Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Aos 95, morre Eduardo, o pai de 16 filhos

Edição nº 1351 - 01 Março 2013

A cidade se despediu do fazendeiro, Eduardo Cardoso do Prado, 95, dia 19 de fevereiro. Viúvo há quatro anos de Maria Gobbo Prado, devotada esposa de 70 anos de uma convivência repleta de compreensão e amor, juntos criaram  e educaram 16 filhos: Ivone (Antônio), Maria  (Gaetano), Ivanir (falecido), Irene (Ezequiel), Ana (falecida), José Raimundo (falecido), Luiz (Fátima), Ione (Djalma), Hilda (Waldir), Vânia (Márcio), Carmem (Roberto), José Eduardo, Rosangela, Márcia, Marcos (Beatriz) e Mafalda. Eduardo deixa 11 filhos vivos, 26 netos e 11 bisnetos.

Das lides na Fazenda Boa Vista, na região dos Gobbo, Eduardo tirou o sustento dos filhos, que vieram estudar na cidade. “Os mais filhos cuidavam dos mais novos”, conta a caçula Mafalda, lembrando que periodicamente os pais vinham à cidade, mais por precisão. “Papai e mamãe não arredavam os pés da fazenda. Logo que os primeiros filhos começaram a estudar, eles compraram uma casa na cidade, na rua Afonso Pena, ali moramos, os mais novos sob os cuidados dos primeiros filhos, e eles dois continuaram na fazenda trabalhando juntos. Não gostavam de cidade”, conta Mafalda.

Essa persistência pela lide rural sempre foi respeitada pelos filhos. “Até mesmo após o falecimento de mamãe, ele permaneceu na fazenda, mas sempre sob os cuidados dos filhos. O Marcos tomava conta da fazenda e as filhas se revezavam nos cuidados com papai, especialmente depois que colocou uma prótese no quadril, por conta de uma fratura no fêmur. Mas sempre lúcido e bem humorado”, conta mais a filha, informando que o casarão da fazenda, cheio de escadas, foi todo adaptado por um genro, com cadeiras especiais e até elevador... “A  gente andava com ele de um lado para outro, ele não ficava parado”, conta. 

Nem mesmo nos períodos de convalescência, após algum tratamento, o velho Eduardo Prado ficava na cidade. “Logo já começava a reclamar: 'eu quero ir embora, eu quero ir pra minha casa'. E tínhamos que levar”, recorda.

Diz mais Mafalda que Eduardo nasceu e cresceu na fazenda Boa Vista, que herdou do pai.  E ali viveu as alegrias e a tranquilidade da vida campestre. Ao lado de Maria, foram 70 anos de profunda união. E como não havia TV naqueles bons tempos de antigamente, foram fazendo filhos. “Os primeiros dez filhos nasceram lá mesmo, com a parteira, vovó Ana Rosa, mãe de papai. E os outros seis, na cidade, com Dr. Fábio e Nininha. E foi assim que viveu. Sua vida foi sempre lá, até o domingo, dia 17 de fevereiro, quando ficou doente e veio pra Santa Casa, falecendo no dia 19”, lembra Mafalda, emocionada.  

Eduardo deixou o lugar onde nasceu e viveu apenas dois dias antes de morrer. “Papai veio no domingo, 17, com um problema de vesícula. Esteve internado sob os cuidados de Dr. Aloísio para fazer uns exames. Ele ia ter alta na terça-feira, mas aí apresentou uma complicação, tipo uma insuficiência respiratória. A saturação do oxigênio só foi baixando, baixando e ele se foi, serenamente. Papai morreu sereno como foi sua vida nesses 95 anos”, conta emocionada a filha Mafalda.

Mafalda recorda a figura sempre bem humorada do pai. “Papai era uma pessoa bem humorada, muito alegre. Não reclamava, não lamentava. Ficou muito baqueado com o falecimento de minha irmã, Ana, que morreu um mês antes de mamãe, há quatro anos. Mas logo papai superou, até porque estávamos sempre juntos, todos sempre presentes. Papai viveu uma vida muito bem vivida, valeu a pena. Sempre rodeado de filhos, genros, noras, netos, bisnetos e amigos”.

Recorda, sorrindo, que as festas na fazenda não precisavam de convidados. A família sozinha já reunião uma boa quantidade de convivas. “Reuníamos sempre no Natal, uma coisa que mamãe sempre fez questão a vida inteira e aí  era uma loucura. Só a família dava uma festa. Lembro-me do nosso tempo na fazenda, nas férias, as festas. Imaginem uma família descendente de italianos (pela mãe, Maria Gobbo), todos falando muito alto, rindo muito, contando piadas... Era muita felicidade... Foi uma vida muito feliz, muito plena a nossa ao lado de papai e mamãe”.

 Finaliza, Mafalda definindo a imagem que sempre teve do pai: “Papai foi um guerreiro, um batalhador, um lutador. Era um homem da roça, mas tinha uma visão muito grande, nos deu estudos e o maior dos exemplos, a honestidade. Papai foi exemplo e agora descansa em Deus, desfrutando de tudo o que plantou entre nós, e sua presença  permanecerá para sempre  em nossos corações e nas nossas orações”.