Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Os belos 90 anos de Dona Blandina

Edição nº 1496 - 18 Dezembro 2015

Blandina Maria Alves Ribeiro completou dia 14 último, segunda-feira, 90  anos de uma vida rica e profícua como esposa, mãe, avó, bisavó e tataravó. Somem-se aos predicados o seu desprendimento para os trabalhos religiosos e sociais, como Legionária de Maria e Vicentina.  No domingo 13, na missa de abertura da Porta Santa e do Ano da Misericórdia, Blandina viveu também grandes emoções na celebração eucarística em ação de graças pela sua história de vida, presidida pelo pároco, Pe. Sérgio Márcio de Oliveira. Na mesma tarde, no Pacheco's Buffet, festejou a grande data na maior alegria com os filhos, genros, noras, netos, sobrinhos e demais familiares, em um saborosíssimo almoço. As 200 pessoas que prestigiaram a festividade participaram também de momentos emocionantes pelas homenagens, discursos e vídeos com recordações caríssimas de passagens de sua vida ao lado do esposo, Theodorico Ribeiro da Silva, o grande Pinante. Na estatura e na honradez de esposo e pai.   Dona Blandina, agradecida pela vida que Deus lhe deu, era a mais pura alegria e emoção. E dominou a festa com uma simpatia ímpar, com direito a ser entronizada nos braços dos animados netos e ser cortejada com vivas e aplausos pelo salão a fora,  enquanto os presentes entoavam o 'parabéns pra você'

Para o primogênito de oito filhos, que Blandina e Pinante tiveram, o empresário Aglemon da Silva Ribeiro, visivelmente emocionado, falou ao ET. “Blandina merece tudo!” E completa: “Graças a Deus, chegou o dia que tanto esperávamos para fazer essa comemoração, porque mamãe merece este encontro com os oito filhos, genros noras, netos, bisnetos e trinetos. Como ela merece isso!”
Prossegue, Aglemon, recordando os ensinamentos da mãe e agradecendo. “Por toda a lição de vida que nos deu, ela merece muito mais do que esta festa. Por nos ter criado num berço saudável, com tanta religiosidade, com tantas lições de respeito ao ser humano, algo que falta hoje no mundo”. 
Lembra o filho que sua mãe é uma autodidata, que continua lendo muito. “Mamãe foi e é exemplo, e continua nos dando lições todos os dias. A mais recente delas foi uma cobrança que fiz: 'Mamãe, a senhora lê tanto e continua falando nóis é, nóis foi...' E ela, de pronto, respondeu: 'Para servir, tenho que falar a linguagem do povo'. Aí, responder o quê? Essa é a dona Blandina, nossa mãe”.
Blandina: uma mulher além de seu tempo
A nonagenária Blandina, é o que podemos dizer, um exemplo de mulher, daquelas que sempre esteve além de seu tempo. E deu mostras disso no início de uma entrevista sobre seus 90 anos. Ao ser questionada 'cadê os cabelos brancos?', a resposta veio na hora, com uma boa gargalhada. “Hoje há recurso  pra tudo. E temos que usufruir o que a vida nos oferece”.
 Nascida na fazenda Santa Bárbara em 14/12/1925, a única filha viva do casal Generoso Alves de Matos e Maria Evangelista da Jesus, Blandina cresceu ao lado dos seis irmãos: João, Argemiro, Sebastiana, Dorvalina, Geralda e Hilda. “Mamãe faleceu eu estava com cinco anos e fomos criados pelo papai e minha avó, Maria da Conceição. Papai foi mãe pai, mas como morávamos todos perto, eles se ajudavam na nossa criação'.
Os estudos foram na escolinha da Fazenda, mais continua estudando até hoje. “Naquele tempo só tinha até o quarto ano, mas eu gostava tanto, tanto de escola que continuei freqüentando as aulas, mesmo depois de terminar o primário e continuo estudando até hoje. Já li mais de 300 livros de psicologia, parapsicologia, filosofia, religiosos”.
Já mocinha se mudou para o Quenta Sol, onde trabalhou na casa e na loja da Odília, do Neca Santana. Em 1945, casou-se com Theodorico Ribeiro da Silva (Pinante), de saudosa memória, falecido em 2002. “Eles tinham fazenda nos Barcelos, próximo à Santa Bárbara e o conheci na loja. Aquele rapaz alto, garboso, mas ele se apaixonou primeiro (risos). Eu, baixinha, embora tivesse birra de rapaz baixinho, não me via com homenzarrão daquele tamanho. Mas pior era com os baixinhos, eu me imaginava no altar pra casar, parecendo um parzinho de jarros. Não. Eu preferia olhar pra cima”, conta, entre muitos risos dos repórteres.
Continua narrando sua história de vida, lembrando que, depois de um namoro de três anos, em 1945, levou o homenzarrão até o altar da Matriz de Na. Sra. do Patrocínio do Santíssimo Sacramento para selar juras eternas.
“- Namoramos três anos e nos casamos, em 1945. Lembro como se fosse hoje, ficamos todos na Pensão Terra, ali na praça da Matriz. O Cônego Julião Nunes (vigário entre 1914 a 1947) fez o nosso casamento e, logo em seguida, fomos pra fazenda do meu sogro, onde moramos dois anos. Depois, mudamos para o Quenta Sol, onde o Pinante abriu uma sapataria. Eu tomava conta da loja e ele da roça. Aí ele decidiu comprar um caminhão e, logo depois, como os meninos precisavam estudar, nos mudamos para a cidade, fixando residência numa chácara, no final da rua Antônio Carlos”.
Durante muitos anos, a família residiu na chácara, onde montaram uma mercearia, até que, com a expansão da cidade, resolveram lotear a chácara que se transformou no Alto Boa Vista. “Depois de muitos anos, devido à saúde debilitada de Pinante, nos mudamos para a chácara de nosso filho Aglemon, onde permanecemos até o agravamento de sua doença, quando retornamos para a cidade, já residindo aqui no centro, onde estou até hoje”, recorda Blandina.
Da feliz união de 57 anos com Pinante, nasceram-lhes oito filhos: Aglemon (Dulcínia), Aglecy, Alonso (Auxiliadora), Ivo (Suely), Nancy (Vilmar), Renato (Gisele), Nely (Cacildo, de saudosa memória), Renan (Sheila) e, Sebastiana, filha do Coração (Manuel), que lhe deram 40 netos, 15 bisnetos e uma tataraneta.
Ao longo de sua vida, Blandina destacou-se na Legião de  Maria, da qual faz parte há 52 anos,  e como vicentina, fazendo parte da irmandade há 40 anos. E foi como vicentina que nasceu na cidade uma grande obra: o Cerea, instituição liderada por ela e pelas companheiras, Laércia e Julia, de saudosas memórias. Pelos relevantes serviços prestados à comunidade, as vicentinas receberam, em 1979, do jornal O Estado do Triângulo, o título de 'Personalidades do Ano'.
Com tão longa vida e histórias, valem para a vida de Blandina, as palavras de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.
Parabéns, Dona Blandina! E que venham os 91, 92... 100 anos!