O corretor de imóveis, Roberto Carlos Leal Rodrigues 48 morreu na noite da sexta-feira 11 vítima de acidente na MG-428 (Sacramento/Franca), após o veículo VW/ Quantum CL 1800, desabar numa ribanceira e capotar várias vezes. Roberto foi socorrido ainda com vida, mas veio a óbito antes de chegar à Santa Casa. Sua esposa, Marly Pires, e um casal de amigos Anderlúcio Alves e Kênia tiveram ferimentos leves. Encaminhado para o IML de Araxá, o corpo de Roberto chegou a Sacramento por volta das 5h00 e foi velado por um grande número de amigos e conhecidos e sepultado às 15 h, do sábado, dia 12. Roberto deixa a esposa Marly e quatro filhos, Jéssica, Jecyara, Joander e Joisney e dois netinhos. E deixa, sobretudo, uma grande saudade nos corações dos irmãos, sobrinhos e amigos.
Esposa revela: foi tudo muito rápido
Tão logo aconteceu o acidente, as notícias ganharam as redes sociais, muitas delas desencontradas, como a notícia afirmando que Roberto teria passado mal, citando até que teria sido vítima de um infarto ou AVC, o que foi desmentido pela família. Na versão dos familiares ele chegou a parar o carro, porém, o barranco quebrou e o carro desceu capotando ribanceira abaixo.
“- Roberto foi arremessado para fora do carro, quando rolou pela ribanceira, bateu numa árvore, que foi quebrada com o impacto, atingindo suas pernas. Como nós, ele também estava usando o cinto de segurança, que se soltou ou arrebentou, e ele voou para fora. Nós ficamos no carro”, conta ainda emocionada, lembrando que o marido chegou a parar o carro. “Ele chegou a parar o carro no acostamento, mas o barranco quebrou e o carro desceu, capotando ribanceira abaixo”.
Roberto, a esposa Marly e o casal de amigos seguiam para um rancho próximo a Ibiraci. De acordo com Marly, eles saíram de Sacramento, por volta das 18h15 ou pouco mais. “Íamos conversando, o Anderlúcio na frente e nos duas atrás. Roberto ia cantando, como sempre fazia, de repente ele fez um, 'ai ai ai'. Mas não foi um 'ai ai ai' de dor, não. Se fosse dor, ele mandaria o outro pegar o volante. Ele era diabético e quando sentia alguma coisa, se curvava sobre o volante e avisava: 'Nega, pega aqui'. São 32 anos de casados, eu sei como ele ficava quando sentia dor e tenho certeza de que não foi de dor o 'ai' dele, foi como se estivesse cantando... Só que foi muito rápido, ele foi para o acostamento, o barranco quebrou e o carro desceu...”.
Na opinião de amigos, Roberto, como motorista experiente que era, deve ter percebido algum problema no carro, que passou despercebido dos demais, por isso deve ter dito 'ai, ai, ai'. Mas só uma perícia poderá comprovar...
Veículo que ultrapassou, voltou ao perder a visão do farol do carro de Roberto
De acordo com Marly, logo atrás deles trafegava um veículo que os ultrapassou. “Quando ele nos ultrapassou, o Roberto ainda brincou: 'Pode passar, não estou com pressa, não'. Só que assim que nosso carro caiu, esse veículo voltou, porque percebeu que o farol de nosso carro, iluminando sua traseira, desapareceu de repente. Nós havíamos saído do carro e o Roberto pedia para levantarmos o tronco da árvore de cima das pernas dele, pra ele poder se levantar. Logo, parou também um caminhão e outros veículos e todos, solidários, prestando socorro”, conta.
Recorda mais Marly que o marido estava consciente e falava o tempo todo. “Quando as ambulâncias de Rifaina e Sacramento chegaram, eu estava subindo o barranco e ainda ouvia a voz dele orientando o pessoal pra tirá-lo de lá... E pelo que disseram, ele foi retirado com vida, mas já chegou na Santa Casa morto.
Segundo Matheus Bizinotto, um dos que pararam para ajudar, foi muito difícil a retirada de Roberto, do fundo do desbarrancado até a pista. “Muito pesado, o corpo escorregava na maca de tecnil. Tivemos que amarrá-lo com lenções e cintos. Nessa operação de resgate, ele gemia muito, queixando-se de dor, até que, mais ou menos no meio da ribanceira, ele parou de falar. Já na pista, vimos que perdia a consciência, uma enfermeira no local tentou reanimá-lo, mas sem resultado. Acho que ele faleceu ainda durante o resgate”, conta, lamentando a perda do amigo.
