Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Fazenda São Vicente sedia encontro de agroecologistas

Edição nº 1387 - 08 Novembro 2013

A Fazenda São Vicente, Núcleo Experimental em Agroecologia e Segurança Alimentar e Nutricional, da engenheira de alimentos, doutora em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável, Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio e do engenheiro agrícola, Fernando Costa Sampaio, esteve movimentada entre os dias 1º a 3 de novembro, para um encontro de agroecologistas e naturalistas do município e de várias outras cidades, como Bauru, Araxá, Uberaba e, ainda dos estados, Rio Grande do Sul e  Santa Catarina, que formam a  Rede Brota Cerrado de Cultura e Agroecologia.

Na pauta do encontro, a realização de uma assembleia geral da Rede, oficinas de manejo e de homeopatia, dentre outros, além do fechamento da documentação que será encaminhada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

De acordo com a Profa. Maria de Fátima, coordenadora da Rede Brota Cerrado, o encontro foi uma preparação para o II Festival da Primavera, que será realizado de 14 a 23 de março de 2014, abordando o tema, 'As 100 Primaveras de Carolina Maria de Jesus'.

A Rede Brota Cerrado nasceu no I Festival da Primavera, realizado em Sacramento, em 2012. Trata-se de um movimento que visa uma relação mais harmoniosa com a terra, reunindo na sua conceituação,  ciência, arte e  espiritualidade. 

“- A Rede já pulsou muitas coisas boas, articulamos grupos de pessoas que queriam participar do movimento e hoje constituímos um grupo que está fazendo valer leis”, diz Fátima, informando que o grupo conseguiu a aprovação da Comissão de Produção Orgânica de Minas Gerais (CPOrg/MG), como uma das 13 organizações participativas de avaliação  de conformidade - OPACs do país. “Agora, a  Rede Brota Cerrado está a caminha para a criação do selo próprio, para buscar a certificação orgânica no Brasil”, completa, mostrando a propriedade aos repórteres.

De acordo com Maria de Fátima, ao ser aprovada pela CPOrg, a Rede é obrigada a encaminhar ao Ministério da Agricultura sua documentação. “Para isso, estamos reunidos – justifica – para realizar uma Assembléia Geral a fim de compor os documentos e discutir o Festival do mês de março. Este é um  momento em que deveríamos estar realizando a segunda edição do festival, mas como estamos num momento importante para o nosso projeto, houvemos por bem  realizar um encontro interno com todos os núcleos para que todos tenham as informações necessários, que estejamos afinados e todos falando a mesma linguagem”.


Minc aprova Festival Primavera da Rede Brota Cerrado

A Rede Brota Cerrado comemorou também no encontro a aprovação do projeto do Festival da Primavera pelo Ministério da Cultura. “O festival é um momento importante para a reflexão coletiva e ali foram pensadas as diretrizes de trabalho da Rede Brota Cerrado de Cultura e Agroecologia. Nesse sentido resolvemos reunir produtores para oficinas, formamos uma equipe e escrevemos o projeto que foi enviado ao  Ministério da Agricultura e ao Ministério da Cultura”, explicou, informando que a aprovação foi confirmada nesse mês de outubro, no Diário Oficial da União.

“- Agora, podemos captar recursos para o Festival através da Lei Rouanet. Como a publicação oficial só saiu em outubro, quando estaríamos realizando o II Festival da Primavera, decidimos, então, realizá-lo em março de 2014, em comemoração aos 100 anos de Carolina Maria de Jesus. Pela Lei Rouanet, sabemos onde vamos buscar recursos para o Festival e teremos condições  de atingir um público bem maior, com mais atividades culturais  e agroecológicas que terão repercussão nacional e internacional”, informou, mostrando aos repórteres, in loco, um fantástico projeto agroecológico que serve de exemplo ao país: Como produzir 1.200 litros de leite por dia em três hectares de terra, sem intervenção agrotóxica.

O projeto da Doutora Fátima Fajardo deveria constar na agenda de experiências bem sucedidas de todas as universidades agrícolas brasileiras e de todas as unidades industriais que trabalham a transformação do leite em produtos alimentícios, mas principalmente, na pauta das secretarias de Agricultura e Pecuária das prefeituras que têm, por dever, ajudar e incrementar investimentos junto às pequenas propriedades rurais, num tempo de avanço da cana e do agronegócio.

