A vida é breve. Somos um conto ligeiro. Duramos o tempo do sono em noite cansada. Desgastamo-nos feito pano velho. Frágeis, passamos como a flor que floresce pela manhã e murcha à tarde. Nascemos com sede de eternidade, temos, porém, que nos contentar com a existência efêmera, espremida entre duas datas: do nascimento não nos lembramos e da morte não teremos consciência.
Gastamos os nossos primeiros dez anos de vida sem saber ao certo quem somos e de onde viemos; a segunda década sem noção aonde vamos parar com nossa sexualidade, nossa vocação e nossos afetos; entre os vinte e os trinta, mal nos detemos, ávidos por sucesso, riqueza e poder; aos quarenta, encaramos a mais terrível crise – a da meia idade – por notar que os sonhos e ideiais não passavam de devaneios onipotentes; com cinquenta, administramos as consequências das tempestividades e o luto de perder nossos ascendentes; com sessenta, ouvimos o assobio triste da morte à distância; com setenta, ficamos introspectivos, a pensar como tudo passou tão depressa; com oitenta, nos preparamos para a realidade inevitável de que não haverá exceção, nós seguiremos o caminho de todos os mortais. E tudo se passou num piscar de olhos.
Miguel Torga sedimentava para si a límpida realidade da vida, ao grafar em seus diários a expressão do francês Amiel: 'Cada dia, deixamos um pedaço de nós próprios pelo caminho'.
Valorizemos, então, as coisas simples, arriscando mais, sem medo de errar, e aceitando as pessoas sem o rigor de nossas neuroses. E se a existência é fugaz como sonho ou neblina, o tempo de começar a viver de verdade é agora.
Um ano novo de reflexão para você!
Fabiano Leite
Filósofo