bisnetos, tetranetos do General  José Santana, provavelmente um dos pioneiros do Congado na cidade, e de Benedito Grilo,  capitão de Moçambique na mesma época.
Quem conta parte dessa história é Irene Antônia Ferreira, filha de Bigico, portanto neta de José Santana e de Benedito Grilo.
“- Vovô Zé Santana era general do Congo – não sei quantos anos teria, mas com certeza muito mais de 100, porque, só para terem uma ideia, papai (Bigico) nasceu em 1918, estaria então com 98 anos. Além  do papai, vovó Zé teve os filhos Eurico (pai da Cléria do Filó, a neta mais velha), Iracema, Iracy,  Tutinho e Marlene. E no Congado havia outros integrantes, quase todos da família: o tio  Adolfo,  irmão do vô Santana, casado com a tia Maria, filha do vovô Benedito Grilo, que era capitão do Moçambique.   Faziam parte também os outros parentes,  tio Temístocles,  cunhado do Vô Santana; o tio Venerando;  o Galdino, irmão do Buta  e muitos outros”,  explica e completa:  “Vô Santana era general, aquele que canta,  dança e faz as músicas, muitas cantadas até hoje. Então, temos ou não temos razão para celebrar?”, pergunta, eufórica.
De acordo com Irene, as mulheres da família eram todas 'juízas'. “Mas havia outras mulheres, por exemplo, a vó Tonha.  Tio Temístocles que era o  capitão junto com Vô Santana,  era ele quem chamava as juízas pra entregarem  os donativos para a igreja. Ele batia o cajado no chão e cantava chamando pelo nome a juíza para fazer a entrega”, lembra.
 Irene revela ainda que, conforme relatos do pai,  na cidade havia dois ternos de Congo: o do Zé Santana e o dos Inácios.  “O Terno dos Inácios não é o do rei Divino e da rainha  Vó Tonha.  O terno deles veio bem depois. Papai contava, e vó Tonha também dizia, que ela  pertencia ao terno do Vô Santana e ele,  dançador do Terno dos Inácios, comandado pelo capitão  José  Inácio, parente da Tionila.
Conta mais Irene que faziam parte do Terno dos Inácios, o José Eusébio; a família do Irineu, que era o pai do Armandino  e do Nicanor; o Waltercides, pai da Rita e da Idalides e outras pessoas que geralmente fazem parte do grupo e a gente nem sabe os nomes. E, papai contava também que  havia dois ternos de Moçambique em Sacramento, o do vovô Benedito Grilo e o do tio Joaquinzinho, que era o marido da tia Joana”.
  Irene recorda ainda que por muitos anos os ternos foram impedidos de entrar na igreja. “Os mais velhos contam que o padre da épova, (Monsenhor Fleury) proibiu e depois de quase 30 anos é que voltou, em 1977, quando José Alberto era prefeito, graças a um trabalho do Amir Salomão, que foi falar com o bispo (Dom José Pedro de Araújo Costa - 1968-1978), que atendendo ao nosso pedido, permitiu que novamente os negros tivessem sua festa do Congado.  Aí reiniciaram a festa e papai sempre era festeiro. Com a morte dele assumimos o compromisso de manter a tradição do almoço. Participamos dos festejos todos, mas  seja onde for a festa, o almoço oferecido pela nossa  família para alguns ternos convidados. Devemos isso aos nossos antepassados”, reconhece.