Gustavo Henrique Ceccon Grando, engenheiro agrônomo, e Fabíola  Ribeiro Rocha de Almeida, zootecnista, ambos coordenadores da Rede Ecovida de Agroecologia, que atuam nos estados, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e membros da Rede Brota Cerrado, que participaram da primeira edição do Festival, marcaram presença no encontro.

“- Estivemos reunidos com os produtores da rede, organizando a documentação para validar a certificação orgânica  no MAPA e traçar as atividades  no Festival da Primavera. Serão 10 dias de festival com muitas atividades, palestras, oficinas, intervenções”, explica Fabíola, fazendo uma boa avaliação dos três dias de encontro na fazenda São Vicente.

“- Uma participação muito boa, uma troca de experiências muito rica. Um grupo bem consolidado. Lembro que no início era um monte de gente, mas as que ficaram consolidaram, vejo que há uma colaboração muito grande entre os membros, formando uma amizade muito forte. Vejo que esse grupo de Sacramento está no caminho certo, é um trabalho lento, mas que dá excelentes resultados”.

Na opinião de Grando, o que falta para uma maior adesão à Rede é a falta de informação, conscientização e reconhecer que um produto orgânico é bom para o ser humano e para o meio ambiente. “A semente está plantada e agora é dar continuidade, trabalhando, sobretudo, no aspecto da conscientização”, afirma ao lado de Fabíola, ambos debaixo de uma frondosa mangueira repleta de belos frutos. “O sul do Brasil,  por ser uma região fria, não é propícia ao cultivo de mangas. Nunca tínhamos visto tanta manga na vida e como são doces, deliciosas! E o bom é chupar manga embaixo do pé...”, afirmam saboreando os frutos. 

 

O encontro terminou com um luau na fazenda, música e poesia, o lado cultural da Rede Brota Cerrado.

Rumo à certificação do leite orgânico
Na fazenda, Maria de Fátima conta com uma equipe de alto nível, treinada e apta para seguir a prática orgânica. Diariamente, são tirados 1.200 litros de leite em duas ordenhas, com um rebanho de 70 vacas Jersey,  Essa prática, sem defensivos agrícolas nas pastagens, possibilita à fazenda um preço diferenciado de R$ 1,25 o litro, vendidos à Nestlè. “Essa diferença de preço me permite valorizar os funcionários, no salário e nas folgas”, argumenta, contrariando a orientação da Embrapa, que determina um funcionário para cada 500 litros de leite ordenhado. 
A agroecologia vem na contramão do agronegócio, que age, segundo a lei capitalista, do produzir mais com menos. O que se percebe na agroecologia, além da questão ambiental, é a valorização da parte social, cultural e humana, fatores que agregam mais 25% ao preço do leite, e que na fazenda São Vicente são revertidos aos funcionários.
“- Nossos funcionários participaram da assembleia com os membros da rede, dando testemunho de como é o processo na fazenda, a harmonia entre o homem e a terra, porque para produzirmos leite, temos que produzir cana de açúcar, batata doce, uma diversidade de pastagens, tudo orgânico”.  
Maria de Fátima, que recebeu um prêmio da Nestlè por investir em boas práticas na fazenda, explica que faltam três exigências para a fazenda obter a certificação do Ministério da Agricultura. “A principal delas é em relação à ração. Como ainda não é auto-suficiente, a propriedade ainda compra ração, que utiliza soja transgênica na sua composição. Já conseguiram diminuir seu uso em 50% e, com o início da oferta da batata-doce (ramas e raízes) nos próximos meses, conseguirá abolir os transgênicos da propriedade.
Fátima explica que o segundo aspecto é diminuir também o uso de semente convencional do milho usado na alimentação dos animais. “Devemos fazer o  plantio do milho crioulo, que é bem mais robusto e não exige nenhum adubo químico”, explica, justificando a dificuldade de se encontrar a semente disponível no Brasil. “Felizmente, conseguimos uma boa quantidade de sementes e vamos fazer a nossa plantação agora”. 
E, completando, a terceira exigência é o manejo dos animais através da farmácia homeopática, ainda não plenamente sistematizada na propriedade. “Na oficina de hoje desenvolvemos todos os medicamentos de que vamos precisar para o combate aos carrapatos, mosca de chifre, mastite e também, para o solo”, afirma, informando que atendidas essas três últimas exigências, a fazenda ganha a certificação ministerial.
De acordo com Maria de Fátima, hoje, no Brasil, há apenas duas fazendas certificadas para a produção de leite orgânico, que, na fazenda é armazenado num tanque de 4.200 litros  e recolhido pela Nestlè, dia sim, dia não. Mas outro tanque já está no local para ser instalado.