Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Getúlio morre aos 73 anos

Edição nº 1511 - 1 de Abril de 2016

O construtor aposentado e ex-presidente do Clube Atlético Sacramentano, Getúlio Jesus Borges 73  morreu às 15h20, na Santa Casa de Sacramento, no último dia 8, depois de permanecer internado por uma semana para tratamento de uma anemia crônica. De acordo com a enteada, Kátia Naiara, que revezava com a mãe, Clarice Melo, nos cuidados com Getúlio, ele morreu serenamente, invocando Nossa Senhora Aparecida.
“- Há 11 anos, ela havia colocado uma válvula no coração que precisa ser trocada. Preparava-se para fazer a cirurgia, quando sofreu um AVC, mas se recuperou bem, sem nenhuma sequela na fala e nos movimentos do corpo, surpreendendo a fisioterapeuta. Era muito otimista e tinha uma força de vontade muito grande. De repente, a saúde dele começou a ficar comprometida por conta de uma anemia crônica, que o levou de volta ao hospital, o coração ficou muito inchado e ele veio a óbito”, relata Kátia que teve uma convivência maravilhosa com o padrasto. “Para mim, foi sempre um grande pai”, reconhece, emocionada.

 

Pessoa maravilhosa

Getúlio foi um dos grandes construtores da cidade. Teria se tornado um engenheiro não tivesse abandonado os estudos, depois de ter sido acusado injustamente por uma indisciplina. O adolescente, muito humilde e de uma simplicidade evangélica, sentiu-se hostilizado e abandonou a escola. Mas não o gosto pelo saber. O excelente aluno debruçou-se sobre os livros e se formou em uma bela instituição, a Universidade da Vida.
Tornou-se um grande profissional da construção civil, um cidadão respeitabilíssimo e amante do futebol local, o que o levou à presidência do Clube Atlético Sacramentano (CAS) por alguns mandados, revelando-se um dos maiores diretores que o clube já teve, conforme reconhecia outro grande amigo, o ex-presidente Deda Faria. Getúlio deu a vida pelo CAS. Ali aplicava o seu trabalho como pedreiro e construtor e até seu próprio dinheiro, na transformação do estádio.
 Pessoa simples, tímida, de uma humildade e educação ímpares, com  uma história de vida maravilhosa. Quem pode confirmar isso é Kátia Nayara e a mãe Clarice. “Minha convivência com Getúlio vem de longa data, ainda adolescente. Mamãe e Getúlio são casados há 20 anos, mas só vim morar com eles já mocinha. Foram 14 anos de exemplos, sabedoria e bondade. Ele nunca opinou na vida dos filhos da mamãe. No começo, a gente não entendia, mas respeitávamos. Com a convivência passamos a amá-lo. E a  convivência com ele, pra mim,  foi de muito crescimento espiritual e pessoal. A formação e inteligência deles eram muito diferentes. Ele se destacava. Como ele sabia das coisas! Sabia de tudo e, muitas vezes, ao invés de ir ao Google eu ia nele”, conta Kátia, com um tímido sorriso. 
Destaca Kátia uma peculiaridade de Getúlio que chamava a atenção da família. “A sua simplicidade, ele ficava sempre no seu canto, quietinho, calado. Não saía de casa, do trabalho para a casa, sempre ali, sem nunca perder o hábito da leitura. Ele lia tudo... E como ele tinha conhecimento!  A gente, às vezes,  passava as tardes conversando, mas ele nunca puxava assunto. Nunca intrometia na conversa. Vinham pessoas aqui e  quando puxavam  conversa,  a gente percebia que era disso que ele gostava. Uma humildade incrível. E tive a graça de ajudar a cuidar dele, depois até de uma certa resistência”, diz mais, recordando um fato.
“Ele sofreu o AVC justamente no dia do meu aniversário, 27/10/2014. Tudo preparado, porque aquele era meu dia... E como minha mãe não pôde acompanhá-lo até Uberaba, para onde foi transferido, eu o acompanhei, mas contrariada, murmurando, porque aquele era meu dia. Olha como fui ingrata”, reconhece, arrependida, contando outro fato interessante.
“- Eu trabalhava na Paróquia Na. Sra. da Abadia, quando chegou ao escritório a Maria do Carmo Aguiar. Sempre na maior alegria, contagiando a todos. Me viu meio triste e me passou uma oração, que nunca mais esqueci: 'Senhor, governa meu pensar, governa meu falar, governa meu sentir e governa meu agir. Que eu gaste minha vida com as pessoas que precisam dela'.  No dia que me lembrei dessa oração, cuidando de Getúlio, tudo mudou. Chorei, pedi perdão a minha mãe e passei a ajudar mamãe a cuidar dele com muito mais carinho. Nós nos revezávamos para ficar com ele no hospital”, conta, emocionada.
Kátia destaca ainda a devoção de Getúlio por Nossa Senhora Aparecida. “Ele chamava muito por ela. Às vezes, deixava de chamar minha mãe para chamar Nossa Senhora. E ele falava com os olhos cheios de lágrimas: 'Ela e eu temos uma convivência muito de perto', me dizia. E a gente percebia isso nele. Ele dizia ter visões dela e ficávamos  muito emocionados”.
De acordo com Kátia, um dia antes de sua morte, Getúlio aparentava estar muito bem, mas de repente seu quadro se agravou.  “O médico havia falado em alta nos próximos dias, só que à noite ela passou muito mal.  Estava muito fraquinho, com o olhar fixo e chamava por Na. Sra. Aparecida. Erguia as mãos, a gente rezava com ele, e ele foi se acabando como um anjo, morreu nos braços de Nossa Senhora. Foi uma lição de vida e tenho orgulho ao falar dele. Getúlio engrandeceu nossas vidas”, reconhece.
Para Clarice, a companheira de 20 anos de convivência, Getúlio representou bondade, segurança, companheirismo e muito amor. “Getúlio, como toda cidade o conheceu,  era um homem tímido, simples, mas de um coração imenso. O jeito dele me cativou e fomos felizes por 20 anos.  Ele foi um pai de verdade para meus filhos, um amparo para mim e acredito que fui para ele também, nos momentos felizes e agora na sua doença, até o fim. E agradeço a Deus por essa convivência maravilhosa que Ele nos concedeu”, diz emocionada.
Getúlio Jesus Borges foi enterrado na tarde do dia seguinte, depois de receber homenagens do clube que tanto ajudou. O atual diretor esportivo, Fabiano Rezende Rodrigues, acompanhado por  outros diretores, colocou a bandeira do clube sobre o seu féretro, como reconhecimento do grande trabalho realizado por Getúlio em favor do CAS.  Após as exéquias, foi sepultado no Cemitério São Francisco de Assis.