Na Santa Casa, quando Roberto deu entrada, a esposa Marly já estava sendo atendida. “Eu não vi quando ele chegou, mas estava numa sala, quando comecei a ouvir muito choro... Aí a gente se dá conta do que aconteceu, porque lá eu vi que ele estava muito machucado...”, relata, emocionada, ao lado da cunhada Tânia, e do sogro Valdomiro Leal Rodrigues, que lamentaram tão prematura morte, tão próxima à morte da irmã Roseli há um ano e quatro meses.
Fica a saudade...
Roberto era uma pessoa que conquistava pela simpatia. Adorava festas, era amante da diversão, do carnaval e sempre estava colaborando com a comissão organizadora dos desfiles na avenida. “Com chuva ou não ele estava sempre ajudando o carnaval, aguardava com ansiedade a chegada dos ensaios e dos desfiles”, recorda o amigo Anderson Macalé, lembrando que por muitos anos, Roberto foi batuqueiro da escola de samba XIII de Maio.
Roberto acompanhou de perto também o nascimento de dois grupos musicais na cidade, do início até meados dos anos 1980, o Ki Samba que depois se, tornou Renova Samba e viu também o fim do grupo. “Ele não tocava nem cantava, era o apoio, sempre presente, incentivando, elogiando, divulgando...”, recorda Macalé.
Outro grande diferencial de Roberto, era sua devoção por Nossa Senhora D´Abadia, recorda também a esposa Marly. “Todo ano ele estava firme, apoiando os romeiros. Era católico, mas não de ir à igreja, mas tinha muita fé, acreditava muito em Deus. E no velório recebeu a despedida dos romeiros”.
No velório, centenas e centenas de pessoas, amigos, conhecidos. Nas redes sociais, mensagens de luto e solidariedade foram inúmeras. E Roberto deixa uma profunda saudade nos corações de todos que o conheciam e que com ele conviviam. Que Deus te cuide, Roberto.
A mão que balança o berço
Você já chorou a morte de alguém? Quando o meu pai morreu, não. Não senti esta sensação. Mas este fim de semana, sim. A gente aprende nesta nossa sociedade judaico-cristã que a morte passa a ser o cabedal de nossos pecados, mas quando ela chega, há uma ruptura em nossa estrutura interior e precisamos nos esforçar para que a cada lembrança não nos emocionemos e façamos com que aquele elefante com pés de barro tombe. E estamos novamente juntando os nossos cacos... nossos valores a cada dia mais deixados de lado neste mundo internetizado.
Nosso amigo Sapatão se foi! Ele era a mão que balançava nosso berço, nos dias de angústia. Sempre com o dedo em riste para dar bronca, sempre com o braço aberto para abraçar... Aquele abraço de urso que somente ele tinha. Quando ficávamos muito tempo sem nos ver, fazia escândalo, lembrava dos dias difíceis, da infância, dos momentos de alegria e aí era só a mesma a inundar as nossas famílias. Aquela mão grande de karateca balançou o berço de muita gente, o berço dos irmãos, balançara também o berço dos sobrinhos! E balançara também o meu berço, grande e pesado. Quando fiquei convalescente durante vinte dias, ele era a mão que ia ao hospital me embalar. Me ajudava no meu dia a dia de internado, nos exercícios de fisioterapia. Me carregava para caminhar de manhã pelos longos corredores da Santa Casa da Misericórdia. Misericórdia, palavra que talvez defina aquele homem corpulento de alma de criança e coração gentil. Sempre fora o mais forte, o que nos defendia nos dias de briga, na saída da Escola Sinhana Borges, nos finais de campeonato no 13 de Maio. Era mais forte, não porque era um gigante, mas porque era amigo. O amigo que nunca faltou, que sempre valorizava. Quando nos encontrávamos, eu, ele, Macalé, Cebolinha, Roverson e muitos outros que treinavam karate, no Campo de Aviação, lá nos anos 80, como todos os adolescentes da rua dos Inconfidentes ...fazíamos a reverência e falávamos: - Osshinobu! Palavra japonesa, baseada na filosofia Xintoísta que significa! - Esteja em paz!
No cerimonial de abertura da XVIII Campeonato Mineiro de Karate, em Coromandel, hoje, dia 13 de setembro, dia em que digito estas palavras, foi pedido ao público presente um minuto de silêncio. Um minuto para nos lembrarmos daquelas mãos que quebravam tijolos com um só golpe, e que também embalava nossas vidas.
- Osshinobu, Roberto! Osshinobu!
Júlio César Pereira