Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Profa. Sandra Maria Almeida: A Esperança sempre foi uma constante em minha vida

Edição nº 1531 - 19 de Agosto de 2016

A  professora e oblata redentorista, Sandra Maria Almeida, construiu uma bonita história na cidade que adotou desde cedo como sua terra natal. E é, principalmente pelo carinho e hospitalidade de sua gente para com ela. Carinhosamente, Sandra recebeu o ET para uma entrevista, onde lembrou um pouco de sua infância, os estudos no Grupão Afonso Pena, na Escola Coronel, onde se aposentou como Secretária. O Seminário do Santíssimo Redentor foi outro local de trabalho que ocupa um espaço especial no seu coração. Tudo isso está no texto abaixo. 

 

ET – A gente sempre começa mostrando infância de nossos entrevistados. Onde nasceu, os pais, os irmãos, a vida de moleca...
Sandra –
Primeiramente agradeço ao “O ESTADO DO TRIÂNGULO” pela deferência em solicitar-me a presente entrevista, contando um pouco da minha vida simples, porém bem vivida. Nasci na cidade de Perdizes-MG onde residiam meus pais, Aurélio Tupinambá de Almeida e Márcia da Conceição Almeida. Tenho os irmãos queridos, Teresinha Lucilia e Marcos Aurélio. Um pensamento muito lindo publicado pela autora Taylor Caldwell em seu livro, “Médicos de Homens e de Almas”, sintetiza o meu viver e o dos meus irmãos. Ele diz assim: “Seguramente, Deus escolhe seus servos ao nascerem, ou talvez antes mesmo do nascimento”.

ET – Onde entra a 'mãe' Zizi nessa história?
Sandra –
Bem cedo. Minha vida iniciou-se marcada pela dor e a tragédia: aos três meses de idade minha mãe, Márcia, faleceu repentinamente, com apenas 38 anos de idade... Ficamos à deriva os três irmãos com 6 , 3  e 3 meses de idade... Meu avô, Jovino Brigagão, apesar de ter uma família grande, assumiu a Teresinha, e minha tia Zizi adotou-me como sua filha queridíssima e viemos morar em Sacramento. O Marcos ficou para trás, para que fosse ainda mais provado pela dor.

ET – E seu pai, Aurélio?
Sandra -
Num breve lapso de tempo meu pai constituiu nova família e ficamos inteiramente confiados aos nossos familiares queridos, avós e tios. Com muito sacrifício, duras batalhas, sem a ajuda do pai, minha querida mãe Zizi foi moldando-me e ensinando-me valores que pratico até hoje e lhe serei eternamente grata. As figuras paternas que  tive foram do meu avô Jovino e do meu tio amado, Eurípedes Brigagão, docemente chamado de tio Ipe. Assim, não tive muita folga para ser uma “moleca”. Meus únicos amigos eram o Douglas e o Márcio Brigagão, pois mamãe imbui-se do papel de pai e mãe e sua responsabilidade era imensa.

ET – Como aconteceu essa mistura de Almeida e Brigagão?
Sandra –
Minha mãe era Brigagão e meu pai era da família Tupinambá Cordeiro e Almeida. Daí a mistura.

ET – O Jovino Vieira Brigagão veio de onde? Queria saber se ele foi tabelião de cartório lá no Desemboque... Sabe situar essas origens?
Sandra –
Nossa família é uma família de cartorários: Jovino, Eurípedes, Zizi, Douglas, Ivana e o Francisco Caldeira que também é serventuário da Justiça. O Cartório na época funcionava em casa e assim recebemos uma grande influência. Não me lembro muito bem dessa parte sobre o Desemboque ...

ET – Fale sobre os primeiros anos escolares no Grupo Escolar Dr. Afonso Pena Jr, primeiras professoras, colegas... Falando em colegas, foi aí que conheceu Pe. Luiz Carlos, uma amizade que permaneceu para sempre?
Sandra
– Iniciei meus estudos na Escola Dr. Afonso Pena Jr. com a D. Jandira Cordeiro, depois D. Zélia Amaral, D. Celina e a grande mestra, Da. Marlene Natal Almeida, a quem muito prezo e admiro. Não fiz muitos amigos no primário, era muito fechada e desconfiada... O Pe. Luiz eu o conheci depois de ter trabalhado quatro anos em Conquista, quando a Da. Aracy convidou-me para trabalhar na secretaria da Escola Coronel, juntamente com a Marly Batista, irmã dele. Foi nessa época também que iniciei minha maravilhosa amizade com a família Batista a quem muito amo e devo.

ET – Aí veio o Admissão ao Ginásio e o curso Ginasial, já no Ginásio da Escola Normal de Sacramento, hoje Escola Coronel. Outros colegas, a Da. Aracy como diretora, os professores novos... Como foi?
Sandra –
Então, do Afonso Pena fui para a Escola Coronel José Afonso e melhorei um pouquinho... Conheci a Lúcia Jerônimo e nossa amizade se fez perene. Da. Aracy foi o meu anjo de guarda e da minha mãe. Sempre conseguia uma bolsa de estudos para mim, aliviando assim os nossos gastos. Jamais a esqueço.

ET – E chega o 'inesquecível' curso Normal? Estou adjetivando, mas pra você, foi também 'inesquecível'?
Sandra –
Foi mesmo inesquecível. Já estava mais velha e um pouco mais preparada. Comecei ali a “descobrir a América”. Grandes ensinamentos até então desconhecidos para mim, sapientes mestres como Da. Corália, Da. Salete, Pe. Arthur e tantos outros, colegas de outras classes sociais, nova vida... Tudo era novo e maravilhoso! Começava a preparar-me para voar. Foi lindo!

ET – Logo depois do Magistério, você continuou os estudos ou foi trabalhar'?
Sandra –
Depois de formada  fui trabalhar  na cidade de Conquista, porque aqui não havia vagas. Fiquei lá quatro anos, tendo a Dra. Ivone como minha diretora, até que vim para Sacramento trabalhar na secretaria da Escola Coronel, onde fiquei por 26 anos.

ET – Falando em trabalho e história... você fez história no Seminário do Santíssimo Redentor e na EE Cel. José Afonso de Almeida. Não vou perguntar de onde você gostava mais. Fale um pouquinho de cada local: Onde começou primeiro?
Sandra –
Não tenha dúvida, querido Walmor, o amor foi igual, porém um ensinou-me o lado profissional, a ética, o zelo com os bens do outro e o cumprimento da obrigação. Minhas amizades de “séculos” se concretizaram na Escola Coronel. Fiquei ali 26 anos. No Seminário e na Congregação Redentorista tive a oportunidade de plasmar o meu lado espiritual. Descobri ou redescobri as maravilhas das coisas divinas através do exemplo, desprendimento e fé dos meus superiores, seminaristas e funcionários. Coloquei-me inteiramente ao dispor da causa de Santo Afonso e lentamente fui vislumbrando um horizonte sem limites.

ET – Eu me lembro muito bem, como você era considerada ali dentro, foi muito mais do que uma funcionária...
Sandra -
Digo com orgulho que embora silente pude ajudar na formação de muitos seminaristas, hoje padres famosos. No Seminário fiquei 23 anos e tornei-me membro da Congregação recebendo o titulo de oblata redentorista por indicação de D. Majella, Pe Alberto e Pe. Luiz Carlos, juntamente com você, Walmor, Maria do Carmo, Seu Pedro, Sr. Rodolfo, Da. Celia e Da. Carmelita.

ET – Depois veio uma fase concomitante... Saía da escola e descia para o Seminário. Viu passar ali grandes sacerdotes, como reitores, superiores da casa, missionários, vigários... O que mais te marcou no Seminário?
Sandra –
Eu cumpria o meu trabalho na Escola e meus pacientes patrões mandavam buscar-me de carro para trabalhar no Seminário. Ali eu fazia um pouquinho de tudo... Era secretária, mãe, amiga, confessionário, governanta, “companheira de copo e de cruz”, kkk. Conheci pessoas fantásticas! Tive vários “patrões”, cada um com suas características, mas todos ainda hoje me consideram e me amam muito. Com certeza, o que mais me marcou na vivência no Seminário foi a fraternidade e o desapego dos padres, irmãos e seminaristas. Ensinaram-me muito!

ET – Por tudo isso foi, o que chamo de 'consagrada' com o título de Oblata Redentorista, pelo trabalho maravilhoso realizado ali...
Sandra –
O título de oblato redentorista é constante na Constituição da Congregação. È um diploma, assinado pelo Superior Geral dos Redentorista, em Roma, e por seu Secretário, através do qual, quem o recebe, passa a pertencer à Congregação e, através dessa pertença, passa a participar dos seus bens espirituais. Equivale a um título de cidadão, mas com muito mais significado, com muito mais responsabilidade. Quem recebe esse título são leigos que, através de uma longa convivência com a comunidade, assumem sua espiritualidade, seus trabalhos, participando, fielmente, de suas alegrias e tristezas, de suas vitórias e fracassos.

ET – E a Escola Coronel, foi outra convivência também maravilhosa, não? Tantos professores que se tornaram depois amigos queridos... Mesmo trabalhando como Secretária, você guarda recordações do fervilhar dos estudantes nas salas, nos pátios, projetos, nas ruas, na cidade, daquele convívio dignificante?
Sandra –
A escola Coronel foi a minha faculdade. Em todos os sentidos... Não estudei além do Magistério, mas o que aprendi ali, ninguém teria cabedal para ensinar-me. Não só no que se refere à profissionalização, mas também a questão humanitária, pessoal, afetiva e de grandes valores. Fui imensamente feliz ali e tudo que sei veio de lá.

ET – Prá finalizar, os 70 anos, muito bem vividos...
Sandra -
No último dia 16 completei 70 anos... Graças a Deus, muito bem! Ainda trabalho, tenho saúde, amo o lazer e minha 'skolzinha'. Não me arrependo de nada e só tenho a agradecer. No meu caminho cruzei com uma infinidade de pessoas que me ajudaram a caminhar de cabeça erguida, coração repleto de agradecimentos e reconhecimentos. Assim, na oportunidade deixo a minha mensagem:

Sem você eu não teria conseguido chegar até aqui !...
Entregando-me inteiramente nas mãos de Deus e confiante em sua misericórdia, faço a minha travessia com o apoio dos que foram colocados lado a lado comigo para sermos companheiros de caminhada e irmãos de fé. A esperança sempre foi uma constante em minha vida. Jamais a perdi de vista!  E foi assim...  Cheguei aos 70 cheia de esperança, de fé e saúde. Às vezes brigando com a vida, mas, na maioria das vezes, bendizendo-a e nunca me esquecendo de que estou de passagem por aqui e por isso devo ser presença de amor e de alegria. Sou imensamente grata a todos que  ajudaram a escrever a minha história. Deus lhe  pague por tudo!